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Coluna

- Publicada em 20 de Agosto de 2010 às 00:00

Uma nova Chapeuzinho ainda incompleta


Jornal do Comércio
Fiz um levantamento, há alguns anos, sobre as múltiplas variantes que a história de Chapeuzinho Vermelho possuía, tanto em versões dirigidas à infância quanto em versões adultas. Lembremos que a primeira versão conhecida vem de Charles Perrault. A mais popular, contudo, é a dos Irmãos Grimm. Mas Guimarães Rosa, só para dar um exemplo, inspirou-se neste texto para seu conto Fita verde no cabelo, em que uma menina assiste à morte da avó; Deonísio da Silva escreveu um engraçadíssimo e paródico A melhor amiga do lobo; Chico Buarque produziu Chapeuzinho amarelo, que inclusive virou peça de teatro, e há até uma versão que transporta Chapeuzinho Vermelho quer para as calçadas de Copacabana, quer para o centro de Nova Iorque, imaginem...
Fiz um levantamento, há alguns anos, sobre as múltiplas variantes que a história de Chapeuzinho Vermelho possuía, tanto em versões dirigidas à infância quanto em versões adultas. Lembremos que a primeira versão conhecida vem de Charles Perrault. A mais popular, contudo, é a dos Irmãos Grimm. Mas Guimarães Rosa, só para dar um exemplo, inspirou-se neste texto para seu conto Fita verde no cabelo, em que uma menina assiste à morte da avó; Deonísio da Silva escreveu um engraçadíssimo e paródico A melhor amiga do lobo; Chico Buarque produziu Chapeuzinho amarelo, que inclusive virou peça de teatro, e há até uma versão que transporta Chapeuzinho Vermelho quer para as calçadas de Copacabana, quer para o centro de Nova Iorque, imaginem...
Não é de causar surpresa, pois, que o dramaturgo e diretor Ronald Radde tenha resolvido fazer sua própria leitura de Chapeuzinho Vermelho, que pode ser conferida em espetáculo estreado há duas semanas, no DC Navegantes. Ali, atualiza-se a historieta, sendo que Chapeuzinho tem pai e mãe, não gosta de ir à casa da avó para buscar os docinhos que ela faz e, vivamente, sabe-se defender muito bem do Lobão, que até nem é assim um personagem tão malévolo quanto estamos acostumados.
Na adaptação de Radde, as coisas terminam bem. Até o Lobão, desempregado, arranja emprego, enquanto Chapeuzinho retorna para casa arrependida de ter desobedecido à mãe e saído para a floresta sozinha.
A produção de Ellen D’Avila foi extremamente caprichada. O cenário de Júlio Freitas é muito bonito. Não só ocupa todo o espaço do enorme palco do Teatro Novo, quanto é bem flexível, permitindo que seus elementos sejam puxados por cordas para fora da cena, ou sejam afastados, rapidamente, por exemplo, quando a floresta dá lugar à casa da Vovó.
Os figurinos coloridos seguem padrão da história, mas a estilização do Lobão, por exemplo, é muito equilibrada. Titi Lopes conseguiu criar um padrão de bom acabamento, que combina muito bem com os cuidados cenográficos. A trilha sonora de Alvaro RosaCosta, com letras do próprio Ronald Radde, mantém a referência ao filme de Walt Disney, mas muda o ritmo, modernizando-o e dinamizando-o, de sorte que pode ser facilmente reconhecida pela gurizada, mas com outra sonoridade. A coreografia de Saionara Sosa garante leveza a Daiane Oliveira, que interpreta Chapeuzinho, e faz com que os demais personagens se movimentem em cena com naturalidade, até Daniel Anillo, que vive o pai e Lobato, o personagem malvado da história.
Em suma, o espetáculo, em que pese sua duração menor - cerca de 45 minutos -, é alegre, movimentado e prende literalmente a atenção da gurizada, que fica surpreendida com as novas referências do enredo. Radde esforçou-se por reconfigurar e atualizar a história. Na primeira parte vai bem: a mamãe está presente; a referência ao pai é explícita (e ele aparece mais tarde); Chapeuzinho é uma menina facilmente reconhecível por qualquer criança da plateia. No entanto, quando Radde resolve introduzir temas contemporâneos e críticos, se perde. O enredo esmaece. Por exemplo, Lobato aparece em cena num único momento e depois nunca mais tem qualquer intervenção na cena. A própria Vovó Guida poderia ser mais explorada, assim como a esperteza de Chapeuzinho poderia gerar outras situações hilárias ou de pedagogia, mais ou menos explícita, no espetáculo, que Radde não chega a explorar. Sente-se que o dramaturgo está acanhado, parece não saber como aprofundar a psicologia do personagem e perde a oportunidade de algumas situações engraçadas, não em termos de trocadilhos ou alusões a fatos imediatos da contemporaneidade, mas valendo-se do próprio contexto dramático desdobrado.
De qualquer modo, o espetáculo, que perde um pouco de ritmo pela metade (isso precisa ser relativizado, pois assisti ao trabalho na tarde de estreia, o que é sempre complicado), retoma-o ao final e, de modo geral, agrada à gurizada para quem, em última análise, foi escrito e idealizado. Mas acho que Radde poderia aproveitar e, terminada a temporada, rever o texto, dando-lhe melhor e mais variado desdobramento, enriquecendo-o, enfim, já que teve a boa ideia de buscar renovar a história tradicional.     
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