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Coluna

- Publicada em 16 de Julho de 2010

Planos e sequências

Espectadores veteranos andam reclamando, nos últimos tempos, sobre a falta de obras realmente expressivas nas telas do cinema.  Os mais atentos, certamente, não o fazem por saudosismo, até porque filmes extraordinários já foram produzidos no século XXI. Só neste ano, aqui em Porto Alegre, foram exibidos títulos como Ervas daninhas, A fita branca, O segredo dos seus olhos e Aproximação. É uma boa média, mas não há dúvida de que o mercado anda se ressentindo da falta de filmes de qualidade superior, daqueles que, mesmo não sendo obras-primas, são capazes de atrair a atenção dos mais exigentes. O fenômeno é evidente e sua causa principal, sem dúvida, é a transformação do cinema norte-americano numa fábrica de entretenimento, uma espécie de parque de diversões. Como sempre dominou o mercado, o cinema de Hollywood não é mais o que foi em décadas passadas, quando dezenas de diretores importantes não paravam de trabalhar, alguns realizando mais de um filme por ano. Hoje, a fonte que mais abastece o mercado conta com um reduzido nome de realizadores significativos: Clint Eastwood, os Irmãos Cohen, Martin Scorsese, Woody Allen, Paul Thomas Anderson. Filmes de qualidade são realizados na Europa e na Ásia, mas são poucos os que aqui chegam. Num mercado exibidor onde a ousadia não predomina é natural, portanto, que os espectadores mais atentos percebam sinais de decadência. Mas o que acontece realmente é o domínio do cenário por aquela parte do cinema voltada apenas para o artifício permitido por novas tecnologias.

Viajo porque preciso, volto porque te amo, realizado por Marcelo Gomes e Karin Aïnouz, recoloca na tela a prática de utilizar a câmera subjetiva, um recurso que havia sido utilizado em l947 pelo diretor e ator Robert Montgomery em A dama do lago.  Naquele trabalho, baseado em novela de Raymond Chandler, tendo o próprio autor como um dos roteiristas, só em um curto plano víamos a imagem do personagem principal, o detetive Phillip Marlove, refletida num espelho. No filme brasileiro o narrador-protagonista não aparece. Tanto antes como agora, o personagem se transforma no espectador. Mas a essência do cinema se encontra na relação entre personagem e cenário, a síntese do conflito entre o indivíduo e o mundo. Trata-se de uma tentativa clara de fazer com que o espectador se sinta como o personagem. Mas também é uma atitude que procura apagar da tela a figura do ator, outro recurso básico de nossa arte, enquanto narrativa de ficção. O trabalho de Gomes e Ainouz pode ser enquadrado no gênero filme de estrada, ao qual pertence o trabalho anterior do primeiro cineasta, Cinema, aspirina e urubus. O filme, evidentemente, se aproxima também do documentário. Voltando à câmera subjetiva: em l954, Robert Wise utilizou tal recurso na sequência inicial de Um homem e dez destinos. Mas depois do prólogo voltava à narrativa que não impede o espectador de ver personagem e cenário.

O filme Avatar, de James Cameron, tem sido apontado como o campeão mundial de bilheteria. Isso é verdade, se for considerada a quantia arrecadada, mas dá a impressão que aquela fantasia foi o título que mais atraiu público ao cinema. Na verdade, Avatar está muito longe dos verdadeiros campeões, aqueles que tiveram as maiores plateias. Tal lista continua sendo liderada por E o vento levou. No entanto Cameron tem outro filme seu naquela lista, Titanic. Aqui no Brasil, tal trabalho dificilmente será superado, pois foi visto nos cinemas por mais de 18 milhões de espectadores. O segundo colocado, Tubarão, de Steven Spielberg, chegou aos 13 milhões. Dona flor e seus dois maridos ultrapassou 12 milhões.