Não há situação socioeconômica tão feia ou difícil em qualquer cidade, estado ou mesmo no Brasil que não se possa descobrir alguma beleza em sua própria fealdade. Por exemplo, o Brasil possui três bônus e que permitiram, pelo menos até agora, embora as novas e sombrias previsões quanto ao crescimento do PIB e à inflação em 2014, proteção em relação à crise econômico-financeira mundial.
Esta, pelo menos, é a opinião de renomados analistas que citam que os três bons pressupostos expõem a beleza em meio à feiura da situação: a taxa de juros, os depósitos compulsórios e as reservas internacionais. Ou seja, em caso de necessidade, o Banco Central tem espaço para relaxar mais a política monetária e conta com recursos disponíveis para serem usados se o comércio externo precisar. E, tudo indica, o déficit em conta corrente mostra que será necessário recorrer a eles.
Mas, a liquidez interna e externa e os juros são três pilares que dão condições excepcionais para o governo. No cenário externo, a renegociação da dívida de países como a Grécia desanuviou o panorama europeu há um bom tempo. Houve uma solução negociada e que foi bem melhor do que um rompimento. Na época, foi um processo trabalhoso para que o renegociado, no caso a Grécia, valorizasse o que estava recebendo. Da mesma forma, o tamanho da perda líquida para os credores privados (haircut) precisava de um nível de conforto, para que não passasse a impressão de que o devedor levou vantagem. Atualmente, tudo indica que o mundo não tem problema de liquidez como o de 2012. A liquidez quer e vai trabalhar e o Brasil se aproveitou da liquidez internacional como poucos no mundo. Por isso, o real está sendo visto como uma das moedas de reserva. A crise no mundo contribui para diferenciar um país emergente que teve compromissos e coerência.
Ainda bem que há lampejos de otimismo em meio a tantas descrenças atuais, com um desassossego grande por conta de manifestações que, geralmente, têm descambado para a violência sem nada resolveram, como é hábito. Ora, se as previsões otimistas, de uns poucos, é verdade, se confirmarem, de fato milhões de brasileiros que sofreram com a hiper-inflação, juros altos, planos econômicos fracassados e desilusões políticas terão motivos para, ainda em vida, vibrarem com o novo patamar que o País alcançará. Não foi fácil nem começou ontem, conforme, ajuizadamente, tem revelado a presidente Dilma Rousseff (PT), para quem o trabalho de base de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso (PSDB) foi muito importante, com o Plano Real e a Unidade Real de Valor, a URV, na fase de transição. E foi algo de fato extraordinário. Em um final de semana o Brasil trocou de moeda e os preços começaram a ficar estabilizados. Era o início do fim da hiper-inflação, que chegou a 80% ao mês, um escândalo nacional e mundial, apesar de que a Alemanha, na Primeira Guerra Mundial, passou por problema até pior. Mas a desgraça alheia jamais pode servir de consolo para as nossas mazelas e achaques socioeconômicos. Apenas de lição para que sejam evitados os mesmos erros e buscados os mesmos acertos. Então, que estes pressupostos contra a crise sejam confirmados e possam ser aplicados ainda em 2014.