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Ciência

- Publicada em 05 de Dezembro de 2011 às 00:00

Brasil irá desbravar o interior da Antártida


MARCELO G. RIBEIRO/JC
Jornal do Comércio
O professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) Jefferson Cardia Simões não sabe ao certo quantas vezes foi à Antártida, no polo Sul. “Esta deve ser a 19ª ou 20ª vez, já perdi a conta.” Quando diz “esta”, ele se refere a uma das mais importantes expedições da história do Programa Antártico Brasileiro (Proantar) e que terá início no dia 11. Ele e mais 16 cientistas, sendo 14 brasileiros, partirão de Porto Alegre e irão permanecer em torno de 50 dias na Antártida. Os pesquisadores integrarão a Expedição Criosfera.
O professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) Jefferson Cardia Simões não sabe ao certo quantas vezes foi à Antártida, no polo Sul. “Esta deve ser a 19ª ou 20ª vez, já perdi a conta.” Quando diz “esta”, ele se refere a uma das mais importantes expedições da história do Programa Antártico Brasileiro (Proantar) e que terá início no dia 11. Ele e mais 16 cientistas, sendo 14 brasileiros, partirão de Porto Alegre e irão permanecer em torno de 50 dias na Antártida. Os pesquisadores integrarão a Expedição Criosfera.
Simões, que é o coordenador-geral e científico da missão, destaca a importância do trabalho. “Essa é uma nova fase no Programa Antártico Brasileiro. Estamos comemorando neste verão os 30 anos dele e, finalmente, teremos uma instalação dentro do continente antártico”, afirma. O grupo irá instalar um módulo de pesquisa, análise e observação no interior do continente.
Todas as instalações brasileiras, até o momento, estavam localizadas na costa do continente. A primeira expedição nacional que avançou Antártida adentro foi feita recentemente, no verão de 2008/2009, também sob o comando do porto-alegrense de 53 anos de idade. “Agora iremos ampliar um pouco mais. Vamos colocar algo que ficará lá. Será o cantinho brasileiro a 2.500 quilômetros ao Sul da Estação Antártica Comandante Ferraz. Estaremos a cerca de 650km do pólo Sul geográfico”, destaca.
As condições que a equipe irá encontrar são as mais adversas possíveis. “É um platô desértico, não há vida lá”, ressalta Simões, que é o delegado brasileiro no Comitê Científico Internacional de Pesquisas Antárticas, órgão máximo da ciência antártica mundial. Os pesquisadores irão dormitar em barracas, se alimentando, principalmente, de enlatados e massas. A necessidade de uma dieta rica em carboidratos (por volta de quatro mil calorias em alguns dias) se dá em razão da grande perda energética dos cientistas. “O dia a dia é o de um acampamento, mas um acampamento polar, com temperaturas que irão oscilar de 15 graus negativos, quando mais quente, a 30 abaixo de zero, quando mais frio, com sensação térmica indo a 40, 50 graus negativos”, observa o doutor em Glaciologia pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra.
Um total de 6,5 toneladas de equipamentos foi enviado e já está em solo antártico. O grupo que integra a equipe é o único do Brasil habilitado para trabalhar no interior do continente. O custo da expedição é estimado em R$ 2 milhões, sendo cerca de 80% disso destinado para a logística.
A equipe realizará investigações sobre a química da atmosfera, glaciologia, geofísica e climatologia. O trabalho focará nas variabilidades do clima e no impacto da atividade humana na química da atmosfera. Entre as atividades específicas, destacam-se as que ajudarão a reconstruir a história climática da Terra, com a realização de perfurações de até 150 metros de profundidade no gelo para a retirada do que os cientistas chamam de “testemunhos de gelo”, que são camadas congeladas profundas que guardam uma espécie de arquivo das mudanças no clima já ocorridas.
Outra pesquisa analisará o transporte de poluentes da América do Sul até o centro antártico. “Já temos suspeitas de que os primeiros sinais das queimadas na América do Sul estão chegando à Antártida. Estamos colocando esta estação em um dos locais mais isolados do planeta para monitorar e ver se algum sinal já está chegando lá”, afirma Simões.
O pesquisador gaúcho, que também é professor da Universidade do Maine, nos Estados Unidos, aponta uma das áreas prioritárias do Proantar. “O gelo marinho, que é o mar congelado, é o maior fenômeno sazonal do mundo. O gelo marinho ao redor da Antártida oscila entre dois e 20 milhões de quilômetros quadrados, entre verão e inverno. Isso muda todo o clima do hemisfério Sul. O próximo passo é integrar esse fenômeno nos modelos do clima do Brasil.”
A chegada do grupo ao local do acampamento está prevista para ocorrer entre os dias 16 e 17 deste mês. O módulo brasileiro ficará no interior do continente pelos próximos quatro anos. Depois disso, retorna, será arrumado, e, se estiver em condições, volta para a Antártida. O Criosfera 1 tem vida útil prevista de 10 anos.

Para Simões, localização do Estado é uma das razões para o destaque da pesquisa gaúcha

A pesquisa científica moderna na Antártida começou em 1957. O primeiro mapa completo do continente só foi concluído em 1989, mesmo assim com baixa qualidade. A cobertura detalhada da geografia antártica só foi conhecida nos últimos três anos, com imagens obtidas via satélite.
Diante desse quadro, Simões não titubeia ao falar sobre o que já se conhece do continente de gelo. “Sabemos muito pouco. Estamos saindo da fase dos conhecimentos básicos descritivos e passando para as questões mais importantes, de como a Antártida regula o clima do planeta e como podemos usar esse conhecimento para melhorar modelos de previsão climática e fazer cenários de mudanças do clima, por exemplo”, destaca.
Jornal do Comércio - Existe degelo na Antártida?
Jefferson Cardia Simões - A pergunta não é se existe degelo na Antártida, e sim onde existe degelo. Na parte mais amena, que representa de 1% a 2% do volume de gelo da Antártida, estamos observando fenômenos rápidos de degelo, que contribuem, inclusive, para um pequeno aumento do nível do mar. Nos últimos 60 anos, a temperatura média nessa área aumentou três graus. Se compararmos com a média do planeta, de 0,8 grau a mais, aumentou bastante. Mas gosto de enfatizar que essa é a parte mais quente. O centro da Antártida é tão frio que não estamos observando nada disso. Tem lugares em que o gelo está a 60 graus negativos. Não será um aquecimento de três ou quatro graus que fará diferença.
JC – O que fez a Ufrgs se tornar o principal centro brasileiro de pesquisas antárticas?
Simões - A Ufrgs é um polo pela tradição da área de Geociências. Hoje, a pós-graduação em Geociências é a melhor do Brasil. Não posso negar, também, meu papel de liderança. Fui o primeiro brasileiro a se formar em Glaciologia. Isso possibilitou o crescimento de um grupo de pesquisas e possibilitará a construção do Centro Polar Climático. O fato mais importante, talvez, está em sermos o estado mais polar do Brasil. Nosso dia a dia é afetado e é isso que precisamos entender. Temos vários centros de pesquisa no Brasil que olham o clima para o Norte. A proposta do Centro Polar Climático da Ufrgs é essa, olhar para o Sul.
JC - Como a pesquisa antártica brasileira se insere no cenário internacional?
Simões - Estamos no meio do caminho. Somos líderes em qualidade científica na América Latina, mas ainda não ultrapassamos a maioria dos países do Bric. Estamos atrás da China, da Rússia e paralelos, na qualidade, com o programa da Índia. Isso é conse-quência da política do governo anterior, do Fernando Henrique Cardoso, que quase destruiu o Proantar. A partir do governo Lula, tivemos um grande investimento em ciência e tecnologia. Os resultados estão começando a aparecer. Creio que temos condições de ficar entre os dez melhores países envolvidos na pesquisa antártica.
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