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- Publicada em 06 de Abril de 2015 às 00:00

Registros da política gaúcha estão ameaçados por questão financeira


Jornal do Comércio
Os registros da história política do Rio Grande do Sul estão sendo consumidos pela umidade, ácaros e mofo na hemeroteca do Museu de Comunicação Hipólito José da Costa. A ascensão de Getúlio Vargas, o movimento da Legalidade, o golpe militar de 1964 - noticiados pela imprensa gaúcha - perecem mais rápido que o normal sob as goteiras do edifício dos anos 1920, onde funcionava o jornal republicano A Federação. E, apesar do esforço dos funcionários do museu - nove servidores, que contam com o auxílio de cinco estagiários - a falta de investimentos ao longo de décadas gerou dificuldades físicas tão difíceis de serem ignoradas quanto as paredes mofadas.
Os registros da história política do Rio Grande do Sul estão sendo consumidos pela umidade, ácaros e mofo na hemeroteca do Museu de Comunicação Hipólito José da Costa. A ascensão de Getúlio Vargas, o movimento da Legalidade, o golpe militar de 1964 - noticiados pela imprensa gaúcha - perecem mais rápido que o normal sob as goteiras do edifício dos anos 1920, onde funcionava o jornal republicano A Federação. E, apesar do esforço dos funcionários do museu - nove servidores, que contam com o auxílio de cinco estagiários - a falta de investimentos ao longo de décadas gerou dificuldades físicas tão difíceis de serem ignoradas quanto as paredes mofadas.
O decreto do governador José Ivo Sartori (PMDB) de contingenciamento de gastos nas secretarias - que prevê a redução de cerca de 20% do orçamento de cada pasta - pode agravar ainda mais a situação. O orçamento da Cultura estava previsto em R$ 102 milhões, mas, depois do decreto, foram liberados pouco mais de R$ 17 milhões - sem contar os convênios com o governo federal e ONGs, que não entraram no cálculo.
Aliás, um dos convênios com o governo federal pode garantir a recuperação do prédio onde funciona o Museu de Comunicação: o Programa de Aceleração do Crescimento - Patrimônio Histórico, que contemplou o Hipólito da Costa com cerca de R$ 2,62 milhões para restauração do edifício. Contudo, embora o valor já tenha sido empenhado, ainda não foi liberado.
Como o Palácio do Planalto também está implementando um política de contenção de gastos, não há previsão sobre quando as obras no museu irão começar. Os funcionários do Museu de Comunicação sustentam que a restauração resolveria muitos problemas que ameaçam o acervo (as infiltrações, por exemplo).
Depois da orientação para cortar gastos, o secretário da Cultura, Victor Hugo (PMDB), organizou um grupo de trabalho dentro da secretaria para planejar o contingenciamento. O presidente dessa comissão é o secretário adjunto, André Kryszczum. "Estamos estudando onde fazer os cortes. Por exemplo, na segurança, precisamos de tantos postos? Além disso, há o outro decreto do governador, estabelecendo a economia de 35% na folha de pagamento com Cargos de Confiança (CC), o que vai fazer com que os CCs tenham que acumular funções", comentou Kryszczum. 
Além disso, o museu ainda não teve o diretor nomeado pelo secretário de Cultura, tendo à frente da instituição uma diretoria interina. A falta de uma diretor definitivo dificulta o diálogo entre os funcionários e a secretaria - uma vez que quem faz a intermediação entre as demandas do museu e o governo do Estado é o diretor. Apesar disso, há alguns meses, o secretário adjunto se reuniu com os servidores para ouvir suas demandas. 
O coordenador do Núcleo de Educação e Pesquisa do museu, Gabriel Castello Costa, acredita que o diretor do Hipólito da Costa deve ter um perfil técnico. "Acho que o museu precisa de um planejamento para o longo prazo. Por isso, o dirigente tem que entender de patrimônio histórico, museologia e, principalmente, de economia da cultura, para saber onde buscar recursos para a entidade", analisou Castello Costa.  
Entre os setores do Hipólito da Costa - de fotografia, cinema, acervo sonoro etc -, o de imprensa enfrenta os maiores percalços, apesar de ser a área mais visitada. Aliás, hoje, os pesquisadores têm acesso ao local por conta do empenho do coordenador do setor, Carlos Roberto da Costa Leite, que administra o acervo com a ajuda de apenas uma estagiária. Os frequentadores do local reconhecem isso, tanto que fazem questão de cumprimentar afetuosamente Carlos Roberto, antes de irem embora.

Pesquisador teme pela durabilidade do acervo; restauração e digitalização são alternativas

O historiador Rafael Lapuente estuda a gestão do ex-governador do Estado Leonel Brizola e, para isso, analisa a cobertura que os jornais Diário de Notícias e Correio do Povo fizeram do período. O historiador teme pela durabilidade do acervo. Mas reconhece, inequivocamente, que "os jornais ainda estão ali por causa do trabalho apaixonado dos funcionários".
"Inclusive, durante alguns dias, o setor de imprensa só funcionou, porque o responsável pelo espaço abriu mão das suas férias para manter o funcionamento. Como ele é o único funcionário daquele segmento, não há quem o substitua. O fato de ele optar por trabalhar revela o quanto os servidores se preocupam com o museu", comentou Lapuente - que frequenta a hemeroteca há um ano e meio, entre às segundas-feiras e quintas-feiras, das 14h às 18h, quando o acervo de cerca de 3 mil títulos ficam disponíveis aos pesquisadores.
Por dia, é permitido que oito pessoas consultem os periódicos. "No entanto, a dificuldade é tão grande que o museu não fornece luvas, nem álcool gel para manipular os periódicos. Isso serve inclusive para preservar o acervo", criticou o historiador.
Para Carlos Roberto, a hemeroteca precisa investir em pelo menos três itens para aumentar ao máximo a vida útil dos periódicos: o controle da luz solar, da temperatura e da umidade - o que pode ser feito com películas na janela e com climatizadores. "O museu precisa de planejamento. A palavra chave, na minha opinião, é prevenção. Ou seja, criar condições para que o acervo dure tanto quanto o possível. Além disso, restaurar e digitalizar é outra maneira de manter o acervo", avaliou o coordenador do Setor de Imprensa, sempre enfatizando o valor histórico da hemeroteca.
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