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mercado de capitais

- Publicada em 05 de Janeiro de 2015 às 00:00

Ofertas públicas de aquisição superam volume de IPOs em 2014


MARCO QUINTANA/JC
Jornal do Comércio
A cada ano, os agentes financeiros renovam as esperanças para o surgimento de novas janelas de IPOs. Em última análise, essas ofertas públicas iniciais de ações acabam por despertar as expectativas por possibilitarem aos investidores boas oportunidades de negócios com papéis recém-lançados em bolsa, mas também por recriarem uma espécie de termômetro da economia. A lógica é simples: se a engrenagem vai bem, mais empresas optam por dar a largada em seus planos de expansão e acessam aos recursos disponíveis no mercado de capitais.
A cada ano, os agentes financeiros renovam as esperanças para o surgimento de novas janelas de IPOs. Em última análise, essas ofertas públicas iniciais de ações acabam por despertar as expectativas por possibilitarem aos investidores boas oportunidades de negócios com papéis recém-lançados em bolsa, mas também por recriarem uma espécie de termômetro da economia. A lógica é simples: se a engrenagem vai bem, mais empresas optam por dar a largada em seus planos de expansão e acessam aos recursos disponíveis no mercado de capitais.
Em condições macroeconômicas desfavoráveis, no entanto, é comum que os controladores de companhias abertas iniciem uma jornada pelo caminho inverso. Nem sempre se trata de uma decisão fácil. Segundo Paula Magalhães, especialista em fusões e aquisições do escritório e Tauil & Chequer, é preciso pesar gastos e instabilidades externas com a exposição dos papéis listados em bolsa.
Em seguida, duas perguntas tendem a dominar a pauta: A empresa voltará a captar via bolsa em curto ou médio prazo? A manutenção do status de companhia aberta compensa os custos? Quando a resposta a essas questões for negativa, é provável que tenha chegado o momento de dar um basta nos danos para iniciar a revisão de estratégias.
O que pode parecer um passo atrás, muitas vezes, é única alternativa para reiniciar a busca efetiva por uma estrutura de capital mais favorável, com maior capacidade de endividamento, menor custo no acesso à financiamentos, economia de escala, melhorias na imagem institucional e redução da margem de lucros tributáveis, principalmente, em ambiente de sucessivos prejuízos expressos em balanços contábeis. Mas, antes, a companhia precisa estruturar uma operação para o fechamento de capital, por meio de uma Oferta Pública de Aquisições (OPA) – que pode funcionar com a lógica oposta à dos IPOs.
Neste contexto, em uma análise dos registros disponíveis no site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e da BM&FBovepsa, a comparação entre os cancelamentos de ações, via OPAs, e os lançamentos, em IPOs ou Follow 0n’s, revela um quadro pouco animador. Isso porque, ao longo do ano passado, oito ofertas de aquisições atingiram a marca de R$ 16,2 bilhões, enquanto, no mesmo período, apenas dois lançamentos de ações somaram R$ 14,3 bilhões - R$ 13,9 bilhões, no Follow On da OI, e R$ 363,4 milhões no IPO da Ourofino.
Cenário semelhante já havia ocorrido em 2012, quando o volume das 14 OPAs (R$ 14,8 bilhões), também superou o montante captado em 12 IPOs (R$ 13,2 bilhões). Para o gerente de Registros da CVM, Ricardo Maia, as quantias “não passam necessariamente por um incremento muito significativo sobre os anos anteriores, mas revelam, sobretudo, que os IPOs correntes estão subvalorizados.” 
Na avaliação da advogada Paula Magalhães, o dado contempla uma relação direta com a deterioração recente da economia brasileira.  Pela mesma ótica, os registros de OPAs em 2014 representam o maior volume em uma década, ficando mais de 600% acima dos R$ 2,1 bilhões envolvidos nas 19 ofertas de 2004. A cifra ainda concentra o equivalente a 34,68% do volume de R$ 46,7 bilhões gerado pela soma das OPAs nos últimos cinco anos. 
Além disso, outras 12 ofertas, que, juntas, somam R$ 6,1 bilhões, permanecem em fase de análise na CVM. Entre os processos abertos e não-finalizados ao londo do  ano passado, aparecem os cancelamentos de registros da Cacique Café Solúvel, GTD Participações, Providência Indústria e Comércio, Hidro Elétrica do São Francisco, Brazil Hospitality Group (BHG) e Banco Industrial e Comercial.
O gerente de Registros da CVM, Ricardo Maia, faz algumas ressalvas quanto aos objetivos das ofertas. Maia explica que existem, ao todo, seis modalidades de OPAs previstas no Brasil. Três delas (para cancelamento de registros, para alienação de controle e para aumento de participação) são estabelecidas conforme a Lei 6404/76. As demais (voluntária, para aquisição de controle e concorrente) observam as normas da Instrução CVM 361, de 2002. Todas visam à obtenção de diferentes objetivos.
Dentro desse escopo, as mais corriqueiras são as OPAs de cancelamento de registro que, de maneira unificada, também determinam a saída de algum dos segmentos de governança corporativa da BM&FBovespa. Neste caso, o sucesso da operação está limitado à aceitação de, no mínimo, 2/3 dos acionistas minoritários. Em casos de recusa, os então de detentores de ações de companhias de capital aberto, passariam a sócios minoritários de uma empresa fechada – o que não costuma ser atrativo para ambos os lados da operação.

Fonte: CVM e BM&FBovespa (*).
Os valores de 2010 ficam muito acima da média pois incluem R$ 120,2 bilhões de uma única emissão da Petrobras

Empresas de saída em 2014.

Cancelamentos de registros:
  • Brookfield Incorporações
Mês do anúncio: Fevereiro de 2014.
Objetivo: retirar a incorporadora imobiliária da bolsa com a aquisição de 268.609.272 ações do Novo Mercado.
Preço máximo: R$ 1,60.
Oportunidades: A oferta foi 33,3% superior ao preço médio ponderado por volume das ações da companhia nos 30 dias anteriores à data de publicação (14 de fevereiro de 2014).
  • Iguaçu Café Solúvel
Mês do anúncio: Agosto.
Objetivo: permitir que a subsidiária MBC Europe Limited, detentora de 63,72% do capital social adquirisse a totalidade das ações.
Preço máximo: R$ 7,99.
Oportunidades: O preço foi 99,8% superior ao valor médio ponderado por volume de ações ordinárias em 20 de março de 2014 – o último dia de negociação antes do fato relevante.
  • Autometal
Mês do anúncio: Abril.
Objetivo: Comprar até 31.775.132 ações da companhia, ou o equivalente a 25,24% do capital social.
Preço máximo por ação: R$ 19,11.
Oportunidades: A oferta foi 20,38% superior ao preço médio ponderado por volume das ações ordinárias em 4 de abril de 2014 – o dia útil anterior à divulgação do fato relevante.
  • M&G Poliéster
  • Mês do anúncio: Maio.
    Objetivo: adquirir a totalidade de ações da empresa em circulação.
    Preço máximo por ação: R$ 0,11.
    Oportunidades: O preço de compra foi estipulado em R$110,00 por lote de mil, o que significou um patamar 22,2% superior ao determinado no laudo de avaliação elaborado pela com base no critério de fluxo de caixa descontado.
  • Docas Investimentos
  • Mês do anúncio: Dezembro.
    Objetivo: retirar de circulação a 58.388 ações preferenciais (PN) e 344.517 ações ordinárias (ON), representativas de 34,76% do capital social.
    Preço máximo por ação: R$ 12,65 por ação ON e R$ 7,38 por ação PN.
    Oportunidades: O valor ofertado para ações PN foi 47,5% acima da cotação dos papeis na data anterior ao anúncio.
    Fonte: Editais disponíveis em http://www.cvm.gov.br/asp/cvmwww/registro/opa/

    Intervenção de OPA concorrente emperra tentativa de fechamento de subsidiária da OI em 2012

    Em 2012, uma rara intervenção de OPA concorrente à uma oferta de alienação de controle da Tele Norte Celulares, pretendida por uma subsidiária da OI, teve o fechamento de capital impedido. Na ocasião, a Tempo Capital ofereceu R$ 201,00, por papel – valor 70,33% superior aos R$ 118,00 previstos pela primeira proposta – e abocanhou 192,4 mil ações ordinárias e 287,1 mil ações preferenciais.
    O movimento, apesar de pouco comum no mercado nacional, quando acontece, tende a trazercomplicações ao processo. De acordo com o gerente de Registros da CVM, Ricardo Maia, o raciocínio é de que o preço oferecido compensa a realização de uma oferta maior pelo mesmo bloco de ações-alvo. “Não é sequer necessário que seja um acionista. Basta identificar a oportunidade para que se instale uma briga de preços. O ofertante original não quer perder, pois tem objetivos distintos que, às vezes, são dados apenas pela necessidade de sair do mercado”, comenta.
    Por isso, a especialista em fusões e aquisições do escritório Tauil & Chequer, Paula Magalhães, afirma que, antes de fechar o valor de uma operação, é preciso chegar a um preço capaz de evitar a concorrência. No entanto, a advogada considera mais comum a incidência dos pedidos de revisão, que ocorrem quando os minoritários não concordam com os termos da oferta – a exemplo do que aconteceu na OPA do UOl, em 2011.
    Maia, por outro lado, explica que apenas duas modalidades permitem a revisão: para cancelamento de registro e por aumento de participação. Ambas são vinculadas ao que a própria norma considera como “preço justo”. Ou seja, a oferta tem de passar pelo crivo de um avaliador independente que fará o estudo de precificação, considerando aspectos como o valor de mercado das ações ou o valor patrimonial da companhia. 
    Neste caso, após a divulgação do preço da OPA, já com o laudo de avaliação, os acionistas detentores de no mínimo 10% das ações em circulação poderão pedir a revisão do preço. A alegação de inconsistência gera a convocação de uma assembleia para deliberar sobre um novo balizador para a OPA.

    Fonte: CVM

    Valores de alienações de controle em processos de recuperação judicial podem surpreender

    Entre as operações consolidadas no decorrer do ano passado, há também uma alienação de controle que chama a atenção pelos valores envolvidos. Em maio de 2014, a Buettner indústria e comércio, empresa em processo de recuperação judicial, anunciou a alienação de controle indireta da companhia, mediante aquisição de 63,9% de seu capital social junto a Erpa Administração de Bens e Participações. O percentual, equivalente a 1.046.573 ações ordinárias e 2.049.822 ações preferenciais, totalizava 3.096.395 ações.
    Inicialmente, os papéis foram avaliados em R$ 0,00032296, cada. Entretanto, o parágrafo 7º do artigo 29º da Instrução CVM nº 361/02 prevê que o valor resultante da atualização monetária não fique abaixo da mínima unidade de moeda nacional. Neste caso, a oferta foi fechada em R$ 0,01, por ação. Desta forma, o custo final de toda a operação foi de apenas R$ 1 mil. Sim, pela aquisição da Erpa e, consequentemente, do controle indireto da companhia, o ofertante pagou a bagatela de R$ 1.000,00 (um mil reais).
    Conforme explica o gerente de Registros da CVM, Ricardo Maia, o fato pode parecer inusitado, mas não é tão incomum. “É preciso considerar que, em se tratando de companhias em recuperação judicial, muitas vezes, o próprio controlador quer apenas se livrar do processo. Se algum outro agente de mercado perceber a possibilidade de negócio nisso, nada impede que a manutenção da engrenagem da recuperação judicial seja toada assumida por um outro controlador, detentor de maior expertise em recuperação judicial”, comenta.  

    Processo supera em 128,3% o preço pago por volume de ações preferenciais da Iguaçu Café

    Nem todo processo de oferta pública de aquisições é marcado exclusivamente por perdas. É certo que muitos investidores acabam arcando com o desgaste dos papéis ao longo do tempo. Mas, por outro lado, é possível que se abram novas oportunidades de negócios, inclusive com ganhos inusitados de liquidez, nos intervalos de tempo entre o anúncio de uma OPA e a realização efetiva do leilão dos ativos.
    Recentemente, o fato ocorreu de maneira mais clara no decorrer da OPA para o cancelamento de registro da Iguaçu Café Solúvel. Em agosto, a companhia publicou edital para aquisição das ações em circulação ao preço máximo de R$ 7,99 por papel. O valor foi aproximadamente 99,8% superior ao preço médio ponderado por volume das ações ordinárias no último pregão de negociação antes do Fato Relevante. Quando considerada a média, o preço ponderado por volume de ação preferencial, a oferta foi 128,3% acima do valor de referência na mesma data.
    Em menor escala, o mesmo aconteceu com a Brookfield e a Autometal que premiaram em 33,3% e 20,38%, respectivamente, o valor médio ponderado das ações registrado nos pregões que antecederam o anúncio das ofertas. No caso da Brookfield, o preço máximo pago aos minoritários foi de R$ 1,60 por ação, entre 24,03% e 12,6% acima do intervalo estipulado pelo laudo de avaliação que fixava preços de R$ 1,29 a R$ 1,42, por papel.
    A especialista em fusões e aquisições do escritório Tauil & Chequer, Paula Magalhães, que atuou na estruturação da operação da Autometal, explica que os laudos, necessariamente, tem de apresentar uma espécie de premiação. Do contrário, as expectativas podem ser frustradas. “Ofertando apenas o preço de referência, a OPA não sai”, sentencia.
    Segundo ela, é normal que sejam criadas “pequenas janelas de oportunidades” no curto espaço que antecede a concretização da operação. “Apesar do pensamento racional mandar segurar o papel para obter melhores condições, há situações que justificam vendas anteriores ao leilão. Por alguma razão, este minoritário pode precisar de liquidez imediata. No caso de uma ação de índice, também existem os fundos que já antecipam a necessidade de se desfazer dos papéis”, comenta.
    Conforme o sócio-diretor da Quantita Wagner Salaverry, é difícil identificar um padrão de formação de mercado configurado por investidores em busca de oportunidades de OPAs.  No entanto, Salaverry lembra que o custo de oportunidades será sempre referenciado pelo CDI. Neste contexto, qualquer recurso alocado terá de superar a previsão de rentabilidade da própria Taxa Selic (11,75% ao ano).
    “Quando ocorre a definição de preço de fechamento, na comparação com o ajuste diário do CDI (valor próximo a Selic), até a data da operação, alguns investidores percebem uma janela para ganhar um pouco mais. Isso já aconteceu no passado e pode ocorrer. Para alguns, o fator pode ser extremamente interessante. Todavia, existe algo muito peculiar para saber o quanto esse prêmio acima do CDI se torna atrativo. Há também que se considerar o risco da OPA não ocorrer, atrasar por alguma razão e não deixar margem de liquidez no papel em uma eventual necessidade de saída antecipada”, afirma.
    Salaverry lembra que, com exceção de Autometal e Brookfield, todas as demais empresas que deixaram o mercado em 2014, possuíam pouca representatividade em bolsa, baixíssima liquidez e, por isso, sequer frequentavam o radar de grandes investidores e bancos de investimento. “Não é algo muito comum. A possibilidade de ganhos acontece esporadicamente, mas as oportunidades, quando ocorrem, costumam estar restritas às companhias maiores.”

    Outras OPAs de 2014

    • Voluntária

    Banco Santander Brasil

    Mês do anúncio: Abril.
    Objetivo: adquirir a totalidade das ações do Santander Brasil para sair do Nível 2 de governança corporativa da bolsa.
    Preço máximo por ação: A oferta foi estipulada em permuta de ações do Santander S.A. que passariam a ser negociadas na bolsa de São Paulo como Brazilian Depositary Receipts (BDR) ou American Depositary Receipts (ADRs).
    Oportunidades: a permuta ofereceu 0,7152 BDR para cada Unit (1 ação ordinária e 1 ação preferencial) e 0,3576 BDR para cada ação – representando um prêmio de 20% em relação à cotação de fechamento no pregão anterior ao anúncio (28 de abril).
    • Alienação de controle (*)

    Excelsior Alimentos

    No final de 2013, a JBS adquiriu o controle acionário da Excelsior Alimentos com a compra de 64,57% do capital social da companhia. A JBS pagou o valor total de R$29.4 milhões - R$ 8,72 por ação.
    Buettner indústria e comércio
    Em maio, a empresa em processo de recuperação judicial, anunciou a alienação de controle indireta da companhia, mediante aquisição de 63,9% de seu capital social junto a Erpa Participações, o equivalente a 3.096.395 ações.
    (*) na alienação de controle não há janela de oportunidades, pois as negociações são iniciadas diretamente com o controlador.
    Fonte: Editais disponíveis em www.cvm.gov.br
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