A alta tributação sobre os produtos, os encargos sociais sobre a folha salarial e a ineficiência da infraestrutura - essencialmente, de transporte - são postos como os principais entraves aos investimentos no Brasil, em comparação com outros países, como Coreia do Sul - e outros asiáticos - e Estados Unidos. A avaliação é de empresas gaúchas com atuação internacional.
Por outro lado, o investimento em inovação, o aproveitamento do potencial do mercado interno e a reforma fiscal são algumas das apostas para melhorar a competitividade do País no mercado internacional.
A Belsul, companhia gaúcha de importação e distribuição de matérias-primas no setor químico e petroquímico, atua, desde o ano passado, em Nova Iorque. De acordo com o diretor-presidente, Sérgio Corrêa, os Estados Unidos se tornaram ainda mais atraentes para os investidores após “revolução do shale gas”. Trata-se de uma fonte de energia abundante e de baixo custo, apesar de gerar controvérsias quanto ao seu impacto no meio ambiente. “O shale possibilitou matéria-prima muito barata para produção de termoplásticos e outros produtos, o que desencadeou uma série de investimentos que devem começar a maturar a partir de 2016 ou 2017”, projeta.
Entretanto, além da estabilidade econômica e da oferta energética atraente para seu setor, margens de tributação mais “estáveis” levaram a empresa ao país norte-americano. “Apesar de ser o mercado mais competitivo do mundo, possui um sistema de taxação mais transparente. Os players conhecem os valores dos negócios envolvidos e os preços relativos, com isso há estabilidade maior na margem operacional e possibilidade de planejamento da atuação. Além disso, a demanda por capital de giro lá tende a ser 30% menor do que aqui”, explica.
Corrêa destaca, ainda, o crescimento da integração entre Ásia e Pacífico. Chile, México, Peru e Colômbia assinaram, em fevereiro, um acordo para eliminar tarifas comerciais em 92% dos produtos que negociam entre si. Os três primeiros, ao lado dos Estados Unidos, fazem parte da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico. Vislumbrando oportunidades de cooperação entre Coreia do Sul e países da América voltados ao Pacífico, a Belsul abriu um escritório comercial em Seul. “Enquanto o Brasil segue voltado ao Mercosul, todas essas nações têm ou estão em processo de implantação de acordos com a Coreia. Trata-se de um país com sistemas comerciais e trâmites burocráticos facilitados”, avalia.
O grupo Randon, por sua vez, possui fábricas na Argentina, Estados Unidos e China, além de um centro de distribuição no país latino-americano. Segundo o vice-presidente das empresas Randon, Daniel Randon, a China tem similaridades com outros países emergentes, como o Brasil: principalmente, altos encargos sociais e inflação do custo da mão de obra. Entretanto, investimentos em infraestrutura e educação têm elevado a produtividade dos asiáticos. “A desoneração da folha tem contribuído para baixar um pouco os encargos no Brasil. Mas continuamos com três ou quatro vezes mais impostos, e o que poderia ser revertido em salário para o colaborador acaba se tornando despesa”, reclama.
O mercado externo representa 45% das receitas do Grupo. Para Randon, mudanças na tributação brasileira deveriam deixar o sistema mais transparente, além de impactar em matérias-primas básicas, como aço, alumínio e energia, com o objetivo de deixar o País mais competitivo. “A legislação não é clara e gera uma preocupação que exige ampla estrutura de pessoal na área fiscal, gerando custos e tomando muito tempo. Além disso, o Brasil, como exportador de commotidies agrícolas e minério, precisa de eficiência na matriz de transporte, uma logística melhor de portos, aeroportos e rodovias.”
Com presença na América Latina, África e Oriente Médio, a Agrale tem como meta, de acordo com o diretor executivo, Rogério Vacari, vender 25% da sua produção para o mercado externo. O alto custo, entretanto, retira a competitividade do que é produzido no Brasil e faz com que o patamar atual esteja em 15%. “Para levarmos um contêiner de Caxias do Sul até o porto do Rio Grande, custava mais do que levar o mesmo contêiner de Rio Grande via marítima até o porto de Cartagena, na Colômbia. Ou seja, o País tem uma grande ineficiência de custos, e o consumidor do mercado de fora não está disposto a pagar por isso”, exemplifica.
Ao comparar o custo da mão de obra local com a externa, Vacari alerta que os elevados encargos sociais inflam a folha salarial da primeira, tornando-a muito mais cara do que a de outros países. “Além disso, no cenário econômico, a capacidade de investimento das empresas é comprometida pelas altas taxas de juros”, completa Vacari.