Brigida Sofia
MAURO SCHAEFER/ARQUIVO/JC
Livro retrata o parque preferido dos porto-alegrenses.
Possivelmente o parque mais simbólico da Capital, o Parque Farroupilha, ou Redenção, é o tema do livro Redenção (Paiol, 152 páginas, R$ 97,00), de Gunter Axt e Moacyr Scliar, que faleceu durante sua preparação. A obra integra a série Histórias de Porto Alegre. Mais do que um espaço propício para o chimarrão e para o Brique, o local já foi sede ou abrigo de uma infinidade de atividades de lazer, esportivas e econômicas, como corrida de cavalos, touradas, velódromo, exposições, estádio, auditório e universidade. Vários momentos estão registrados pela fotografia de Adriana Donatto, Dulce Helfer, Eurico Sallis, Luiz Eduardo Achutti, Flávio Wild e Pedro Longhi. A pesquisa histórica é de Caco Schmitt.
Axt explica que o entorno do parque é considerado parte integrante, pois a área que inicialmente ia da Praça Argentina até a avenida Venâncio Aires foi sendo ocupada aos poucos por instituições como o Colégio Militar, o Instituto de Educação, o campus da Ufrgs, o auditório Araújo Viana, o Monumento ao Expedicionário. “Vejo a Redenção como um milagre; a manutenção desta área verde até os dias de hoje”, afirma, destacando que o Hospital de Clínicas seria construído lá, o que não aconteceu devido à reação da sociedade porto-alegrense dos anos 1950, que já percebia a importância da manutenção de um recanto natural para a vida na cidade. Também tem o espírito da Redenção, a vida noturna do Bom Fim com o Bar Ocidente, a Lancheria do Parque, o Bar Lola e muito mais.
O Parque Farroupilha tomou forma de jardim nos anos 1940, combinando duas escolas paisagísticas: a francesa, mais ordenadora e aspirando dominar a natureza com jardins mais geométricos; e a inglesa, oposta a outra no sentido de aproximar o homem da natureza por meio de recantos sinuosos. A história oficial conta que em 24 de outubro de 1807 o governador Paulo Gama doou a chamada Várzea à Câmara de Vereadores, que tinha por incumbência medi-la e demarcá-la a fim de que a área não fosse alienada sem autorização régia. Já nos anos 1880, os Campos do Bom Fim converteram-se em ponto de partida para passeios de bicicleta pelos subúrbios. O ciclismo tornou-se a nova mania dos porto-alegrenses. Mas os tempos eram de mudanças, inclusive na política, e o movimento abolicionista teve muitos adeptos em Porto Alegre. Com isto, os Campos do Bom Fim em homenagem à luta em favor dos negros passaram a se chamar Redenção.
Os anos de 1910 foram de grandes transformações na estrutura da cidade, com a introdução de serviços como a coleta de lixo, a guarda municipal, o sistema de abastecimento de água, o serviço de esgotos, os bondes elétricos e outras tantas melhorias. Em 1914, no Plano de Melhoramento e Embelezamento da Capital é proposto um futuro parque, porém somente mais de uma década depois começam a surgir movimentações com o ajardinamento de parte dos Campos da Redenção.
Foi só nos anos 1930 que o Parque Farroupilha surgiu com este nome e como verdadeiramente um parque. Foi em função principalmente da exposição do centenário da Revolução Farroupilha, quando foram planejados cenários hollywoodianos para a área. Os pavilhões deixados pela festa foram removidos em 1938 e a área de lazer começou a tomar forma.
Em aberto
Nos últimos anos, a Redenção passou por mudanças e discussões. O crescimento da violência urbana trouxe a possibilidade de cercamento. O tema já era debatido há tempo quando, em 2010, a morte de um adolescente baleado durante uma briga de gangues relembrou o assunto. Para Gunter Axt, ninguém gosta de ver uma área verde fechada, pois isso restringe mobilidade, a liberdade de entrar e sair por qualquer parte, mas a opção pode ser útil. “É uma escolha difícil. Embora muitos técnicos sejam favoráveis, a comunidade aparentemente é contra e isso deve ser respeitado”, comenta.
Ele acredita que atualmente o parque está mais bem conservado que na década de 1980. A prostituição masculina na José Bonifácio permanece, mas em escala bem menor que nos ano 1990, quando provocava grandes desconfortos pelo tema ser tabu, o que não mudou. E é essa diversidade que marca a Redenção para Axt. “É interessante ver que múltiplos públicos frequentam. Temos jovens, famílias, esportistas, meninos de rua. Além dos eventos, como a Parada Gay”, diz o autor.