Rafael P. Ribeiro e Thales M. Stucky
Em plena tarde de uma sexta-feira qualquer em Nova Iorque, os moradores e turistas daquela cidade, transitando pela movimentada Times Square, são surpreendidos por um grupo de 40 pessoas, trajados em vestes típicas gaúchas, dançando e cantando músicas da nossa terra para celebrar o IPO da rede de Churrascarias Fogo de Chão na bolsa de valores Nasdaq! O Rio Grande conquistou a América, diria a manchete de "O Bairrista"! Entretanto, "mixed feelings" talvez seja a expressão, em inglês e sem tradução direta ao português, que melhor explique a verdadeira reação à notícia. Por um lado, orgulho de quatro gaúchos que construíram um império do churrasco nos Estados Unidos. Por outro lado, desolação ao perceber que cada vez é mais difícil ter sucesso nos negócios por aqui.
É incrível a trajetória destes quatro gaúchos simples, trabalhadores e com gana para prosperar que conseguiram, a partir de um único restaurante aberto em 1997 na cidade de Addison, nos arredores de Dallas, criar uma rede com faturamento milionário. Muito embora hoje a Fogo de Chão seja controlada por fundos norte-americanos, talvez seja a principal vitrine do Rio Grande no exterior, com seus "gaúchos" mestres em churrasco, verdadeiro patrimônio cultural, representando a nossa terra mais do que qualquer programa estatal jamais conseguiu. Apesar de a Fogo de Chão ter conquistado o mundo, a grande ironia é que o primeiro restaurante da rede foi aberto em Porto Alegre, mas logo fechou as suas portas. E, então, surge a pergunta: por quê?
A resposta é simples: o ambiente de negócios no nosso País não é propício para o crescimento das empresas. Aqui, ao contrário dos Estados Unidos, não basta ter apenas uma boa ideia para prosperar. Aqui, o principal desafio é vencer as barreiras que o próprio Estado impõe. Esta façanha gaúcha nas terras do Tio Sam serve de modelo, mas, principalmente, de alerta de que a atividade produtiva e geradora de empregos precisa de regras claras, estabilidade e previsibilidade econômica e legal. Talvez assim, outros gaúchos poderão tomar riscos para desenvolver negócios vencedores. Dessa vez, fortalecendo a nossa própria economia.
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