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participação

- Publicada em 29 de Março de 2011 às 00:00

Jovens querem assumir protagonismo na política


MARCO QUINTANA/JC
Jornal do Comércio
O mais novo órgão de participação de Porto Alegre, o Conselho Municipal da Juventude, reúne diversos segmentos da sociedade, cujos representantes têm muita vontade de ser protagonistas na política e de influenciar a vida dos jovens cidadãos.
O mais novo órgão de participação de Porto Alegre, o Conselho Municipal da Juventude, reúne diversos segmentos da sociedade, cujos representantes têm muita vontade de ser protagonistas na política e de influenciar a vida dos jovens cidadãos.
São 33 conselheiros - 21 da sociedade civil e 12 da prefeitura - com idade entre 15 e 35 anos que irão discutir políticas públicas voltadas a essa faixa etária. O grupo não se abala com a pouca experiência nem com a descrença dos jovens na política.
Também aceita o desafio de mudar a imagem do setor, desgastado a partir de denúncias de contratações sem licitação e irregularidades no Programa Nacional de Inclusão de Jovens (ProJovem), gerido pela Secretaria Municipal da Juventude (SMJ) - as denúncias foram alvo de investigação da Polícia Federal, estão no Ministério Público Federal e são discutidas por vereadores na CPI da Juventude na Câmara Municipal.
O Conselho da Juventude pretende mudar esse quadro com as experiências e a disposição de seus integrantes, que irão se reunir mensalmente - o primeiro encontro está marcado para o início de abril.
As novas lideranças da Capital concordam que o papel do conselho é maior do que pensar na cidade. Ele deve mudar mentalidades para que as transformações propostas agora sejam mantidas a longo prazo. Isso passa por politizar a nova geração, um grande desafio pelo qual eles estão dispostos a não medir esforços.
"As pessoas acham que a juventude cumpriu seu papel redemocratizando o País, mas hoje temos uma função diferente, que é tirar o jovem da frente do computador e mobilizá-lo a fazer parte das políticas públicas", sustenta o representante da União Estadual dos Estudantes (UEE-RS), Arthur Veiga, de 22 anos.
Na mesma linha, o secretário nacional da Juventude da Força Sindical, Jefferson Tiego, 28 anos, considera crítica a situação dos adolescentes, que confundem a descrença nos políticos com o ceticismo na política, o que corrói a possibilidade de renovação dos quadros de representação da sociedade. "Não há jovens oxigenando a política, e isso é muito preocupante para o nosso futuro."
Discordando dessa desilusão generalizada, o secretário estadual da Juventude da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Rodrigo Schley, 26 anos, - que mesmo no cenário mais complicado para o PT, à época do mensalão, ingressou no partido - avalia que o principal efeito foi a perda da "visão romântica", alimentada sobretudo pelos jovens.
De uma forma ou de outra, o dano causado ao idealismo da nova geração resultou no pouco que hoje se vê de militância juvenil nas ruas. Tiego lamenta a falta de movimentação contra os governos e observa que, assim como nos anos da ditadura militar (1964-1985), a revolta da juventude representaria uma pressão significativa sobre os políticos. Participação que mudaria, também, a perspectiva dos mais velhos sobre a nova geração.
Trata-se, na visão de Tiego, de um círculo vicioso, em que o preconceito dos mais velhos com a juventude, assim como a pouca atenção dada às suas ideias, é a causa e a consequência da rebeldia dessa faixa etária, que busca ser ouvida.
Deficiência que o novo Conselho Municipal da Juventude deve desfazer, com espaço suficiente para que cada uma das entidades discuta diretamente com órgãos da administração municipal e direcione as propostas. Tudo para conceber políticas e políticos de qualidade para a juventude atual e também para as futuras gerações.

Filiação a partidos políticos é um dos instrumentos de ação dos conselheiros

A participação em conselhos ou em qualquer entidade que contribua de alguma forma para a sociedade é comemorada pelos jovens como parte da militância política. É para alguns, no entanto, somente o passo inicial para algo que eles consideram maior: a filiação a partidos políticos, apontada por esses como a forma mais eficaz de influir na sociedade.
Essa parcela de novos líderes juvenis entende que a vida partidária significa, efetivamente, fazer política. "A pessoa pode ser do partido mais à esquerda ou mais à direita, mas ela deve ter uma posição política clara", defende o representante da União Estadual dos Estudantes (UEE-RS), Arthur Veiga.
Veiga é filiado ao PTB há três anos. Compartilha a visão de que são os políticos que têm o poder de decisão e tenta, junto à UEE-RS, estimular jovens a iniciar a vida partidária e romper com a tese de que as legendas não prestam. "Se cada estudante tivesse uma filiação ou uma visão política formada na escola, as pessoas saberiam em quem votar", pondera Veiga, que é vice-presidente da Juventude do PTB de Porto Alegre.
Jefferson Tiego, da Força Sindical, considera válidas outras ferramentas, mas avalia que somente se tem voz ativa em cargos eletivos. "É no partido que se consegue mudar a rua, o bairro, a cidade." Filiado ao PDT há três anos, ele escolheu a sigla por priorizar a defesa dos trabalhadores.
Mesmo a mais jovem representante do conselho tem influência partidária. Daniela Soares, que completa 15 anos em 2011, já é a delegada do Fórum Estadual de Comunidades Tradicionais de Matriz Africana e Segurança Alimentar (Forma-RS). Ela sonha chegar à Câmara Municipal de Porto Alegre. Mesmo com o intuito de ser psicóloga, Daniela acredita que poderá ajudar os jovens negros com mais efetividade assim que alcançar um cargo eletivo.

Atuação em entidades é alternativa

Boa parte das novas lideranças não acredita que a filiação a partidos seja o melhor caminho para fazer a diferença. Muitos jovens apostam em se destacar usando mecanismos da sociedade civil. "Temos desde grupos de jovens em igrejas até movimentos estudantis, que têm papel político", observa o secretário da Juventude da CUT, Rodrigo Schley, que é filiado ao PT. Ele destaca o Orçamento Participativo (OP) que, na sua avaliação, deveria se reformular para ser mais atrativo às novas gerações. Essas formas de participação são consideradas por alguns como parte de um processo de formação, funcionando como impulso aos jovens enquanto eles seguem desinteressados ou confusos com o mar de opções partidárias - às vezes contraditórias - do País.
Guilherme Narcizo, da Fundação Thiago de Moraes Gonzaga, foi militante do PT e do P-Sol, mas optou por atuar em um "movimento social de impacto". Narcizo diz que o caminho pode ser feito fora das siglas e cita o abaixo-assinado da fundação, que desencadeou o debate no Congresso que deu origem à Lei Seca.

Educação será prioridade nas discussões

Os conselheiros da juventude de Porto Alegre vêm de diferentes classes e segmentos sociais - são 21 entidades não governamentais -, porém viveram processos semelhantes até chegarem à representação da parcela mais nova da população.
A trajetória pela qual passaram lhes dá a segurança de dizer que o que os diferencia dos jovens não politizados é a educação.
Eles concordam que, mais do que permitir a qualificação profissional e a qualidade de vida - algumas de suas bandeiras -, um bom sistema educativo desenvolve também a consciência política. Por isso, pretendem batalhar para que essa seja a prioridade da administração municipal pelos próximos dois anos - tempo em que ficarão no cargo.
O secretário nacional da Juventude da Força Sindical, Jefferson Tiego, sugere que o conselho discuta métodos diferentes para renovar a área em Porto Alegre, como meios eletrônicos e eventos culturais, o que permitiria a abordagem da política com uma linguagem mais próxima à juventude.
Conforme ele, há um conjunto de fatores que acabam dificultando que os jovens se interessem pelo tema, como a linguagem e a má formação dos professores, que deveriam ser preparados para abordar o assunto no colégio.
Além disso, a educação poderia contribuir para a maior participação nas próprias escolas em um dos principais formadores de nomes políticos: os movimentos estudantis.
Quem inicia a militância estudantil no Ensino Básico costuma estender a participação política até a universidade.
Arthur Veiga, que atualmente integra a diretoria da União Estadual dos Estudantes (UEE-RS), deu o passo inicial na presidência do Grêmio Estudantil de seu colégio, no bairro Belém Novo. Há alguns anos, filiou-se ao PTB. Atualmente, é secretário-geral do DCE da União das Faculdades Integradas de Negócios (Unifim) e faz parte da diretoria da UEE.
O secretário da Juventude da CUT, Rodrigo Schley, fez parte do DCE da Ufrgs, onde estuda Economia. Para os jovens que não tiveram o mesmo envolvimento em escolas e faculdades, ele procura mostrar que nunca é tarde para fazer a diferença.
Na CUT, ele e os colegas realizam cursos regionais sobre formação política, para estimular o protagonismo dos jovens dentro do sindicato, outro caminho conhecido para se fazer ouvir pela sociedade.
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