O solo onde o setor coureiro-calçadista desenvolve seus negócios é árido. São diversas as intempéries que impedem boa parte dos empresários de colher bons frutos da produção, que caiu 8,4% em volume no ano passado, segundo levantamento da Associação Brasileira das Indústrias de Calçado (Abicalçados). Nesse universo de estiagem nas operações comerciais, algumas empresas se destacam por plantar novas sementes, com estratégias que estão vingando e florescendo. A segmentação do público-alvo, bem como investimentos em inovação, pesquisa e desenvolvimento e em eficiência fabril, é um dos itens que estão permitindo a uma fatia do setor não apenas fugir da seca, mas crescer e ganhar competitividade mesmo em um terreno hostil.
No 21º Salão Internacional do Couro e do Calçado, que começou ontem e segue até amanhã em Gramado, essas são tendências bastante evidentes. O diretor-executivo da Abicalçados, Heitor Klein, lembra que o momento é adverso e que inovação é a palavra-chave das companhias que conseguem ter um bom desempenho diante da estagnação do setor. “Inovação garante o crescimento e acontece em várias frentes, seja no campo do design, comercial ou de tecnologia”, afirma.
Uma das frentes observadas é o foco em públicos determinados. A Impeccabile, de Campo Bom, está há apenas dois anos no mercado, mas já definiu bem a estratégia: vender para as classes A e B produtos com valor agregado e fugir da concorrência “quase cruel” de quem vende para a classe média. Para isso, as tendências internacionais são as mais pesquisadas, na tentativa de adiantar para o mercado brasileiro aquilo que a vanguarda do design, principalmente a moda lançada na Europa, tem a oferecer. O diretor da companhia, Éde Sorgetz, assume que essa foi a saída encontrada para fugir dos entraves do setor.
Na Werner, especializada nos públicos de maior poder aquisitivo, além da busca de materiais e design diferentes, que caem no gosto de quem pode investir nos produtos, outro modelo foi adotado para garantir a presença maciça nas lojas mesmo diante da crise do setor. A companhia está fazendo seis lançamentos ao longo do ano, ou seja, a cada dois meses, as lojas acessam novos produtos, todos agrupados em coleções que podem servir tanto ao Brasil quanto ao mercado externo, que hoje tem uma fatia de cerca de 35% da produção da Werner. “Não queremos produzir commodities em calçados, mas oferecer produtos diferenciados”, diz o diretor comercial Werner Junior.
O diretor-executivo da Abicalçados, Heitor Klein, lembra que o direcionamento da produção para classes mais endinheiradas da sociedade pode ser uma das estratégias encontradas pela indústria, mas não a única. Ele aponta que com conhecimento sobre as demandas do seu público, as companhias podem crescer dentro de seus mercados. Esse movimento é liderado principalmente pela pesquisa e desenvolvimento, que ajudam a apontar qual o tipo de item que os clientes desejam e como chegar ao produto ideal. “Há oportunidades em todos os segmentos, depende o foco que a companhia dá a esse setor”, argumenta. “O consumo da classe C é o que mais cresce, e temos empresas que se destacam muito com esse público”, completa Klein.