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ENTREVISTA ESPECIAL

- Publicada em 04 de Agosto de 2014 às 00:00

Simone Leite quer desburocratizar sistema estatal


Antonio Paz/JC
Jornal do Comércio
A candidata Simone Leite (PP) disputa pela primeira vez uma vaga no Senado Federal. Empresária conhecida na Região Metropolitana, afirma, nesta entrevista ao Jornal do Comércio, que suas bandeiras para esta eleição serão a luta pelo fortalecimento do municipalismo e o desejo de facilitar a vida dos cidadãos com a desburocratização do sistema estatal e com o investimento em tecnologias que acelerem os processos.
A candidata Simone Leite (PP) disputa pela primeira vez uma vaga no Senado Federal. Empresária conhecida na Região Metropolitana, afirma, nesta entrevista ao Jornal do Comércio, que suas bandeiras para esta eleição serão a luta pelo fortalecimento do municipalismo e o desejo de facilitar a vida dos cidadãos com a desburocratização do sistema estatal e com o investimento em tecnologias que acelerem os processos.
Ao comentar a reforma política, a presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Canoas, licenciada para concorrer, defende que os candidatos que disputam a reeleição se afastem dos cargos, pelo menos, três meses antes do pleito. Para Simone, a atual legislação, que permite a permanência nos postos para disputar a renovação do mandato, favorece apenas aos candidatos que já estão nos cargos.
A candidata disse ainda que pretende trazer para a política a experiência do diálogo. “Fazer gestão com muito diálogo. Durante toda a minha caminhada como liderança empresarial, sempre tivemos anseios diferentes. Um quer de um jeito, outro quer de outro, um se beneficia mais, outro se beneficia menos. Por isso, temos que ter diálogo e consenso.”
A professora de História, que já lecionou para crianças e adultos, também deseja que escolas estaduais tenham mais poder de gestão. Além disso, aponta que há necessidade de investimentos nas escolas para atrair os alunos de volta às salas de aula. Sobre os protestos populares que começaram em junho do ano passado, avalia que não houve ressonância das reivindicações junto aos políticos, mas que as eleições serão um boa oportunidade para o cidadão se fazer ouvir.
Jornal do Comércio – A senhora começou sua trajetória no Executivo em um governo do PT. Como foi a experiência na Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico de Canoas?
Simone Leite – Em 2008, o PT ganha a eleição em Canoas. E o prefeito (Jairo Jorge) me liga e diz: “Estou te convidando para ser secretária do Desenvolvimento”. E eu disse: “Eu? Eu não votei em ti, eu não fiz campanha para ti, não vou me filiar no PT”. Mesmo assim o convite seguiu. E o Jairo Jorge me disse uma coisa que ficou marcada e fez com que eu aceitasse: “Simone, eu não sou prefeito do PT, fui eleito para ser prefeito de Canoas”. Naquele momento, vi a boa intenção do prefeito e aceitei o desafio. Fiquei dois anos e houve três projetos incríveis que colocamos em prática. Reduzimos impostos e aumentamos a arrecadação. E, assim, contra fatos e dados não existem argumentos. Empresas que estavam em Porto Alegre migraram para Canoas, e a gente conseguiu aumentar a arrecadação. A segunda inciativa foi o Escritório do Empreendedor, onde há o atendimento por todas as secretarias. Isso faz com que o empreendedor poupe tempo. Diminui a burocracia. E uma terceira iniciativa foi a criação do Fundo Municipal de Desenvolvimento Econômico. Colocamos nele recursos que são destinados às empresas que queiram ampliar suas atividades, crescer, empregar mais e também para aquelas que estão saindo de outros municípios e indo para Canoas. É uma forma que a gente tem de reduzir IPTU, ISS, ITBI, tudo aquilo que a prefeitura, agente controlador, pode abrir mão em função dessas empresas.
JC – O que destacaria de ações à frente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Canoas?
Simone – Um dos auges da minha condição de liderança foi o movimento Chega de Mordida. Fizemos junto com a Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre, a Associação Gaúcha para Desenvolvimento do Varejo e tantas outras entidades. Tivemos reunidos por seis meses, todas as semanas. Eu, particularmente, estava aqui a toda hora, na Assembleia Legislativa, conversando com os deputados, porque nós conseguimos revogar um decreto que cobrava 5% de imposto dos micro e pequenos empresários sob as compras que eles faziam fora do Estado do Rio Grande do Sul. Então, toda vez que um empresário compra algum produto que é fabricado fora do Estado, tem uma incidência de 5% de imposto. E isso é um custo a mais para o micro e pequeno empresário que não tem hoje como suportar. Fizemos todo um movimento, carro de som em frente ao Palácio Piratini, um pedido muito especial ao nosso governador (Tarso Genro, PT), que acabou não atendendo. Então, esse imposto segue sendo cobrado.
JC – Que experiências do ramo empresarial pretende levar para o Senado?
Simone – Entendo que precisamos trazer gestão e foco para a política. Não podemos querer tudo, sermos imediatistas. Precisamos plantar e depois colher. E, por isso, aceitei tanto esse desafio, porque tenho dois filhos e entendo que o mundo em que eles vão viver precisa ser melhor do que eu estou vivendo hoje. Para empreender, tudo precisa melhorar. Mas a gente não vai conseguir hoje fazer uma ação e amanhã já ter um resultado. Então, o caminho é ter foco, paciência. Fazer gestão com muito diálogo. Durante toda essa minha caminhada como liderança empresarial, sempre teremos anseios diferentes. Um quer de um jeito, outro quer de outro, um se beneficia mais, outro se beneficia menos. Por isso, temos que ter diálogo e consenso. Eu posso abrir mão de alguma coisa em detrimento do meu parceiro, do meu concorrente. Então, isso é o que eu desejo, implementar isso para a política.
JC – Está de acordo com o encaminhamento da renegociação da dívida do Estado?
Simone – O Senado estará votando agora. Eu penso que nós vamos ter que avaliar qual vai ser o encaminhamento, que me parece que não tem outra saída a não ser fazer a renegociação. Mas temos que pensar também que o Estado está endividado. Não sei se a renegociação da dívida vai resolver o problema do nosso Estado, que hoje coloca 13% de toda sua receita para pagar dividas. A gente não tem mais capacidade de fazer investimentos. Então, esse assunto vai ser concluído esse ano ainda, mas ele precisa ser retomado para que, de forma efetiva e eficaz, seja solucionado.
JC – Como se posiciona em relação à reforma política? O que pensa sobre financiamento privado das campanhas?
Simone – Acho que antes de discutir essas questões de financiamento público ou privado, precisamos fazer com que todos os candidatos deixem os cargos que ocupam para poder concorrer a qualquer um dos pleitos. Penso que, no mínimo, deveriam ser três meses de afastamento, porque mesmo que a gente tenha o financiamento privado, há mistura do público na campanha eleitoral. Temos deputados que são candidatos, temos prefeitos que são candidatos, governadores que são candidatos, senadores que são candidatos e todos eles ainda estão cumprindo seus mandatos. Então, eles têm toda uma máquina que os adversários não têm. Isso é uma questão que tem que ser muito trabalhada na reforma política. Quanto a essa questão do financiamento das campanhas, é preciso criar um regramento para que as campanhas não custem tão caro, porque não adianta dizer “eu não vou gastar muito” se meu adversário vai. Eu posso perder a eleição em função de não estar alinhada com essa questão. Assim, o público tem que pagar por isso? Desta forma e a esse valor, não. Temos que repensar a forma de se fazer campanha política.
JC – Há quem defenda a extinção do Senado.
Simone – Não, penso que o Senado cumpre com um papel importante na defesa do Estado em si. O que me parece é que temos que dar mais força, mais importância ao Senado, até nessa condição dos presidentes da República, ministros, enfim, estarem mais alinhados com essas necessidades. Se a gente for pensar, os recursos são destinados hoje para os Estados através de investimentos de forma aleatória, não existe um regramento.O Senado pode cumprir com esse papel, de analisar projetos e a partir do consenso, do entendimento dos senadores, fazer a destinação de investimentos específicos para os estados.
JC – A senhora foi professora, que propostas tem para a educação?
Simone – Fui professora pelo Estado e pelo município. Penso que, no Estado, a escola, a diretora e as pessoas que atuam ali precisam ter mais autonomia. Se, por exemplo, quebra uma cadeira: eu tenho que fazer uma requisição, e só um ano depois vem a cadeira. É uma burocracia. O mesmo acontece com relação à falta de merenda escolar ou à falta de professores. A gestão deve ser feita pela diretora da escola, pelo grupo administrativo da escola e pelos pais. Tem que vir uma verba e a escola administrar para saber o que é melhor, quais são os recursos e onde eles vão ser investidos. Outra questão que vejo, e aí sim o Senado pode atuar, é necessidade que as escolas têm de ser mais atrativas para os alunos. É muito visível na minha região, por exemplo, que há, na maioria das casas, televisões a cabo. Então, uma criança que tem toda essa tecnologia em casa, ela vai para a sala de aula para professora escrever em um quadro verde com giz? Qual estímulo ela tem para ir para a sala de aula? Precisamos modernizar e trazer novas tecnologias para dentro das escolas. Fui uma professora, que se destacou, por ser muito criativa. Mas eu estava no auge, iniciando, tinha toda uma vontade. Temos dois aspetos: trazer o aluno para que ele tenha vontade de estar na sala de aula e a necessidade de se valorizar o professor, para que ele também tenha vontade de fazer o novo e de botar toda sua energia, estando ele valorizado.
JC – Que outras prioridades vão nortear o seu mandato no Senado?
Simone – O meu forte no Senado será o municipalismo. Tenho convicção que devemos valorizar e empoderar a administração municipal. A vida do cidadão acontece na cidade. O cidadão sabe onde mora o prefeito, sabe quem são os vereadores. Todo o ônus do desenvolvimento acontece na cidade e é lá que a população acontece. É lá que os impostos são arrecadados. Mas, toda a riqueza que foi gerada nas cidades vai para a União. O governo federal abre mão do IPI dos carros, só que quem vai deixar de receber o dinheiro é o prefeito, porque a União arrecadou menos, e é o IPI que forma o fundo dos prefeitos, dos municípios. Só que, com isso, recebe menos recursos. Sempre foi assim. Temos que dividir melhor os recursos. Outra prioridade será simplificar a vida do cidadão e a vida do empreendedor. Percebemos, e digo isso na condição de empresária, que a burocracia custa mais caro do que a carga tributária, porque a gente tem que investir muito mais em pessoas, precisa estar atento diariamente a novas regras que surgem. O micro e um pequeno empreendedor, para abrir sua empresa hoje, é fácil. Mas, fechar? Não consegue. Se não recolho uma guia, fico criando passivo. Só que quando quiser zerar para empreender de novo, não dá, porque estarei com o nome sujo. Mas quanto custa isso? É muito caro. Acaba com a vida do empreendedor.
JC – Os protestos que vêm ocorrendo desde o ano passado foram ouvidos?
Simone – Penso que as vozes das ruas não foram ouvidas e, para mim, a voz mais importante é a do dia 5 de outubro. Eu acho legítimo, fantástico (as mobilizações). Eu participei. Lamento como prosseguiu, com questões de quebradeira. Acho que não fez parte da ideia inicial, mas se a gente for falar dos propósitos, é toda uma geração nova. É este jovem que eu estava comentando que veio para rua com anseio de mudança, que está cansado, com uma rebeldia do tipo “parem de roubar, vamos investir no que de fato é importante, precisamos de uma nova cara para o País”, e esse jovem e a sociedade, de forma geral, terão condição de fazer sua escolha em outubro. Então, o voto consciente é muito importante.

Perfil

Gaúcha de Estância Velha, a candidata ao Senado Federal, Simone Leite (PP), deixou de ser professora pela dificuldade de se manter com o baixo salário da profissão. Migrou para Canoas e, hoje, administra a empresa Urano, responsável por balanças eletrônicas. Atualmente, a ex-secretária de Desenvolvimento Econômico de Canoas (2009-2011) está licenciada da presidência da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Canoas para concorrer ao pleito. Foi a primeira mulher, em 75 anos da entidade, a ser presidente. Filiou-se ao Partido Progressista em 2012 a convite da vice-prefeita de Canoas, Beth Colombo. De 2011 a 2013, também foi vice-presidente da regional da Federasul (Federação das Associações Comerciais e de Serviços do Rio Grande do Sul) no Vale do Sinos. Em 2013, foi uma das lideranças na mobilização do varejo gaúcho em torno do movimento Chega de Mordida, que derrubou, com apoio dos deputados estaduais, o Imposto de Fronteira através de um decreto legislativo. Simone, 37 anos, é casada e tem dois filhos.
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