A meta de inflação de 2010, que era de 4,5% pelo Índice de Preços ao Consumidor no Atacado (IPCA), não foi atingida. Estourou e pode chegar a 6% ou mais. Isso é preocupante, mesmo que se dê um desconto pelo incrível aumento do consumo que ocorreu em 2010, no rastro de mais emprego e renda dos brasileiros. Apenas em dezembro do ano passado, por exemplo, mais 1,5 milhão de pessoas que viajou de avião. Então, quando a oferta de produtos e serviços é menor do que a demanda, os preços sobem. Essa lei da oferta e da procura jamais foi ou será revogada, embora a hilária tentativa, em tempos passados, de um parlamentar, que motivo de galhofa e piada Brasil afora. O único remédio é o corte dos gastos públicos, que descambaram nos últimos dois anos do governo Lula. Ainda que aceitando a premissa de que o consumo manteve a atividade econômica forte e, com isso, os empregos, a renda e equilibrando o País em meio à crise globalizada de 2008/2009, temos que reverter a tendência da espiral inflacionária.
Aliás, a equipe econômica aceitou que essa meta pode ser menor do que os atuais 4,5% pelo IPCA. Mas falar em diminuir antes de atingir o centro da meta é colocar a carreta na frente dos bois. Alguns debochavam, há alguns anos, da chamada “economia do clips”, quando chefes de repartições públicas pediam menos uso de material de expediente, incluindo esses prendedores de papéis. Mas é por aí que se começa a economizar. Gastar menos água, luz, combustível, tinta de impressoras, telefonemas, principalmente em celulares, os mais caros e assim por diante. Ainda bem que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou que haverá “uma redução razoável de gastos” em 2011. O fato é que devemos desembocar numa redução razoável de gastos. “Mas não tem parâmetro”, disse, ao comentar que os números que têm saído na imprensa não estão corretos. “Tudo o que a gente conseguir reduzir, nós faremos.” Mantega explicou que essa redução do gasto público faz parte “de um movimento cíclico da economia”. “Saímos da fase de recuperação da economia, onde o Estado teve de gastar mais. Agora, estamos em outra fase, que o Brasil está consolidado e a economia pode caminhar com seus próprios pés e não precisa tanto do estímulo fiscal”, afirmou o ministro Mantega. “Vamos reduzir o estímulo fiscal. Portanto, a demanda pública vai diminuir, abrindo espaço para que a investimento privado cresça”, afirmou. “Agora, o Estado pode sair, reduzir o peso e vamos ter um resultado fiscal maior”, disse o ministro, que passou do governo Lula para o de Dilma Rousseff, dando uma quase certeza de que haverá uma saudável continuidade na área econômica. Apesar de o menor peso da presença estatal na economia, a equipe econômica acredita piamente que o crescimento continuará e que o PIB deve ter expansão em torno de 5% em 2011. Haverá uma reacomodação da política monetária e fiscal, segundo ainda Guido Mantega, quando comentou a mudança do jogo de forças que deve manter o mercado aquecido neste ano. Portanto, somente com a assepsia nas contas públicas, com cortes preventivos e austeridade é que poderemos sonhar com juros mais baixos. Ou, então, a inflação será a nossa herança maldita após a gastança de 2009/2010.
Editorial