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futebol

- Publicada em 17 de Fevereiro de 2010 às 00:00

Os números invadem o gramado


Fredy Vieira e João Mattos/JC
Jornal do Comércio
Desde a instituição do sistema de pontos corridos no Campeonato Brasileiro, em 2003, o futebol nacional ganhou um tempero ainda mais gaúcho. Nos últimos seis anos, os times da dupla Grenal foram os que mais cresceram em faturamento. O Internacional tem a segunda maior receita do futebol brasileiro, atrás apenas do São Paulo. O Grêmio é o sexto colocado, mas está à frente, por exemplo, dos dois maiores clubes de Minas Gerais e de três dos quatro grandes do Rio de Janeiro. Atualmente, em período de auditoria e  passado pelo crivo dos conselhos internos, os times devem publicar seus balanços até o último dia de abril.
Desde a instituição do sistema de pontos corridos no Campeonato Brasileiro, em 2003, o futebol nacional ganhou um tempero ainda mais gaúcho. Nos últimos seis anos, os times da dupla Grenal foram os que mais cresceram em faturamento. O Internacional tem a segunda maior receita do futebol brasileiro, atrás apenas do São Paulo. O Grêmio é o sexto colocado, mas está à frente, por exemplo, dos dois maiores clubes de Minas Gerais e de três dos quatro grandes do Rio de Janeiro. Atualmente, em período de auditoria e  passado pelo crivo dos conselhos internos, os times devem publicar seus balanços até o último dia de abril.
Além de seus orçamentos milionários e das marcas idolatradas pelos torcedores, Grêmio e Inter têm algo mais em comum no que se refere ao seu aspecto contábil. São ativos não registrados no balanço patrimonial e que têm alto valor de mercado: a formação de seus jogadores na categoria de base. Em 2004, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) publicou uma resolução que permite definir um padrão das demonstrações contábeis dos clubes de futebol, a NBCT 10.13 - Resolução 1.005. A norma possibilitou aos clubes incluírem esses dados no orçamento.
De acordo com o contador Sergio Chineppe Rodrigues, o Inter tem em torno de R$ 100 milhões aplicados em jogadores em formação, um valor que, segundo ele, não se pode mensurar, mas é constantemente reavaliado de acordo com o valor de mercado. Um exemplo disso é a venda do atleta Alexandre Pato. Registrado a um custo aproximado de R$ 50 mil, Pato foi vendido por 22 milhões de euros. Outros atletas, como Nilmar, Marquinhos e Tyson, encaixam-se na mesma questão. No caso do Grêmio, a venda de atletas como Douglas Costa, Lucas, Anderson e Carlos Eduardo também trouxe ótimas arrecadações para o clube. Segundo o contador do time, Paulo Salerno, isso ocorreu porque, desde seu primeiro contrato profissional, o passe deles pertencia ao Grêmio.
Só que isso não aparecia antes do balanço. Foi dado um critério de avaliação que fez com que o time pudesse ativar esses valores e incluir no relatório ao Fisco. “Já apurávamos o custo para manter os jogadores no Olímpico antes de ser lançada a resolução. Eram contabilizados os gastos em alimentação, educação, saúde, moradia, e se colocava como investimento. Acompanhamos desde 2000, e a norma corroborou o que nós já fazíamos”, explica. Com um orçamento de R$ 100 milhões, o Grêmio dedica 85% do total às atividades do futebol. Os outros 15% vão para manutenção do patrimônio e encargos trabalhistas.
As informações sobre compra e venda de jogadores geralmente são cercadas de mistérios. Segundo o contador gremista, o que a contabilidade pode fazer para organizar esses procedimentos é estar presente, documentando de forma clara todas essas informações para que sirvam de registros históricos. Enquanto Salerno prioriza como desafio manter a transparência dos atos da administração, Rodrigues acredita que equiparar-se aos padrões estrangeiros é o que demanda mais dos contadores. “Não podemos nos preocupar apenas com o Brasil. Temos que enxergar o mundo.”
Questionados se o investimento em futebol é determinante para os resultados dentro de campo, os contadores dividem as opiniões. Para Salerno, não há fórmulas para explicar o sucesso, pois o futebol não funciona de forma aritmética e conta com um fator imponderável, que é a atuação dos atletas. Segundo ele, houve períodos em que o Grêmio investiu pouco e obteve ótimos resultados, enquanto 2009 foi o ano de maior aplicação em formação de atletas, sem atingir os melhores resultados dentro de campo.
Já o vice-presidente do Inter, Mário Sérgio Martins da Silva, defende que o faturamento colorado se refletiu diretamente no acúmulo de títulos. A razão apontada por ele é a busca pelas metas estabelecidas no planejamento estratégico. Para 2010, tem uma receita prevista R$ 126.389.170,00, um número que para o contador Rodrigues é conservador, já que em 2009 foi possível chegar à casa de R$ 148 milhões. A receita tem crescido ano a ano, visto que em 2002 era de R$ 22.801.492,00. Por volta do mês de agosto, o orçamento geralmente é readequado, e a diretoria faz uma suplementação orçamentária. “O clube de futebol não é previsível como uma fábrica”, alega.

Práticas de governança são fundamentais

Para que a avaliação sobre as contas e o balanço seja de entendimento geral, as regras da contabilidade do futebol são como as regras da contabilidade das demais empresas. A principal diferença é na demonstração dos resultados, onde não se determinam lucros, mas sim o superávit ou déficit. Nos times, os resultados positivos obtidos são reinvestidos na atividade-fim (o próprio futebol) e os negativos são absorvidos pela entidade. Geralmente, é comum que cada clube tenha um contador e que este seja acompanhado por uma equipe, mas muitos clubes pequenos terceirizam a responsabilidade.
Para os que mal conseguem manter o departamento de futebol profissional, cuidar da contabilidade é uma dificuldade extra. Independentemente do porte do clube, o balanço patrimonial deve ser publicado obrigatoriamente, segundo a Lei 10.672/2003. A legislação não faz distinção e afirma que todos devem publicar seu balanço no Diário Oficial e jornal de grande circulação.
Segundo o auditor Carlos Aragaque, da Casual Auditores, antes dessa lei, medidas provisórias exigiam a mesma rotina, mas apenas alguns dos grandes clubes divulgavam os números. “A lei não só exige que o clube publique o balanço como também contrate auditoria independente, sem vínculos com o time, para fiscalizar. Isso ajuda a inibir que dados sejam mascarados.” Atualmente, os times da série A, muitos da série B e alguns da série C são os que mais têm elaborado seus balanços. A publicação, segundo ele, é uma prática de governança corporativa que assegura a transparência da instituição.
Os clubes de futebol, no geral, são entidades sem fins lucrativos isentos de Imposto de Renda e da Contribuição Social. Só deixam de ser isentos quando se tornam um clube-empresa, ou seja, uma instituição que faz do futebol um modo de ganhar dinheiro, com receita e lucro. No Brasil, existem poucos casos, e os times do Bahia e Vitória, ambos do estado baiano, são exemplos de sociedades anônimas que não foram bem-sucedidas no seu desempenho. O São Caetano também tem caráter de clube-empresa. “Nitidamente são clubes sem grande expressividade que têm um investidor à sua frente. Surgiram com o objetivo de atrair investidores na bolsa, mas foram casos de fracasso”, sentencia.
Aragaque define em três blocos os principais passivos de um time de futebol. A maior parte deles (59%) é representada pelas dívidas fiscais - que são os impostos atrasados -,
o Timemania e encargos trabalhistas - como o INSS e o PIS -, além de outras obrigações como IPTU, contas de gás, luz, água e telefone. Outra parte dos passivos está relacionada aos empréstimos bancários (21%), e, por fim, estão as contingências (19%), ou seja, as ações trabalhistas ou cíveis, movidas por empregados.

Gestão eficiente no meio de campo

“O contador deve ser aquele volante qualificado que é o sonho de todo treinador. Aquele que dá cobertura e defesa”, resume Paulo Salerno, contador do Grêmio, comparando sua atuação à de um jogador de futebol. Para ele, a contabilidade dá suporte à base da atividade para que sejam evitadas ameaças ou gerados problemas futuros, como a má contratação ou aplicação de regras erradas. O trabalho preventivo é um apoio de retaguarda e meio de campo que deve servir a diversos setores do clube - desde o marketing até o departamento jurídico. Com 23 anos de casa, Salerno explica que sua principal missão é transformar a contabilidade em algo acessível para o público interno. 
O profissional lembra que a contabilidade dos clubes de futebol, mesmo sendo sociedade sem fins lucrativos, é igual a qualquer outra instituição. “Basta ver a estrutura de balanço”, compara. Segundo Salerno, a única tributação direta que o time sofre é 5% sobre as receitas, em relação à substituição dos 20% do INSS da parte patronal. “Como a receita é alta, a conta acaba ficando quase equivalente”, afirma.
Atualmente, o Grêmio acumula um passivo de R$ 100 milhões. Entre os fatores geradores estão a dívida fiscal, o condomínio de credores, acordos com jogadores e a conta-corrente em bancos. “O principal passivo fiscal é o timemania, mas que nós estamos pagando o que foi gerado lá atrás e não têm novos débitos sendo gerados.”
Além da dívida fiscal, o Grêmio tem a questão dos condomínios de credores, que foi uma criação em 2006 para viabilizar a administração do clube. Financiado por atletas e investidores, os condomínios reúnem cerca de oito a dez pessoas, cada uma com limite de R$ 1 milhão, como uma forma de conseguir liquidar com os passivos e dívidas. Em março, o Grêmio vai ficar apenas com dois (dos cinco que existiam).  Com a construção da Arena, espera-se que o Grêmio modifique o tamanho da estrutura e aumente os resultados.

Crescimento com transparência

A contabilidade é o braço direito da diretoria do Internacional. Para tomar decisões, os dirigentes colorados se apoiam diretamente nos dados gerados pelo contador Sergio Chineppe Rodrigues. “Ele nos abastece de informações para tomarmos decisões importantes”, afirma o vice-presidente do clube, Mário Sérgio Martins da Silva. Peça-chave de gestão para a organização vermelha e branca, a contabilidade dá suporte para que ocorra o planejamento. E é a ele que Silva atribui o crescimento do clube, ilustrado por eventos como a conquista do campeonato mundial e o crescimento do número de associados.
De acordo com Silva, as principais fontes geradoras de receita do Internacional são o quadro social e o marketing. “No quadro social, passamos de 4% para 27%, ou seja, de um valor de aproximadamente R$ 3 milhões por ano para R$ 33 milhões anuais”, revela. Além disso, a venda de jogadores, produtos e os direitos de transmissão na tevê são os principais pontos de arrecadação.
As mensalidades sociais, em 2002, eram de R$ 1.844.417,00, valor que em 2009 chegou a R$ 27.270.197,00. Em 2002, elas representavam em torno de 8% da receita total, e hoje chegam a 18%, enquanto a receita de tevê representa 20%.
Atualmente, o Inter acumula uma dívida de R$ 25 milhões que provém de débitos gerados há 40 anos. Conforme o vice-presidente, desde 2003 o clube não atrasou mais o recolhimento de tributos. “Procuramos readequar o pagamento da dívida, chamamos o credor, e em 24 meses terminamos com o passivo vencido.”
Em relação aos altos salários e às transações milionárias de compra e venda de jogadores, o vice-presidente explica que a atividade sofre muita fiscalização das entidades públicas. “Além dos órgãos de auditoria, conselhos fiscais, sócios e torcedores, o time é fiscalizado pela imprensa. Mas agimos com transparência, e isso nos dá tranquilidade”, enfatiza.
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