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ARTIGO

- Publicada em 26 de Junho de 2012 às 00:00

Opinião Econômica - Cannes, dez anos depois


FOLHAPRESS/JC
Jornal do Comércio
O Festival de Cannes a que deixei de ir há dez anos, estava ficando datado e dispensável. Com a internet e a convergência batendo à porta, ele se resumia a um festival de filmes e impressos, com cara de 1953, quando foi fundado. Dez anos depois, o festival mudou muito, e eu também. Ambos para melhor, acho.
O Festival de Cannes a que deixei de ir há dez anos, estava ficando datado e dispensável. Com a internet e a convergência batendo à porta, ele se resumia a um festival de filmes e impressos, com cara de 1953, quando foi fundado. Dez anos depois, o festival mudou muito, e eu também. Ambos para melhor, acho.
Deixei a publicidade em 1999 e montei um portal de internet grátis. Passei dois anos explicando aos meus amigos “mídias” que internet ia dar certo, que internet era o futuro. Investi numa agência de internet que estava começando, a Click, e ajudei muito para que ela tivesse no nascedouro oportunidades que o talento de seus sócios, Pedro Cabral e PJ Pereira, mereciam.
A Click ganhou o primeiro Grand Prix Digital do Brasil em Cannes e é ate hoje a grande dama do setor. Depois de cumprir o período de “non-compete”, voltei para a publicidade para ir desta vez além da publicidade e fazer um grupo de comunicação, não só de propaganda. Um grupo multiplataforma que fosse do anúncio ao entretenimento, das relações públicas ao design.
Recomecei do zero. Acertei muito, errei bastante. Abri empresas bem-sucedidas e tive de fechar outras rapidamente. Ou seja, o tempo que fiquei longe da propaganda e dos prêmios, o tempo em que namorei o sucesso e o insucesso, ajudou a me identificar mais com este festival de hoje do que com o finado festival do cinema publicitário de Cannes lá de 2002.
Ele é agora um festival de criatividade - e não só de comerciais de 30 segundos. É natural que o seja. A comunicação hoje é uma medusa. Para acompanhá-la, você tem de ter mais do que uma cabeça aberta, você tem de ter várias cabeças.
O festival que disputei psicoticamente até 2000 (com mais de 50 Leões, um Grand Prix e duas Agência do Ano), era voltado para publicitários e agências e foi virando um oba-oba de nós conosco.
Já o festival de hoje é do publicitário, do pensador, do “geek” de Palo Alto, do financista de Wall Street, do professor universitário. E ele conseguiu atrair os grandes anunciantes. O maior deles, a Procter & Gamble, foi premiadíssimo neste ano com a campanha “Mãe, o Melhor Emprego do Mundo”, aplaudida em delírio no “palais” do festival.
O CEO da Procter, Bob Mac-Donald, estava no camarote do prefeito de Cannes assistindo à cerimônia e à consagração do trabalho de marketing de seu CMO, Marc Prichet, e da fabulosa agência americana Wieden+Kennedy.
Cannes hoje é, portanto, um festival de grandes ideias e grandes negócios. Enquanto as categorias são julgadas, os 11 mil delegados assistem a palestras e participam de atividades das mais instigantes.
Aí também as agências, as Microsoft, Google e Facebook da vida, e os mega-anunciantes disputam a atenção do público. Quebrando a cabeça para trazer o “insight” mais inovador e provocar o maior impacto.
Para quem trabalha com marketing, é essencial ir a Cannes hoje. É caro, mas vale cada centavo. Não é mais só um festival, é curso de atualização, um debate de alto nível.
Volto de Cannes-2012 como sempre voltei: com as unhas todas roídas. Culpado de não ter assistido a todas as palestras e a todos os filmes. Inquieto porque, independentemente de uma de minhas agências ter ultrapassado a marca do centésimo Leão, haverá sempre um Dan Wieden que é maravilhosamente maior, bem maior que nós e que me deixa possuído por aquele maravilhoso ciúme que, em vez de roer nosso fígado, rói nossas unhas e nos tira da zona de conforto.
Sinto-me como bem disse Wieden ao receber o Leão de São Marcos (em homenagem a sua imensa contribuição ao setor): a mudança vem de todas as áreas da propaganda e de todos os cantos do planeta. Não tenho mais certeza de nada. E acho isso uma delícia.
Cannes é um festival renascentista que chega aos 60 anos no ano que vem muito mais jovem do que quando tinha 50.
Mais do que um centro de criatividade, é um centro de inovação. E independentemente do meu sucesso pessoal, volto de lá me sentindo pequeno, um merda comparado com o que vi no novamente grande festival.
Publicitário e presidente do Grupo ABC
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