A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu ontem retirar o canabidiol (CBD), derivado da maconha, da lista de substâncias proibidas no Brasil. A diretoria do órgão colocou o componente na lista de substâncias controladas. Essa é a primeira vez que o efeito terapêutico de uma substância derivada da Cannabis sativa é reconhecido no País. A reclassificação significa que, além de a importação de medicamentos com esse componente poder ser autorizada, também será possível que os laboratórios brasileiros produzam o remédio.
Os diretores da Anvisa consideraram que a substância, administrada principalmente via oral, não oferece risco de dependência. A discussão sobre o tema foi iniciada na agência em maio passado, depois que famílias de pacientes entraram na Justiça para obter autorização para importar o canabidiol, a fim de tratar casos graves de epilepsia. Desde então, a importação era liberada em casos excepcionais. No entanto, a quantidade de pessoas que busca o tratamento vem aumentando.
Segundo o jornalista Tarso Araujo, que coordena a campanha “Repense - Informação e Reflexão sobre Maconha Medicinal”, até março de 2014 ninguém discutia ou falava sobre a maconha medicinal no Brasil. Somente quando a campanha foi lançada, junto com um curta-metragem, é que o debate tomou força. O filme relata a história de uma menina de cinco anos portadora de uma epilepsia grave, que lhe causava 80 convulsões por dia. A mãe da garota conheceu um medicamento que utiliza canabidiol e é vendido no exterior. Na falta de autorização para o uso no País, a família resolveu importá-lo ilegalmente, correndo o risco de ser presa por tráfico. Com o remédio, a criança parou de ter convulsões. “De lá para cá, o assunto passou não só a ser conhecido, mas também incentivado, e o produto, demandado por uma série de pais e pacientes. Assim, começou um processo de pressão popular que, se não houvesse, não geraria a liberação do componente”, avalia.
O canabidiol é recomendado para tratar dores crônicas, epilepsia, esclerose múltipla e os efeitos colaterais da quimioterapia e de antirretrovirais. “Há 600 mil pessoas com epilepsia, por exemplo, que não apresentam melhorias com nenhum outro medicamento. Mas, conforme o componente for mais estudado, muitos outros benefícios podem ser descobertos.”
Os organizadores da campanha Repense pretendem ampliar o debate e incentivar a legalização de remédios que têm tetraidrocanabinol (THC), principal componente da maconha. “O THC traz muito mais benefícios, inclusive para pessoas que fazem tratamento contra o câncer. Por que não reconhecer a propriedade medicinal? Nos Estados Unidos, por exemplo, essa substância é indicada desde os anos 1970”, destaca Araujo.
Medicamento 3 em 1 para a Aids começa a ser distribuído no País
O Ministério da Saúde enviou esta semana, a todos os estados brasileiros, o medicamento 3 em 1 para o tratamento de pacientes com HIV/Aids. A previsão é de que a dose tripla combinada, composta pelos medicamentos Tenofovir (300mg), Lamivudina (300mg) e Efavirenz (600mg), comece a chegar aos estados, responsáveis pela distribuição para os municípios, na próxima semana.
A combinação de medicamentos deverá beneficiar 100 mil novos pacientes com HIV. O Ministério da Saúde investiu R$ 36 milhões na aquisição de 7,3 milhões de comprimidos. O estoque é suficiente para atender os pacientes nos próximos 12 meses.
O uso do medicamento previsto no Protocolo Clínico de Tratamento de Adultos com HIV e Aids do Ministério da Saúde como tratamento inicial para os pacientes soropositivos. Atualmente, os medicamentos são distribuídos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e consumidos separadamente. O Rio Grande do Sul, assim como o Amazonas, que têm as maiores taxas de detecção do vírus, recebem, desde novembro, a dose tripla combinada. Cerca de 11 mil pacientes foram beneficiados.
Para o ministro da Saúde, Arthur Chioro, a dose combinada representa um avanço importante na melhoria do acesso ao tratamento. “A utilização de dose fixa combinada (3 em 1) irá permitir uma melhor adesão. Além de ser de fácil ingestão, o novo medicamento tem como grande vantagem a boa tolerância pelo paciente, já que significa a redução dos três medicamentos para apenas um comprimido”, explicou o ministro.