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Coluna

- Publicada em 28 de Maio de 2010 às 00:00

Poesia densa em cena reúne bonecos e atriz


Jornal do Comércio
Está lá, não ocupa mais que cinco páginas do livro Doze reis e a moça no labirinto do vento, que Marina Colasanti publicou em 1982, pela Editora Nórdica, com ilustrações - belos desenhos - dela mesma. A moça tecelã abre o volume. “Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria”, pode ser a síntese do conto, um conto de fadas, em que a mulher sente a solidão, em determinado momento, e assim como tudo o que tecia acontecia, também teceu o marido. Mas esqueceu que o sentimento não pode ser tecido. O marido era egoísta e mau e ela o desteceu.
Está lá, não ocupa mais que cinco páginas do livro Doze reis e a moça no labirinto do vento, que Marina Colasanti publicou em 1982, pela Editora Nórdica, com ilustrações - belos desenhos - dela mesma. A moça tecelã abre o volume. “Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria”, pode ser a síntese do conto, um conto de fadas, em que a mulher sente a solidão, em determinado momento, e assim como tudo o que tecia acontecia, também teceu o marido. Mas esqueceu que o sentimento não pode ser tecido. O marido era egoísta e mau e ela o desteceu.
Paulo Balardim, o diretor de A tecelã, tomou a ideia central do tecimento e transformou o conto em sugestão para um espetáculo tão poético quanto o texto original, contando para isso com três elementos que sustentam o trabalho: a) a experiência do bonequeiro, aqui também às vezes transformando sua personagem em ilusionista que faz aparecer/desaparecer objetos à frente dos olhos da plateia que só pode se abismar com a destreza das mãos que engana o seu olhar; b) a excelente trilha sonora de Nico Nicolaievsky que, decidido a se distanciar de seu sucesso teatral de décadas, trata de avançar em outras experiências, como essa, que dá base e alma para todo o espetáculo, partindo da melodia de flauta e de piano para linhas melódicas mais contrastantes; c) e, claro, a interpretação com alma profunda de Carolina Garcia que, contando com a perfeita manipulação de bonecos de Alice Ribeiro e Rita Spier, faz um verdadeiro bailado em cena, combinando o poderoso vestido vermelho com o desvanecimento das imagens que cria e descria continuamente em cena.
Tudo isso transforma os cerca de 50 minutos de duração do espetáculo num sonho absolutamente inesquecível, que a gente gostaria de sonhar de novo tão logo a cortina do palco se fecha e as pessoas começam a aplaudir, entusiasmadas.
Eis aqui um autêntico trabalho de (re)criação teatral, em que, à sensibilidade do texto soube corresponder a sensibilidade de quem conhece a gramática das artes cênicas, e sabe, como a escritora, sonhar com imagens: uma, pelas palavras; o outro, pelos movimentos.
O grupo Caixa do Elefante tem somado premiações variadas. Mas quem realmente ganha um prêmio, no caso de A tecelã, é o público, brindado com um trabalho raro pela leveza, pela criatividade, pelas soluções perfeitas encontradas e perfeitamente executadas. Andou bem o júri da Funarte, tanto quanto o do Fumproarte, em conceder auxílios financeiros a este trabalho. O financiamento permitiu ao grupo concretizar em seu todo a ideia apresentada. Mas, evidentemente, não foi o financiamento que permitiu a inventividade.
A esperar que o grupo inicie temporada normal de seu trabalho entre nós, quero deixar aqui, no espaço da coluna que ao longo dos anos vem acompanhando a produção teatral porto-alegrense, o respeito e o entusiasmo por este tipo de trabalho. Não tenho nada contra o chamado teatro comercial, e isso o tenho demonstrado aqui. Mas é muito bom quando a gente vai ao teatro e encontra um trabalho de Teatro, assim, com T maior, mostrando a magia que, desde sempre, marca esta arte que é a do mostrar em cena aquilo que, através da palavra, costuma-se narrar.
Foi feliz Paulo Balardim na ideia, e com sua equipe, na concretização dela. Renasce em todos a crença de que a tecnologia à disposição da inspiração é um bom caminho de criação: aqui, a cortina de luz (Bathista Freire e Daniel Fetter) que funciona à perfeição; o espaço cênico de Juliano Rossi e Paulo Balardim, que é envolvente; os figurinos vibrantes e luxuriosos de Margarida Rache; o trabalho videográfico de Carlos Teston, Leonardo Gobbi, Fabiana Beltrami, Alessandro Lorenz e José Derli; o ilusionismo de Eric Chartiot e a preparação vocal de Marlene Goidanich: tudo bem alinhavado, como a boa tecelã o faz, misturando tecnologia de ponta e tradição de espetáculo de bonecos, num resultado equilibrado e altamente poético.
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