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MEMÓRIA

- Publicada em 15 de Janeiro de 2015 às 00:00

Eleição de Tancredo encerrou regime militar


CÉLIO AZEVEDO/SENADO FEDERAL/DIVULGAÇÃO/JC
Jornal do Comércio
Em 15 de janeiro de 1985, dia de chuva forte em Brasília, uma multidão se concentrou em frente ao Congresso, parte abrigada sob uma bandeira nacional, alguns escalando as cúpulas de concreto. Lá dentro, com plenário e galerias lotados, Tancredo Neves era eleito o primeiro presidente civil no País em 21 anos, pelo mesmo instituto criado pelos militares para eleger seus generais: o colégio eleitoral.
Em 15 de janeiro de 1985, dia de chuva forte em Brasília, uma multidão se concentrou em frente ao Congresso, parte abrigada sob uma bandeira nacional, alguns escalando as cúpulas de concreto. Lá dentro, com plenário e galerias lotados, Tancredo Neves era eleito o primeiro presidente civil no País em 21 anos, pelo mesmo instituto criado pelos militares para eleger seus generais: o colégio eleitoral.
Na sessão, que durou cerca de três horas e meia, Tancredo derrotou o candidato do extinto PDS, Paulo Maluf, que não tinha apoio unânime entre os militares. Foram 480 votos contra 180. A vitória veio no voto do deputado João Cunha (PMDB-SP), o de número 344, que garantiu a maioria ao candidato da oposição. “Tenho a honra de dizer que o meu voto enterra a ditadura funesta que infelicitou a minha pátria”, disse, entre aplausos, pouco depois das 11h30min daquela terça-feira. Quase uma hora depois, Tancredo leria seu discurso da vitória. “Esta foi a última eleição indireta do País. Venho para realizar urgentes e corajosas mudanças políticas, sociais e econômicas indispensáveis ao bem-estar do povo”.
Da mesma forma que na bancada do PDS (originário da antiga Arena, partido do governo militar), grande parte dos deputados votou em Tancredo, na oposição nem todos o escolheram. O diretório nacional do PT decidiu pela abstenção, por avaliar que o partido deveria continuar na luta por eleições diretas. Dos oito deputados, três – Bete Mendes, Ayrton Soares, então líder da bancada na Câmara, e José Eudes – votaram a favor de Tancredo e foram expulsos do PT.
Deputado à época, o senador Eduardo Suplicy (SP) diz que seguiu a orientação do diretório. “Discutimos muito o assunto entre nós, mas no fim prevaleceu a decisão do partido, embora tivéssemos por Tancredo grande respeito e admiração”. Suplicy lembra-se de ter encontrado o político mineiro nos corredores da Câmara e dito a ele que continuaria na luta pelas Diretas Já. “Tancredo entendeu e respeitou minha decisão”, relata.
As negociações que culminaram na candidatura de Tancredo pela Aliança Democrática começaram oficialmente logo após a derrota da emenda Dante de Oliveira (das Diretas) na Câmara. Integrante da dissidência do PDS à época, o deputado Simão Sessim (PP-RJ) lembra que o grupo se formou a partir da vitória de Paulo Maluf na convenção do partido, derrotando Mário Andreazza, que tinha apoio amplo entre os militares. “Houve um movimento grande de rebeldia dentro do partido e fomos pedir ao vice-presidente Aureliano Chaves que liderasse a ala dissidente contra a orientação oficial”. A partir daí, a convergência para a candidatura de Tancredo, tendo como vice o indicado pelos dissidentes, José Sarney, foi natural. “Tancredo era o nome de todas as forças, respeitado, inatacável sob todos os aspectos, a figura política mais importante daquela época”, diz Sessim.
Já o deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG), que era do PDS e votou em Maluf no Colégio Eleitoral, afirma, inclusive, que Tancredo teria influenciado a vitória de Maluf contra Andreazza na convenção do PDS, já que Maluf, sem consenso no partido e entre os militares, seria opositor mais fácil de vencer no colégio eleitoral.
“Tancredo tinha sido do antigo PSD, e muitos parlamentares da Arena, também vindos do PSD, tinham amizade e simpatia por ele”, relata. “Como hábil negociador, ele viu nas discordâncias entre o vice-presidente da República, Aureliano Chaves, e militares uma chance de atrair dissidentes”.

Constituição Federal é um dos principais legados do processo de redemocratização do Brasil

Os parlamentares são unânimes em um ponto: ao colocar um fim no ciclo dos presidentes militares, a vitória de Tancredo abriu o caminho para a normalidade democrática no Brasil. “Havia um anseio, entre todos os segmentos da sociedade, para que caminhássemos em direção ao fim do arbítrio”, lembra o deputado Mauro Benevides (PMDB-CE), que em 1987/1988 foi 1º vice-presidente da Assembleia Nacional Constituinte. “A vitória de Tancredo representou um passo decisivo para que o Brasil, além da redemocratização, tivesse, três anos depois, a Constituição que Ulysses Guimarães chamou de cidadã.”
Para Roberto Freire (PPS-SP), à época deputado pelo PMDB, foram a mobilização popular pelas diretas já e as lutas pela redemocratização, que vinham desde a década de 1970, com participação de vários deputados, as responsáveis pela vitória na eleição indireta. “Naquele momento, o povo brasileiro estava nas ruas. Quando elegemos Tancredo Neves, elegemos a liberdade e a democracia”. Na avaliação de Simão Sessim, os próprios militares sabiam que o processo de redemocratização era irreversível.
Presidente eleito, Tancredo Neves não assumiu o cargo. Na noite de 14 de março, véspera da posse, foi internado no Hospital de Base de Brasília com o diagnóstico de diverticulite. Morreu em 21 de abril.
Foi empossado como presidente da República o vice, José Sarney, a quem coube conduzir o processo de redemocratização e convocar a Assembleia Nacional Constituinte, em 1987. Em 1989, na primeira eleição direta para a Presidência da República após o regime militar, foi vencedor Fernando Collor.
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