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Coluna

- Publicada em 29 de Abril de 2011 às 00:00

Lope de Vega no cinema


Jornal do Comércio
O dramaturgo Lope de Vega é considerado o mais produtivo e o mais criativo, não só dentre os espanhóis quanto dos europeus, e não apenas do século XVII quanto de todos os tempos. Viveu uma vida verdadeiramente aventurosa, o que não o impediu de escrever e ver representadas as suas comédias, termo com que então se designavam obras que não fossem tragédias, mas que necessariamente não levariam ao riso. Lope de Vega foi capaz de imaginar uma nova cena teatral, com mais atores, com algum cenário, mas, sobretudo, com situações profundamente humanas e emocionantes, que empolgaram aos seus contemporâneos, mesclando tristeza e alegria como a vida cotidiana nos permite.
O dramaturgo Lope de Vega é considerado o mais produtivo e o mais criativo, não só dentre os espanhóis quanto dos europeus, e não apenas do século XVII quanto de todos os tempos. Viveu uma vida verdadeiramente aventurosa, o que não o impediu de escrever e ver representadas as suas comédias, termo com que então se designavam obras que não fossem tragédias, mas que necessariamente não levariam ao riso. Lope de Vega foi capaz de imaginar uma nova cena teatral, com mais atores, com algum cenário, mas, sobretudo, com situações profundamente humanas e emocionantes, que empolgaram aos seus contemporâneos, mesclando tristeza e alegria como a vida cotidiana nos permite.
O diretor cinematográfico brasileiro Andrucha Waddington tem em sua filmografia dois autênticos sucessos, Eu, tu, eles e Casa na areia, quando resolve investir num projeto internacional: filmar a juventude de Lope de Vega, numa produção espanhola, francesa e brasileira. O resultado, que se encontra nas telas de nossos cinemas nestes últimos dias, não é decepcionante, mas também não repete os acertos e as precisões anteriores. Nos dois filmes realizados antes, Waddington conseguiu não apenas contar uma história quanto transformá-la em uma metáfora da condição da vida humana. Em Lope isso não ocorre: se não faltou dinheiro ou ambientações para filmar, faltou a vivacidade e a liberdade criativa que são sua marca. Assim, o filme é bem feito, mas se desenrola burocraticamente, com excesso de primeiros planos e detalhes, que descontextualizam os personagens e diminuem o ritmo narrativo. O roteiro também não aprofunda a contribuição verdadeiramente inovadora do texto dramático de Lope, porque prefere focar suas aventuras amorosas, que são aqui sintetizadas na filha de Velasquez, primeiro diretor de companhia que monta suas peças (figura vivida por Sonia Braga), e numa jovem da nobreza, que se apaixona por seus versos e com ele foge, levando-o à prisão. Assim mesmo, algumas cenas decorrem num dos “corrales”, que era como então se chamavam estes lugares fechados, em um quase semicírculo, com um tablado mais alto, semelhantemente à cena shakespereana inglesa, em que os atores tinham de correr o risco de serem ovacionados ou literalmente agredidos com tudo o que a plateia tivesse à mão, se não chegassem a agradar-lhe, para não falar do fato de que uma companhia costumava infiltrar gente na plateia de outra companhia, para berrar e provocar reações contrárias, afim de garantir o seu próprio sucesso.
Andrucha Waddington certamente vai ficar benquisto na Espanha por conta de sua participação nesta oportuna homenagem ao dramaturgo do chamado “siglo de oro” espanhol, em que Espanha dominava Portugal e mantinha guerra frontal com a Inglaterra (o episódio da derrota da Grande Armada do rei espanhol católico foi visto em outro filme que, por seu lado, contava a história do corsário Francis Drake, de quem se dizia ser amante da rainha Elisabeth, no filme justamente assim denominado).
Mas Waddington não conseguiu, aqui, relacionar e aprofundar essas simbologias tão ricas do teatro daquele tempo, perdendo, assim, uma boa oportunidade de manter coerência em torno dos temas escolhidos, salvo a questão da paixão que enfrenta os costumes e quebra os parâmetros ditos normais, ditados pela sociedade.
De qualquer modo, e à falta de textos da dramaturgia espanhola daquele tempo a serem encenados entre nós, Lope mata um pouco a saudade: ambientes naturais, figurinos de época, algumas lutas de espada, o incêndio de um teatro, as fugas e os encontros amorosos proibidos, enfim, tudo isso dá movimento dramático à cena e agrada ao grande público, seja ele espanhol ou brasileiro, grande público para o qual, evidentemente, o filme foi feito, até pelo tratamento pundonoroso com que o diretor trata os relacionamentos amorosos. Vale ratificar que um artista trabalha em quaisquer condições, como bem o mostra o filme.
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