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Tecnologia

- Publicada em 25 de Janeiro de 2010 às 00:00

Livros eletrônicos invadem o mercado editorial


John MacDougall/AFP/JC
Jornal do Comércio
Queiram os mais tradicionais ou não, o livro eletrônico está chegando ao Brasil. O lançamento mundial no final do ano passado do Kindle, o primeiro leitor de e-books a aterrissar no País, ajudou a colocar fogo no mercado editorial. 
Queiram os mais tradicionais ou não, o livro eletrônico está chegando ao Brasil. O lançamento mundial no final do ano passado do Kindle, o primeiro leitor de e-books a aterrissar no País, ajudou a colocar fogo no mercado editorial. 
Comercializado pela Amazon, gigante americana do varejo virtual, o Kindle Internacional permite a leitura de obras em formato digital e o download de um livro inteiro em menos de 60 segundos. Novos equipamentos, nacionais e internacionais, devem estar disponíveis nos próximos meses. Nos Estados Unidos, depois da Amazon, a Barnes & Noble, uma das maiores livrarias físicas dos Estados Unidos, também lançou o seu e-reader, o Nook. A Livraria Cultura, uma das maiores do País, anunciou para março o início das vendas dos seus primeiros e-books. Da mesma forma, a Editora Jorge Zahar negocia com os autores novos contratos e já tem 40 prontos para a conversão digital.
Ainda não se sabe se esse novo formato poderá provocar uma revolução similar a que aconteceu com a música há alguns anos, levando a uma queda vertiginosa nas vendas de CDs. Dados da Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) revelam que as comercializações totais de CDs e DVDs em 2002 eram de R$ 726 milhões, caindo para R$ 312,5 milhões em 2007. Já o total das vendas digitais passou de R$ 8,5 milhões em 2006 para R$ 24,2 milhões no ano seguinte.
Mas esse início já é suficiente para deixar parte do setor pouco à vontade e cheio de mistérios com essa tecnologia. Quem não quer correr o risco de ver seu modelo de negócios afundar, corre para enxergar no e-book um propulsor de novas oportunidades.
A Câmara Brasileira do Livro (CBL) criou uma comissão para debater os impactos do livro digital e algumas necessidades de regulamentações. Para a presidente da entidade, Rosely Boschini, essa é uma tendência irreversível. “Mais do que uma preocupação, o e-book deve ser visto como oportunidade de ampliar o universo do público leitor e desenvolver uma nova vertente de negócios”, sugere.
Ela lembra que, durante a Feira do Livro de Frankfurt 2009, o maior evento do mercado editorial mundial, esse já era um tema recorrente. Dos 7.373 expositores, 5% já incluíam esses dispositivos em seus estandes. Em 2008, o livro digital movimentou cerca de US$ 100 milhões nos Estados Unidos, onde mais de 80 editoras já atuam no segmento. Na Alemanha, foram 65 mil unidades comercializadas no primeiro semestre deste ano. Já a Consumer Electronics Show, que aconteceu no início do ano em Las Vegas, teve pela primeira vez uma seção dedicada aos e-readers. Cerca de 20 fabricantes apresentaram seus dispositivos.
Rosely explica que a convivência de processos tão diferentes é uma realidade em todos os setores de atividade. E não seria diferente para o mercado editorial. “Saber explorar o imenso potencial aberto pela convergência significa multiplicar as possibilidades mercadológicas, criar novas alternativas e atender de maneira mais eficaz à demanda”, acrescenta.
O livro em formato digital existe há alguns anos e geralmente está disponível em sites, no formato pdf ou html. Para o gerente de consultoria empresarial da Deloitte, Fábio Cipriani, o diferencial agora é a oferta de dispositivos que permitem a leitura desses arquivos com maior mobilidade, como laptops e smartphones.
“O Kindle veio para popularizar os leitores de livros digitais, que estão mais compactos e modernos”, observa. Para o especialista, o impacto do e-book é real, mas não deverá ser tão avassalador porque a música é mais popular no País do que o livro.

Pesquisador diz que livro tradicional vai acabar

Para o doutor em Ciência da Comunicação pela Universidade Federal de São Paulo (USP)  José Antônio Rosa, o livro tradicional está com os seus dias contados. Autor de mais de 30 livros nas áreas de gestão e comunicação, o pesquisador observa que prova disso é que o Brasil vende menos livros hoje do que há dez anos.
Contribui com essa realidade a concorrência com a televisão, revistas e jornais. Além disso, os índices de analfabetismo funcional - pessoas que não conseguem ler textos longos - só crescem em todos os países. Conta também o fato de os indivíduos possuírem hoje, com a internet, infinitas novas alternativas para buscarem informações. “O livro em papel está no fim do seu ciclo de vida”, diz, taxativo, acrescendo que, como produto, ele não tem mais o custo e a agilidade compatíveis com os tempos modernos.
Para tentar minimizar esses efeitos, as editoras investem nos best-sellers. Além disso, há uma explosão de lançamentos acompanhada de uma redução nas tiragens. Só na área de Administração, cerca de 300 livros são lançados por mês no Brasil.
A Câmara Brasileira do Livro revela que, em 2008, o mercado editorial faturou R$ 3,3 bilhões. Foram publicados 51.129 títulos (mais 19,52% em relação a 2007) e produzidos 340.274.195 exemplares (menos 3,17% na comparação com o ano anterior). Rosa explica que todo esse movimento será potencializado agora com o livro digital. Mesmo com o ser humano nem sempre recebendo bem mudanças radicais, não há como as editoras e autores fugirem dessa realidade. “O declínio das vendas dos livros de papel será mais rápido agora que as mídias alternativas começam a mostrar a sua cara”, aposta.
Para o professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e coordenador do Centro Interdisciplinar de Pesquisas em Comunicação e Ciberculturas (Cencib), Eugênio Trivinho, apesar das quedas nas vendas, o livro mantém a sua força cultural. E assim permanecerá. “O livro pode mudar de suporte, mas vai sobreviver”, assegura. A expectativa é que essas mudanças provocadas pela chegada do livro eletrônico provoquem um rearranjo não só no modelo de negócios das editoras, mas no próprio comportamento das pessoas em relação à leitura.
 Substituir o hábito de folhear as páginas de um livro pelo down-load de capítulos pode parecer inimaginável para boa parte dos amantes da leitura. Entretanto, há uma nova geração surgindo e completamente adaptada aos meios digitais. Isso não significa, porém, que a tecnologia criará o hábito da leitura. “Mesmo os jovens mais imersos na tecnologia não formarão o hábito se não tiverem incentivo da família e da escola”, afirma Trivinho.

eBookStore quer chegar a 300 mil títulos

ookStore brasileira, espera alcançar a meta de ter 300 mil títulos nacionais em catálogo até 2012 e um milhão em cinco anos. O portal www.gatosabido.com.br fechou uma parceria com a COLL-ER, uma das maiores livrarias virtual inglesas, e quer crescer nesse mercado.
Com o objetivo de ser um canal de distribuição de e-books, a GatoSabido oferece títulos de editoras nacionais e internacionais, além de autores independentes. O portal disponibiliza sofisticados mecanismos de busca que ajudam o leitor a fazer o download de pequenos trechos das obras para depois decidir pela compra, além de poder obter informações detalhadas dos livros, como resenhas, editoriais e vídeos.
O formato de arquivo que o portal irá utilizar possibilitará ao leitor aumentar e alterar o tipo de fonte. O usuário pode gravar suas páginas com os Bookmarks, utilizar a função de procurar no texto, além de dispor da maior biblioteca de títulos nacionais. A GatoSabido também oferece o seu próprio leitor digital, o COOL-ER, o primeiro e-reader do Brasil, com preço sugerido de R$ 750,00.

Tecnologia incentiva a criação de modelos mais sofisticados

O publicitário e escritor Rudiran Messias, 31 anos, foi um dos primeiros brasileiros a comprar o Kindle Internacional. Amante das novas tecnologias e com uma biblioteca particular em casa, ele fez questão de unir as duas paixões tão logo ficou sabendo que a Amazon passaria a comercializar o e-reader também para o Brasil, através do seu site.
Para ele, porém, os e-books jamais vão substituir os livros de papel na sua totalidade, e sim estimular a sua evolução. Ele aposta que os livros pocket americanos, impressos em papel jornal de baixa qualidade que amarelam com o tempo, sumam do mercado. “Se é para comprar um livro assim, é melhor ter a versão digital”, diz. Por outro lado, devem ganhar espaço as obras com uma maior qualidade de papel e impressão, como os livros pop-up - com ilustrações que se desdobram e se montam em três dimensões.
Messias também acredita que leitores como o Kindle, no futuro, devem substituir os livros didáticos. Um aparelho destes armazena de 1.500 a 3.500 livros-texto, com acesso a enciclopédia e internet e possibilidade de atualizações de conteúdo instantâneas. “Mesmo não representando o fim do livro impresso, o advento dos e-books representa um impacto importante no mercado editorial, e as editoras que não souberem acompanhar este movimento poderão perder uma fatia considerável de seu público”, projeta.
Autor de livros como Tabus, Perversões e Outras Catarses e tendo publicado contos em antologias como 101 que Contam e 30 Contos Imperdíveis, Messias aposta que os e-readers são ainda uma ferramenta capaz de fazer com que os autores ganhem mais autonomia.
Para quem tem conhecimentos básicos de programação html, formatar um livro no Kindle é relativamente fácil. E, uma vez publicado, é possível que o autor tenha o controle total das unidades vendidas. “O royalties são transferidos direto para a conta. É tudo transparente e perfeito para jovens autores americanos”, diz. Para os brasileiros, isso se complica um pouco porque é preciso ter uma conta bancária americana vinculada ao perfil de autor/editor da Amazon.

Zahar avança e negocia contratos com autores brasileiros e estrangeiros

A Editora Jorge Zahar está andando na frente do mercado brasileiro e já possui uma política clara com relação ao livro digital: onde a maioria das editoras vê riscos, a Zahar enxerga oportunidades. Depois de pesquisar a fundo esse tema nos últimos dois anos, iniciou em 2009 a renegociação dos contratos com autores brasileiros e estrangeiros.
Dos 1,2 mil títulos disponíveis, 400 estão com os direitos liberados para publicação da versão digital e 40 prontos para a conversão. Até março, a meta é disponibilizar pelo menos 200 na internet.  “Este é um mundo novo que se abre e do qual queremos participar”, diz a diretora-executiva da editora, Mariana Zahar.
As adaptações dos contratos firmados com os autores são necessárias porque, com a conversão do papel para o digital, os custos acabam sendo alterados. De acordo com Mariana, o retorno dos autores brasileiros está sendo bastante positivo, assim como o dos americanos, mais enraizados na cultura do livro digital. Já na França a dificuldade é maior.
A executiva acredita ainda que o e-book é uma saída para o combate à pirataria, prática que existe desde os anos 1980, principalmente nas escolas e universidades, com as cópias de capítulos de livros. “Fala-se como se esse problema fosse começar agora, com o mundo digital. Mas isso nos acompanha há 30 anos.” O preço dos livros eletrônicos é 30% menor do que o de capa do livro impresso. Assim, a expectativa é que as pessoas sejam estimuladas a comprar essas versões em vez de fazer cópias ilegais.

Kindle baixa uma obra em 60 segundos

O Kindle Internacional chegou ao Brasil no final do ano passado, com a decisão da Amazon de permitir a comercialização do produto através do seu site para mais de 100 países. Hoje, um usuário brasileiro interessado no produto pagará cerca de US$ 279. Acrescido do frete e do imposto de importação, o dispositivo sai por cerca de R$ 1 mil.
Com capacidade para armazenar 1,5 mil livros, o e-reader permite aos usuários acesso via internet sem fio aos títulos comercializados no site da Amazon. A alta velocidade de download através da rede 3G - um livro em até 60 segundos - e a opção para que os textos sejam lidos para o usuário são as outras atrações do leitor. É possível escolher entre a voz feminina e a masculina e até a velocidade da leitura.
No final do ano passado, depois das vendas de Natal, a Amazon anunciou que, pela primeira vez, as vendas dos livros digitais superaram as dos livros físicos.

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