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Entrevista especial

- Publicada em 10 de Agosto de 2009 às 00:00

Para Lara, Assembleia será pautada pela CPI até o fim do ano


CLAUDIO FACHEL/JC
Jornal do Comércio
O presidente do PTB no Rio Grande do Sul, deputado estadual Luís Augusto Lara, avalia que as discussões na Assembleia Legislativa até o final do ano serão pautadas pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar irregularidades no governo do Estado.
O presidente do PTB no Rio Grande do Sul, deputado estadual Luís Augusto Lara, avalia que as discussões na Assembleia Legislativa até o final do ano serão pautadas pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar irregularidades no governo do Estado.
Ele entende que isso é negativo, pois a apuração deveria ocorrer paralelamente ao debate de outras questões. “No primeiro semestre, a Casa não fugiu da miudeza, não tocou nos grandes temas. E, no segundo semestre, parece que também não. Perde o Estado como um todo”, critica.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Lara avalia que a inclusão de dois deputados estaduais na ação do Ministério Público Federal (MPF) enfraquece a Assembleia, explica por que o PTB continuará apoiando a gestão de Yeda Crusius (PSDB) e fala sobre a posição que o partido adotará na CPI.
Também relata a estratégia da sigla para as eleições de 2010 - o PTB vai priorizar a disputa nos legislativos e irá compor aliança para a majoritária - e revela o projeto do partido de chegar ao Palácio Piratini em 2014.
Jornal do Comércio - Com a instalação da CPI, como o senhor projeta o debate na Assembleia Legislativa neste semestre?
Luís Augusto Lara - Deve girar em torno da CPI. Serão quatro meses, até o final do ano, falando disso na Assembleia. É uma pena para o Estado, porque o Parlamento deveria discutir “também” a CPI e não “só” a CPI. No primeiro semestre, a Casa não fugiu da miudeza, não tocou nos grandes temas. E, no segundo semestre, parece que também não. Perde o Estado como um todo. Com o Executivo fragilizado, o Legislativo também fica fragilizado.
JC - E a inclusão de dois deputados estaduais - Frederico Antunes (PP) e Luiz Fernando Záchia (PMDB) - na ação de improbidade administrativa do MPF?
Lara - Fragiliza a Casa. A gente não sabe quais indícios existem contra os deputados. Temos que buscar a luz no processo, tirar o sigilo judicial é importante. E dar espaço ao contraditório. Mas fragiliza a Casa, que nesta legislatura passou por um momento muito difícil com a fraude dos selos, que enfraqueceu a imagem do Legislativo.
JC - Qual a posição do PTB em relação ao governo do Estado após a manifestação do MPF?
Lara - Vamos ajudar a esclarecer os fatos, buscar transparência a partir da dúvida levantada pelo MPF. E ajudar na governabilidade, com lisura e transparência.
JC - Mesmo com a ação do MPF, o plano do partido de só cogitar a saída do governo em 2010, visando às eleições, está mantido?
Lara - Está mantido. O MPF levantou um fato e nós, como deputados da base, vamos fazer a nossa parte de ajudar a governar e tornar as coisas transparentes. A ação do MPF não significa que a Justiça vá acatar a denúncia. Sair agora seria sentenciar o governo sem a chance do contraditório para clarear os fatos. E, se há dúvida em relação a algum ato, vamos esclarecer.
JC - Como será a postura do PTB na CPI?
Lara - De isenção. Uma posição quase de magistrado. Quem mais quer isenção e transparência neste momento é o governo. Queremos que as pessoas que cometeram algum crime sejam punidas, mas quem não praticou que não pague por isso.
JC - O PTB faz parte do governo municipal de José Fogaça (PMDB), do estadual com Yeda Crusius (PSDB) e do federal com Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Está em todos, mas não como protagonista.
Lara - PP e PMDB são assim também. O PDT era, mas saiu do governo Yeda. Infelizmente o que estamos vendo hoje em dia é uma verdadeira salada de frutas da política brasileira, uma cultura que foi feita ao longo dos anos e que também foi posta pelo próprio presidente Lula. Ele foi cooptando partidos pela coalização do governo.
JC - Mas em nível estadual, qual é a marca do PTB?
Lara - O PTB está buscando uma marca. Os trabalhistas perderam muito da sua identidade. Não posso falar pelo PDT, mas, pelo PTB, posso. O que falta na política nacional, estadual e, por consequência, na municipal e estudantil é coerência entre o que pregávamos e fazemos. O principal problema da política brasileira hoje é a falta de coerência e de capacidade de indignação no povo.
JC - Como o PTB está buscando uma marca no Estado?
Lara - Com a profissionalização do partido. Criamos um fundo, com a colaboração de todos os cargos de confiança (CCs) do PTB, inclusive, do Interior, para que o nosso partido se profissionalize. Esse fundo vai ser empregado numa plataforma de comunicação atualizada para o PTB se comunicar com os seus filiados, eleitores e simpatizantes. E, para divulgar as campanhas do partido, como a de emprego para portadores de deficiência. Além da profissionalização e organização, temos uma marca muito forte na ação social, a solidariedade.
JC - Qual é a estratégia do PTB para as eleições de 2010?
Lara - Temos um plano de metas e planejamento estratégico para 2010, 2012 e 2014. Em 2010, vamos participar das eleições majoritárias - ainda não sabemos se com vice ou senador. E vamos aumentar em 50% as nossas bancadas estadual e federal, elevando em 50% o número de candidaturas aos legislativos.
JC - Qual é a prioridade?
Lara - Aumentar a participação legislativa. Tivemos 42 candidatos concorrendo a deputado estadual em 2006, hoje temos 65. Para deputado federal, tivemos 27 candidatos, hoje temos 34. Ainda não chegamos a 50%, mas trabalhamos para isso com encontros regionais do partido. Não se pode falar em majoritária se não tiver uma chapa proporcional estruturada e forte. A sigla com 100 candidatos a deputado estadual para um candidato a governador representa 100 lideranças trabalhando em 100 municípios.
JC - Qual será o nome do partido para a disputa majoritária - governo e senado?
Lara - Temos 75 prefeitos e vice-prefeitos, deputados e vários ex-secretários de Estado. Não posso citar nomes, seria até indelicado.
JC - Além do partido da governadora Yeda Crusius (PSDB), PT e PMDB querem o apoio do PTB para 2010. Já há algum encaminhamento sobre isso?
Lara - Qualquer decisão seria desfavorável para nós. Fazer qualquer tipo de encaminhamento na majoritária seria, primeiro, feio e desleal, com a governadora.
JC - PSB, PDT e PP falam em uma nova via ao Palácio Piratini em 2010, com o PTB. Essa alternativa é mesmo possível?
Lara - A esta altura, tudo é possível. Não podemos excluir possibilidades nesse momento. Mas só vamos decidir isso no ano que vem, quando iremos avaliar a permanência ou não no governo, já com dados mais concretos, isto é, se a governadora será ou não candidata.
JC - E a partir daí?
Lara - Além de participar da majoritária, queremos passar de cinco para oito deputados estaduais. Em 2012, vamos ter 75 prefeitos e vice-prefeitos e mais 90 que concorreram aos legislativos estadual e federal que não se elegeram. Então, iremos com 160 candidatos a prefeito e vice-prefeito. Com isso, devemos aumentar em 50% o número de vagas nas prefeituras e câmaras. E vamos concorrer com candidatura própria à prefeitura de Porto Alegre - inclusive já colocamos isso ao prefeito José Fogaça (PMDB). E, em 2014, com a prefeitura de Porto Alegre, teremos candidatura própria ao governo do Estado.
JC - O objetivo do PTB é chegar ao Piratini em 2014?
Lara - Não descarto 2010, mas seria uma circunstância, uma eventualidade. Em 2014, é uma meta clara e específica. É o nosso planejamento.
JC - E qual é o papel do senador Sérgio Zambiasi (PTB) nas eleições de 2010? Ele não concorre ao Senado.
Lara - Para o que o Zambiasi vier estará ajudando o partido. O que não pode é o partido esperar pelo Zambiasi para se organizar. Ele tem o direito de escolher o que ele quer ser.
JC - E tem direito a não concorrer?
Lara - Zambiasi é o coringa. Se ele escolher qualquer cargo, ele ajuda, e muito. Se ele escolher não ir a cargo nenhum, certamente vai estar nas campanhas nos ajudando. O que não pode é o partido ficar, como esteve por muitos anos, na dependência dele.
JC - Qual sua avaliação da participação do PTB nesses três anos de governo Yeda.
Lara - O PTB tem uma participação ínfima em termos de cargos. Mas é equivalente ao que tem na Assembleia Legislativa - de quatro a cinco votos. Se não estamos em secretarias e órgãos de ponta do governo, também não somos a maior bancada. O PTB tem ajudado, mas não somos a linha de frente do governo, nem no Executivo, nem na Assembleia. Fomos, em determinado momento, a linha de frente do governador Germano Rigotto, quando tínhamos quatro secretarias de ponta. Secretaria de Turismo e de Administração (que o partido tem no atual governo) não são secretarias de ponta.
JC - O senhor acha que o diálogo com o governo era melhor naquele período?
Lara - Nosso diálogo com a governadora Yeda é bom. O que vem truncando algumas coisas dentro do governo é que, quando algo é formatado e vai avançar, ocorrem algumas mudanças e tem que começar tudo de novo. Na Casa Civil, isso foi muito comum acontecer. Teve Záchia, depois Cézar Busatto (PPS), e agora (José Alberto) Wenzel (PSDB). Em três anos, três chefes da Casa Civil. Essa é a maior dificuldade.
JC - Houve muitas mudanças no secretariado.
Lara - A descontinuidade e a troca de pessoal não é boa para a gestão. Mas, enfim, no entendimento do governo foi necessário. Tem o que é ideal e o que é possível. O governo está fazendo o que é possível.
JC - Qual sua avaliação do governo Yeda?
Lara - Em termos de gestão, desde que sou deputado, nunca vi nenhum governo pagar as contas em dia. E o governo Yeda está pagando as contas em dia. Os recursos estão chegando na ponta, como há muito tempo não víamos.
JC - Por exemplo.
Lara - Recursos para pagar o transporte escolar, o dinheiro para a saúde, que também está chegando, a verba para a merenda escolar, para a ação social. Enfim, o dinheiro está chegando na ponta. As estradas estão avançado com as obras em andamento. Em termos de gestão, tem muito pouco a acrescentar.
JC - E na parte política?
Lara - Em termos de política, o governo tem fragilidades. Mas o que interessa ao povo é a gestão. A política é o que harmoniza os relacionamentos. E é essa harmonia que está fazendo falta no governo.
JC - Ainda falta articulação?
Lara - Falta harmonia, tanto com a sua base, quanto com a Assembleia, a oposição, a população, as entidades de classe, os funcionários públicos. Buscar essa harmonia seria vantajoso ao governo. As coisas não estão claras para a população e para os funcionários públicos em vários temas. E, com isso, se ameaça por exemplo, um plano de carreira para o funcionalismo público. Para que ameaçar? Ou faz um plano e mostra para todos e se vê se há condições de votar ou não se faz. O que não pode é ficar ameaçando: “Olha que agora vai ter o plano”. Tem gente que não dorme de noite, trabalhou mais de vinte anos e pensa em se aposentar mais cedo porque, se trocar o plano de carreira, está ralado. O PTB tem procurado somar nessa questão de harmonizar mais.
JC - No âmbito municipal, na prefeitura de Porto Alegre, a Polícia Civil apurou o pagamento de propina de R$ 100 mil na Secretaria Municipal de Saúde (SMS), que é comandada pelo PTB. Qual foi o encaminhamento que o partido deu a esse episódio?
Lara - Solicitei ao presidente metropolitano do PTB, (José Carlos) Brack, que abrisse sindicância e que afastasse essa pessoa (o então assessor jurídico da SMS, Marco Antônio Bernardes), que diz que foi em nome do partido, conforme ele, solicitar auxílio e recursos (a uma empresa que prestava serviço de segurança para a secretaria). Os recursos que o partido solicita são para o período eleitoral e são feitos somente pelo seu presidente a eventuais empresas ou empresários.
JC - E como ficou resolvido o caso?
Lara - É bom aproveitar para deixar isso claro. Ninguém na esfera estadual ou municipal, que não seja o presidente, está autorizado a solicitar recursos ao partido. Qualquer outra pessoa que for solicitar recursos em nome do partido está desautorizada. Provavelmente, esteja solicitando para ela. Em nome do partido, só fala o presidente. Isso é importante. Recebi do Brack a informação de que ele abriu a investigação e a sindicância, que afastou essa pessoa do partido.
JC - Então a questão foi resolvida internamente pelo partido?
Lara - Ele foi afastado do cargo (na Secretaria de Saúde). Não está mais na prefeitura de Porto Alegre. Pedi, em uma reunião que fizemos com a metropolitana, o afastamento dessa pessoa do partido até que ele prove que não era aquilo (recebimento de propina) o que aconteceu. Porque, pelo que vimos, pelo que tivemos condições de ver, foi montada uma situação para pegá-lo em um flagrante. O que parece, no primeiro momento, é que houve um flagrante. Parece, porque eu não ouvi, a gravação não tem áudio, só aparece a imagem. À primeira vista - não quero fazer prejulgamento -, dá a entender que foi isso que aconteceu.
JC - Mesmo sem o áudio, a conclusão da investigação da Polícia Civil sobre o caso, depois de ouvir os envolvidos e ver o vídeo feito pelo diretor da empresa que prestava serviços, é de que houve pagamento de R$ 100 mil em propina na secretaria.
Lara - É um indício fortíssimo. E demos esse encaminhamento, pelo que me disse Brack, presidente municipal.
Perfil
Luís Augusto Lara tem 40 anos e é natural de Bagé. Aos 17 anos se tornou empresário, comandando um restaurante. Depois, passou a trabalhar com eventos, primeiro na cidade natal e depois em municípios da região e até em Punta del Este (Uruguai) e Buenos Aires (Argentina). Aos 20 anos, já empregava algumas dezenas de pessoas em seus negócios e era bastante conhecido, o que lhe rendeu convites para ingressar na vida política. Como seus amigos eram do PDS, filiou-se à sigla em 1990. Concorreu a vereador em 1992 e obteve vaga na Câmara Municipal. Lara destaca sua campanha pela redução do salário dos parlamentares neste mandato.
Em 1997, o PDS já tinha virado PPR (hoje é PP), e Lara, reeleito vereador, decidiu sair do partido e fundar o PTB em Bagé - está na sigla até hoje. Em 1998, elegeu-se deputado estadual e foi reeleito em 2002 e 2006. O deputado estadual se licenciou do Parlamento para assumir a Secretaria de Estado do Turismo, Esporte e Lazer, no governo do peemedebista Germano Rigotto (2003-2006) e no início da gestão de Yeda Crusius, em 2007. Retornou à Assembleia em fevereiro de 2008. No mesmo ano, foi eleito presidente estadual do PTB, para comandar a sigla de 2009 a 2012.
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