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mercado de capitais

- Publicada em 04 de Agosto de 2014 às 00:00

Táticas redobradas para ganhar na bolsa


YASUYOSHI CHIBA/AFP/JC
Jornal do Comércio
Investidores terão que definir bem as estratégias para enfrentar o baixo crescimento econômico, pressão por aumento de preços, além do vaivém de indicadores ao sabor das pesquisas eleitorais. Soma-se a isso as incertezas em relação ao fim dos incentivos econômicos nos EUA, crise na Europa e tensões geopolíticas na Ucrânia e Oriente Médio

Investidores terão que definir bem as estratégias para enfrentar o baixo crescimento econômico, pressão por aumento de preços, além do vaivém de indicadores ao sabor das pesquisas eleitorais. Soma-se a isso as incertezas em relação ao fim dos incentivos econômicos nos EUA, crise na Europa e tensões geopolíticas na Ucrânia e Oriente Médio

Ganhar (ou não perder) dinheiro até o final de 2014 será um trabalho mais difícil para os gestores de fundos do que foi no primeiro semestre. Pela frente virão aumento de preços represados (gasolina, energia, serviços públicos etc.) e remédios amargos como corte nos gastos públicos e aperto nos juros. Como há mais dúvidas do que certezas, a melhor estratégia é diversificar: distribuir o dinheiro em renda fixa, DI, ação, dólar e multimercado.

Com a aplicação em renda fixa, o investidor se protege em caso de redução nos juros — cenário provável se a economia se deteriorar mais. Com o investimento nos fundos DI, ganha-se em caso de aumento de juros devido à persistência da inflação. Os fundos cambiais são uma proteção caso os EUA subam os juros, retirando dinheiro dos países emergentes. Ouro será beneficiado se as crises na Ucrânia e no Oriente Médio perdurarem. Todos esses cenários podem se confirmar, alternando-se nos próximos meses, valorizando uma e corroendo outra aplicação.

Se a pessoa tiver um pouco em cada segmento, é só esperar o investimento maturar. Ganha quem sair na hora certa (na alta). Na primeira metade de 2014, perdeu quem apostou que o dólar subiria (a moeda americana teve perda de 6%). A inflação se acelerou e corroeu investimentos que seguem os juros pós-fixados — caso dos fundos DI. Por outro lado, impulsionou os que seguem índices de preço e juros prefixados — fundos de renda fixa e de índices de preços.

A previsão para o PIB foi revista sucessivas vezes para baixo, reduzindo as perspectivas para as ações. A bolsa só reagiu a partir de abril com o crescimento dos candidatos de oposição nas pesquisas eleitorais, sob o argumento de que conduziriam uma gestão menos política e mais focada no lucro das estatais.

O ranking, preparado pelo Sistema Comdinheiro de acompanhamento de ativos financeiros, inclui fundos de aplicação mínima de até R$ 100 mil, com início anterior a 1 de janeiro deste ano. São fundos com mais de cem cotistas e que não são exclusivos nem são para investidores qualificados. Não foram incluídos produtos para clientes do segmento private (gestão de fortuna).

Um em cada quatro fundos cumpriu meta no semestre

Apenas um de cada quatro fundos de investimento multimercado  aqueles livres para apostar em ações, juros e moedas - conseguiram render mais do que o CDI (juros dos empréstimos entre bancos) no primeiro semestre. A notícia é uma tragédia para os gestores que, por mais estudos e experiência acumulada, não conseguiram cumprir o prometido: cuidar do dinheiro do cliente melhor do que ele faria se comprasse títulos públicos ou privados de baixo risco.

Apenas 64 de um total de 277 desses fundos bateram o CDI, que ficou em 4,97%, segundo estudo do Sistema Comdinheiro. De um total de R$ 60,9 bilhões nesses fundos, só R$ 14 bilhões atingiram essa meta. As explicações são várias: gestores apostaram na alta do dólar, mas a moeda norte-americana recuou; a inflação acelerou mais do que o previsto; os títulos e ações de países emergentes derreteram com a perspectiva de retirada dos estímulos nos EUA.

No caso dos fundos DI, só 3 de 135 fundos superaram o CDI. Desse total, 12 perderam para a inflação (3,75% do IPCA) e 4 renderam menos do que a poupança (3,39% no primeiro semestre). Pelo caminho, ficaram todos os fundos com taxas de administração elevada, que corroem o rendimento.

Os fundos de renda fixa, que investem em títulos prefixados, foram os ganhadores do semestre marcado pela estabilização dos juros. De 194 fundos, 68 superaram o CDI. Esses fundos têm títulos antigos com taxas elevadas, que se valorizam com juros em queda ou estáveis.

“Poucos fundos estão conseguindo entregar. O cliente está cético, não acredita mais em guru do mercado. A seleção da aplicação fica cada vez mais criteriosa”, disse Beto Domenici, estrategista da gestora Rio Bravo.

“É difícil mostrar consistência em longo prazo. Os vencedores do ranking do ano passado são os perdedores deste ano e vice-versa”, disse Rafael Paschoarelli, professor da USP. O resultado foi que os fundos como um todo captaram R$ 1,9 bilhão em recursos no primeiro semestre, já descontando os resgates. Foi o pior desempenho ao menos desde 2002, início da pesquisa. Em 2002, período tumultuado pela eleição do presidente Lula, houve saques (líquidos de aplicações) de R$ 22,9 bi-

lhões. No primeiro semestre do ano passado, a captação somou 

R$ 103,59 bilhões.

Renda fixa atrelada à inflação deve ter melhor retorno no ano

Depois de liderarem a lista de melhor rentabilidade no primeiro semestre, os fundos de renda fixa com títulos atrelados à inflação devem encerrar o ano com o melhor desempenho na categoria, segundo especialistas consultados. A percepção se baseia no cenário de inflação elevada, que favorece os fundos que têm em sua carteira títulos com parte de juros prefixados mais um índice inflacionário, como o IPCA. Mas outros fatores devem influenciar o desempenho desses produtos, entre eles a incerteza em torno da política monetária do Banco Central.

As eleições também terão peso no retorno dos títulos. “Há um lado político que eleva a volatilidade. Dependendo do resultado eleitoral, haverá um efeito sobre os juros dos títulos públicos”, avalia Alexandre Chaia, professor de finanças do Insper, instituto de ensino.

O investidor que ainda não escolheu um fundo de renda fixa deve priorizar aqueles atrelados à inflação ou com exposição a títulos privados, afirma Chaia. “O crédito privado, por conter o risco adicional da empresa emissora, costuma dar um retorno superior ao dos títulos públicos, cujo risco de crédito é o do governo”, diz. Porém, antes de escolher um fundo que aplique em títulos privados, é preciso conhecer os emissores desses papéis, analisando os riscos envolvendo os negócios dessas empresas.

De maneira geral, os fundos de renda fixa que tiveram melhor desempenho no primeiro semestre apostaram em uma carteira de títulos atrelados à inflação, além de terem sido beneficiados por cenário de elevação da taxa básica de juros.

A conclusão se baseia na relação dos fundos com maior rentabilidade feita pelo Sistema Comdinheiro. A estratégia dos gestores dos três fundos que lideraram a lista foi a de superar a variação do IMA-B, índice baseado em uma carteira teórica de títulos públicos indexados à inflação, as NTN-B (Notas do Tesouro Nacional B).

O fundo campeão, da Icatu Vanguarda, montou um portfólio com papéis com vencimento mais longo, explica Bruno Horovitz, responsável pela distribuição da empresa. “O prazo médio de vencimento dos títulos da carteira desse fundo gira em torno de 10,5 anos, 11 anos.”

Para superar o IMA-B, o gestor precisou apostar nos títulos — e prazos — que avaliava que teriam maior retorno, montando uma carteira com percentual diferente de exposição a esses papéis. Foi a mesma estratégia adotada pelo fundo do HSBC, que também priorizou títulos com vencimento mais longo, afirma Adilson Ferrarezi, diretor de fundos da HSBC Global Asset Management.

Já Marcelo Mello, vice-presidente de investimentos da SulAmérica, atribui a boa performance de seu fundo ao IPCA mais alto e também à marcação a mercado (leia mais ao lado). “A mesma dinâmica será vista no segundo semestre. O investidor vai continuar preferindo a renda fixa”, diz.

Os dois fundos que lideram a relação têm em comum uma baixa taxa anual de administração: 0,5%, no caso da Icatu Vanguarda, e 0,4%, da  SulAmérica. A aplicação inicial mínima nos dois casos ajuda a explicar a taxa menor — 

R$ 20 mil e R$ 5.000,00, respectivamente. “Quanto mais recursos o investidor tem para aplicar, mais acesso ele tem a instrumentos melhores”, afirma Chaia. Mas o valor da taxa não deve ser a única preocupação do pequeno investidor. “Ele deve analisar a rentabilidade líquida do produto. Há fundos que cobram taxas maiores, mas entregam bons resultados”, avalia Chaia. 

Títulos públicos ou privados sofrem volatilidade

Apesar de o nome renda fixa passar a ideia de tranquilidade, os fundos que aplicam em títulos públicos ou privados têm uma pitada de volatilidade. Isso ocorre porque os papéis públicos nos quais eles investem passam pela marcação a mercado, mecanismo que atualiza, diariamente, o valor do título pela diferença entre a taxa de juro atual e a de emissão do papel.

Essa ação, obrigatória, afetou a rentabilidade dos fundos de renda fixa a partir de julho de 2011, quando o Banco Central começou a reduzir a taxa básica de juros, a Selic. Considere o exemplo de uma Letra do Tesouro Nacional (LTN) — título prefixado —

que pagava juros de 12% ao ano em 2011 e que foi mantida pelo investidor até o seu vencimento. Entre 2011 e 2013, a Selic caiu para 7,25% ao ano e, consequentemente, o valor desse título também.

No cenário acima, o título que pagava 12% ao ano tem ganho de capital, pois o juro oferecido pelo papel é maior do que os novos papéis emitidos. Quando a situação se inverteu e a Selic voltou a subir — hoje está em 11% ao ano —, os títulos que tinham juros menores tiveram perdas pela marcação a mercado, pois, para vendê-los, o investidor ou gestor do fundo precisou oferecer um desconto no valor de face do papel. Isso afetou a rentabilidade dos fundos que tinham esses papéis em sua carteira. 

Multimercado sobe com desempenho do ouro e da Bolsa de Nova Iorque

Os fundos multimercado com melhor rendimento no primeiro semestre apostaram no ouro e na Bolsa de Nova Iorque. Apesar do bom rendimento no primeiro semestre, o desempenho pode não se repetir no restante de 2014. Esses fundos enfrentam uma nuvem de desconfiança devido às perspectivas de acentuada volatilidade, trazidas pelas eleições presidenciais no Brasil e pelos conflitos geopolíticos recrudescendo no mundo.

Para John Schulz, professor de finanças da BBS Business School, o cotista deve conhecer o histórico do fundo e ter paciência. “O investidor acompanha muito o retorno anterior. Por exemplo: ele vê o retorno do fundo no ano passado, de 20%, e aplica nele, mas precisa de cuidados para entender o risco que o administrador está correndo, podendo, assim, ter grandes prejuízos”, afirma.

O fundo do segmento que teve o maior retorno, de acordo com o ranking elaborado pelo Sistema Comdinheiro de acompanhamento de fundos, guarda um exemplo da volatilidade enfrentada nesse tipo de fundo.

Cambiais perdem com o recuo do dólar

Entre as categorias de fundos avaliadas pelo Sistema Comdinheiro, o cambial foi o único com rentabilidade negativa para os investidores no primeiro semestre deste ano. E os analistas não vislumbram uma mudança significativa até o fim de 2014, pois ele é atrelado à moeda norte-americana, cuja valorização diante do real não deve ocorrer tão cedo, dizem.
Por isso, a indicação é que o investimento seja usado por quem necessite proteger o dinheiro em outra divisa. Ou seja, ele é interessante para quem terá contas a pagar em moeda estrangeira no futuro. Segundo o analista Raphael Figueredo, da Clear Corretora, a possibilidade mais concreta de uma mudança significativa na cotação da moeda norte-americana é no caso de piora dos confrontos na Ucrânia e no Oriente Médio. “Se a tensão geopolítica aumentar e a palavra guerra for mencionada, o dólar começa a se valorizar e pode haver uma corrida para o câmbio”, disse.
É consenso também entre gestores desse tipo de fundo que não haverá mudanças nos próximos seis meses, ainda que a instabilidade no exterior recrudesça. Se a situação não mudar, então, o rendimento desses fundos deve continuar negativo, já que, além de acompanhar a moeda norte-americana, eles ainda cobram taxas de administração. O IR só incide sobre ganhos obtidos.
O fundo LP 100 mil do Banco do Brasil foi o que teve melhor desempenho, -6,27% no período. Na avaliação de Marcelo Marques Pacheco, gerente executivo de fundos multimercado e offshore do BB, a cotação do dólar diante do real está baixa e deverá subir.
Para Ricardo Valente, gestor do CSHG Fundo Cambial de Longo Prazo, do Credit Suisse, que variou -6,32% nos primeiros seis meses do ano, a perspectiva é que o dólar  — e consequentemente o fundo cambial — suba. “Acreditamos que o crescimento lá fora vai acontecer e aqui, depois das eleições, haverá um ajuste da conta com câmbio mais desvalorizado.”
Valente avalia que o fundo cambial também pode ser uma forma de diversificar investimentos. Para os responsáveis do fundo Itaú Hedge Cambial, que perdeu 6,36% de janeiro a junho, não há nenhuma estratégia diferenciada para que este tipo de investimento tenha um rendimento significativamente maior ou menor.
Os fundos DI com taxa de administração baixa, de preferência menor do que 0,5% ao ano, são uma boa alternativa para o investidor que busca um rendimento razoável nos próximos meses, sem correr grandes riscos de perda. Segundo os gestores dos fundos que mais renderam no primeiro semestre, o retorno desse investimento deve se manter ao redor de 5% de julho a dezembro, já que a taxa básica de juros (Selic), que é seu principal parâmetro, não deverá sofrer alterações.
Nesse caso o desempenho do fundo está ligado ao custo — o menor possível — e à existência de títulos privados, que pagam taxa superior aos do governo. Todos os fundos DI que figuram entre os 15 mais rentáveis têm taxas iguais ou inferiores a 0,5%.
Para o Santander, gestor do fundo de melhor rendimento líquido no período, com 5,06% no fundo VIP DI Crédito Privado, o mais provável é que a Selic se mantenha no mesmo patamar.
“Vemos uma provável manutenção dos níveis de retorno desse fundo. Ele é pós-fixado, então vai acompanhar os juros da economia”, afirmou o superintendente  executivo comercial da Santander Asset, Aquiles Mosca.
Conservador, ele tem 95% do patrimônio vinculado a títulos públicos pós-fixados ou em operações que acompanhem a variação do CDI ou da Selic. Geralmente, a maior parte do dinheiro é investida em títulos públicos conservadores, mas também pode ser alocado em títulos privados, como CDBs (Certificados de Depósito Bancário).
Esse fundo do Santander, por exemplo, investe em papéis privados. Por apresentar maior volatilidade, o investidor precisa assinar um termo de ciência de risco de crédito. A perspectiva de manutenção dos rendimentos para os próximos seis meses também é compartilhada por Fausto Silva Filho, gestor da XP Gestão, que alcançou 5,01% nos seis primeiros meses do ano. “Não enxergo nenhuma mudança para o semestre, a ideia é continuar com as posições pós-fixadas”, disse.
Apesar do rendimento, os investidores têm de ficar atentos à inflação dos próximos meses, uma vez que o Banco Central não acena com mudanças na taxa de juros até as eleições em outubro.

Opção controversa, fundo com só uma ação rende mais

Os fundos de ações que aplicaram exclusivamente em papéis de uma única empresa, uma técnica controversa por concentrar o risco, foram os que mais renderam no primeiro semestre, segundo levantamento do sistema Comdinheiro de acompanhamento de ativos financeiros.
O fundo BB Ações Cielo, do Banco do Brasil, teve retorno de 39,73% de janeiro a junho, seguido pelo fundo do Bradesco que também aplica nos papéis da operadora de cartões, com 39,7%. “A conjuntura tem favorecido muito as empresas de cartão de crédito. Houve melhora na renda das famílias, com índice de desemprego muito baixo, além da queda dos juros. Tudo isso motivou o consumo”, diz Jorge Marino Ricca, gerente executivo de fundos de ações do BB.
Para Joaquim Levy, diretor-superintendente da Bradesco Asset Management, contribuiu para a alta dos papéis da Cielo o fato de a empresa ser vista como uma “proteção contra a inflação” na bolsa. “As empresas de cartão ganham um percentual sobre o valor transacionado nas operações com esse meio de pagamento. O aumento nos preços, consequentemente, amplia o retorno da Cielo.” Também beneficiou a companhia a maior demanda por antecipação de pagamento — quando a operadora de cartões antecipa ao comerciante o valor de uma compra feita a prazo, cobrando uma taxa adicional pelo serviço.
O terceiro melhor desempenho no semestre ficou com o fundo de ações do Bradesco que aplica exclusivamente em ações da BB Seguridade, com retorno de 34,53%. “É o único papel do setor de seguros no Ibovespa, e este é um produto que tem taxa de crescimento significativa”, diz Levy. Há uma tendência de aumento na demanda por seguros de mais produtos além de automóveis, como residências. Segundo Levy, as seguradoras 
— assim como os bancos — se beneficiam do aumento da taxa de juros. Desde junho de 2013, a Selic subiu de 7,25% para 11% ao ano. O professor de finanças Gilberto Braga, do Ibmec-Rio, lembra que o investimento em fundos de ações envolve riscos, e que nem todas as aplicações desse tipo mostraram performance positiva no primeiro semestre. “As opções que aplicam exclusivamente em uma única ação ficam 100% dependentes do desempenho dessa empresa: se ela for mal, o investidor tem prejuízo. A falta de diversificação amplia o risco.” 
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