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Recursos Humanos

- Publicada em 12 de Julho de 2010 às 00:00

Demissão adequada deve ser na sala do chefe


Fredy Vieira/JC
Jornal do Comércio
No dia 4 deste mês, enquanto os torcedores brasileiros ainda amargavam a derrota por 2 a 1 para a seleção holandesa nas quartas de final da Copa do Mundo da África do Sul, o técnico Dunga - além de lidar com a responsabilidade pelo resultado - era demitido pelo presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira. Diferentemente de trabalhadores que são chamados à sala do chefe ou ao setor de recursos humanos para acertar as contas, o ex-jogador ficou sabendo da novidade por telefone. Ao mesmo tempo, a CBF anunciou a demissão dele e dos demais integrantes da comissão técnica por meio de uma nota na internet.
No dia 4 deste mês, enquanto os torcedores brasileiros ainda amargavam a derrota por 2 a 1 para a seleção holandesa nas quartas de final da Copa do Mundo da África do Sul, o técnico Dunga - além de lidar com a responsabilidade pelo resultado - era demitido pelo presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira. Diferentemente de trabalhadores que são chamados à sala do chefe ou ao setor de recursos humanos para acertar as contas, o ex-jogador ficou sabendo da novidade por telefone. Ao mesmo tempo, a CBF anunciou a demissão dele e dos demais integrantes da comissão técnica por meio de uma nota na internet.
Para especialistas, o caso do técnico não pode ser tomado como exemplo do que acontece na prática, e sim como um caso específico e isolado. Ainda assim, a forma como se deu seu desligamento, aplicada a qualquer outro colaborador, é considerada inadequada. "Foi uma falta de respeito muito grande, não se faz isso com nenhum ser humano. Mesmo questionando o desempenho do profissional, a forma como Dunga foi demitido é condenável", afirma a consultora organizacional da Human Brasil Taís Cardozo.
Ela explica que a demissão deve contar com os mesmos cuidados que o processo de contratação, levando em conta, principalmente, a dignidade de quem está deixando o posto. Caso contrário, as consequências podem ser traumáticas para o trabalhador, causando desde queda na autoestima até casos mais graves, em que são verificadas ocorrências de depressão e dificuldade de recolocação do mercado de trabalho. Para que não haja um desconforto nesse momento, o ideal é que o chefe ou diretor convoque a pessoa em questão e, pessoalmente, pontue as razões que levaram à decisão de sua saída.
Mesmo sendo o procedimento mais adequado, muitas vezes a demissão não ocorre de acordo com esse padrão. Assim foi o caso de um publicitário paulista de 41 anos, hoje residente em Porto Alegre, que prefere não se identificar. Depois de se mudar para a Capital gaúcha com a esposa, ele entrou para a equipe de uma agência de propaganda em agosto de 2008, sem vínculo formal. A falta de carteira assinada não impediu que o profissional respeitasse horário e obrigações. "Em pouco tempo, reparei que a empresa não ia muito bem e comecei a procurar por outro emprego", relata.
Eis que, no mês de agosto do ano passado, em um domingo, ele recebeu a notícia de sua demissão. A escolha do final de semana não foi o único fato inusitado do afastamento. "Nesse dia, recebi um SMS do celular da sobrinha do dono da empresa, dizendo que não precisava ir no dia seguinte. Foi uma coisa surreal, tenho a mensagem guardada até hoje", lembra. O profissional acrescenta que considerou a ocorrência "absurda e estarrecedora". "O mínimo que a gente espera numa situação dessas é o diálogo."
A expectativa do publicitário não é única, mas condição apontada como fundamental por quem trabalha com o desligamento de pessoal no meio corporativo. A consultora sênior da RH Internacional, Débora Cláudia Mânica, observa que é necessário o entendimento do colaborador sobre o motivo da demissão. "Tem que haver um procedimento padrão. O chefe deve sinalizar por que a pessoa está indo embora, até para que possa avaliar e melhorar seu desempenho futuro."

Para ambos os lados, o ideal é que a transparência seja a regra em processos de desligamento

Uma estratégia que vem sendo adotada para tornar o processo de demissão menos doloroso é a entrevista de desligamento. Na ocasião, os líderes e o trabalhador a ser demitido debatem os pontos negativos verificados em seu desempenho, assim como as melhorias que podem ser aplicadas no ambiente corporativo a partir dessa experiência. O novo modelo é indicado tanto para o chefe que demite quanto para quem pede demissão, sempre levando em conta a transparência sobre os fatos.
"Essa entrevista é muito valiosa quando é bem conduzida, pois o colaborador pode dar o feedback do que percebe de bom e de ruim", diz a vice-presidente de eventos científicos da Associação Brasileira de Recursos Humanos no Rio Grande do Sul (ABRH-RS), Ligia Nery da Silveira. Ela coloca, ainda, que o mercado de trabalho é dinâmico, e que um bom processo de demissão é necessário para evitar constrangimentos posteriores, caso os caminhos dos envolvidos voltem a se cruzar.
"É uma cadeia produtiva, todo mundo está ligado, por isso é bom preservar ao máximo as pessoas." Ligia também está à frente da DCO Consultoria, que realiza um trabalho de gestão voltado para o desligamento no ambiente empresarial. Para ela, um projeto na hora de demitir é um pressuposto básico, que gera uma relação de respeito e carinho.
O uso dos meios digitais em uma situação considerada tão pessoal também vem ganhando maior espaço na discussão. O tema é polêmico, já que muitos consultores acreditam que não há como fugir do cara a cara nessa hora. Ligia, no entanto, tem uma visão diferente da questão.
Segundo a especialista, assim como a internet vem sendo amplamente usada como ferramenta de recrutamento, revelando grandes talentos em redes sociais, no futuro ela pode ser integrada no momento do adeus. "Eu acho que talvez demore, mas antes as pessoas não eram contratadas pela internet e hoje são, então provavelmente também passem a ser demitidas por esse meio", sugere.
Já a consultora sênior da RH Internacional, Débora Cláudia Mânica, aponta que o método começou a ganhar força na Europa, mas como apresentou resultados negativos, não teve sucesso. "Isso se torna tão traumatizante que cabe até mover ações judiciais contra a empresa. Não é uma questão ideal, por mais que se tenha essa possibilidade."
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