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COPA 2014

- Publicada em 18 de Junho de 2014 às 00:00

Em clima de Copa, ambulantes fazem a festa


MARCELO G. RIBEIRO/JC
Jornal do Comércio
No entorno do estádio Beira-Rio, as cores das bandeiras e camisetas, os cheiros e os sons se misturam. É dia de jogo de Copa do Mundo em Porto Alegre. A fumaça da churrasqueira invade as ruas, indicando que a carne está no ponto. O vendedor de bebidas tenta chamar a atenção da clientela aos berros de “cervejaaa geladaaa”, enquanto os torcedores entoam gritos de apoio às suas seleções. Se para quem vai ao jogo, a experiência de vivenciar o Mundial é única, para os ambulantes que trabalham na região não é diferente. As partidas na Capital representam uma chance para turbinar o faturamento.
No entorno do estádio Beira-Rio, as cores das bandeiras e camisetas, os cheiros e os sons se misturam. É dia de jogo de Copa do Mundo em Porto Alegre. A fumaça da churrasqueira invade as ruas, indicando que a carne está no ponto. O vendedor de bebidas tenta chamar a atenção da clientela aos berros de “cervejaaa geladaaa”, enquanto os torcedores entoam gritos de apoio às suas seleções. Se para quem vai ao jogo, a experiência de vivenciar o Mundial é única, para os ambulantes que trabalham na região não é diferente. As partidas na Capital representam uma chance para turbinar o faturamento.
Ao todo, a Secretaria Municipal da Produção, Indústria e Comércio (Smic) credenciou 83 vendedores, de variados segmentos, para trabalhar na Copa, ao longo do Caminho do Gol, trajeto que vai do Largo Glênio Peres, no Centro, até a rua A, próxima do palco das partidas na Capital. Desses, 11 já costumavam negociar lanches e outros produtos no local. Os demais foram convocados por chamada pública, mas a maioria já trabalhava em outros pontos da cidade. “Essa área funciona mais como uma praça de alimentação para os torcedores que estão se dirigindo ao estádio”, destaca Rogério Stokey, diretor da divisão de fiscalização da Smic.
Ainda há uma série de ambulantes habilitados para operar na Fan Fest e no Acampamento Farroupilha. Isso sem contar aqueles que arriscam a sorte e expõem seus produtos sem possuir autorização para exercer a atividade. Por isso, 60 agentes da Smic percorrem a área do Caminho do Gol para fazer a averiguação de quem pode ou não estar ali. “Se alguém está vendendo produtos sem cadastramento, primeiro conversarmos e explicamos a situação. Caso a pessoa insista, apreendemos os artigos”, comenta. No jogo entre França e Honduras foram apreendidos 34 volumes de bebidas, bottons, mantas, bandeiras e até frutas, que estavam sendo transacionados irregularmente.
Apesar da atuação dos agentes possuir o mesmo viés daquela realizada nas cercanias da Arena e do Beira-Rio em dias de partidas da dupla Grenal, o trabalho feito durante a Copa ganha maiores proporções. “Estamos atuando com 100% da nossa equipe de fiscalização. Em jogos de Grêmio e Inter não usamos mais do que 40% do contingente”, compara Stokey. O dirigente explica que, para a Copa do Mundo, houve uma delimitação, por decreto, da área de atuação dos ambulantes, algo que não existe nas redondezas das casas de Grêmio e Internacional.

Churrasquinho cai no gosto dos estrangeiros

Oito partidas e meia de futebol ou, mais precisamente, 780 minutos. Esse é o tempo que Fernanda da Silva leva, na véspera de um jogo, para preparar centenas de espetinhos de carne que serão levados à churrasqueira no dia seguinte. “Vida de ambulante não é fácil”, assegura. Para os jogos da Copa do Mundo são assados nos palitos cerca de 70 quilos de carne bovina e outros 40 quilos de frango.  A meta é vender 800 churrasquinhos por partida a R$ 5,00 cada, o que gerará um lucro líquido de R$ 1,2 mil.
Se jogasse futebol, Fernanda seria a chamada atleta polivalente, aquela que joga em mais de uma posição no time. Isso porque a comerciante prepara os espetos, acende a churrasqueira, cuida do fogo e ainda trata da venda para os clientes. “Não estou conseguindo parar um minuto sequer. A movimentação está intensa”, comemora. A vendedora já está acostumada com a função, pois costuma trabalhar nos jogos de Grêmio e Internacional.
Muitos brasileiros compram, mas é inegável que a iguaria caiu no gosto dos estrangeiros. “Os gringos piram no churrasquinho.”

Pipoca turbina faturamento

Há 23 anos, o carrinho de pipocas da família Silva estaciona nas proximidades do Parque Marinha do Brasil. Porém, no último domingo, dia do primeiro dos cinco jogos da Copa em Porto Alegre, aconteceu algo diferente. O ponto foi o mesmo, mas a sensação era outra. As vendas saltaram tão rápido quanto o milho estourando na pipoqueira. “Vai dar para tirar o pé da miséria”, saúda Priscila Trindade da Silva, que atua como ambulante junto com os pais. A família reforçou o estoque de milho de pipoca e de bebidas. A expectativa é de que o faturamento seja o dobro dos dias comuns. “Quando há jogos do Inter no Beira-Rio faturamos, em média, R$ 300,00. Na Copa, isso vai dobrar.”

Cerveja é campeã de preferência

Quando o assunto é bebida, a preferência é a mesma, seja entre brasileiros ou turistas estrangeiros. A cerveja desponta como a campeã de vendas, fazendo a felicidade do ambulante Paulo Fernando. Para se diferenciar dos demais comerciantes e atrair a clientela, ele tinge a barba e as sobrancelhas de verde e amarelo. Não bastasse isso, coloca uma peruca ao estilo David Luiz e usa um chamativo óculos em formato de estrela.
“O movimento está excelente. Nossas vendas vão aumentar uns 300% em relação aos jogos da dupla Grenal. Não estou conseguindo nem calcular o quanto vamos lucrar”, afirma, segurando firme um maço repleto de notas de reais. Com a alta demanda, o estoque de bebidas precisa ser reforçado com frequência. E aí está a única reclamação de Fernando. Segundo ele, a logística não é favorável. “Os vendedores credenciados precisam retirar as bebidas lá próximo do shopping Praia de Belas. Depois que eu pego as bebidas, tenho que trazê-las nas costas. É complicado, o pessoal poderia rever isso”, critica ele, cujo ponto está localizado na altura da rua A.
Todos os vendedores de bebidas possuem um isopor personalizado, com o preço tabelado de cada artigo. As marcas disponibilizadas ao público são aquelas dos patrocinadores da competição. Quem vende água e refrigerante, geralmente, não negocia cerveja. E vice-versa.

Sobra de brindes gera renda extra

O que fazer com uma mala repleta de confetes verde e amarelos, máscaras de carnaval, mantas e bandeiras do Brasil que estavam há algum tempo ocupando espaço em casa? Para o caminhoneiro Alex Afonso, a solução foi vender os artigos nas proximidades do estádio Beira-Rio em dia de jogo da Copa do Mundo. Todo o material comercializado por ele era brindes acumulados de outras épocas.
Com óculos de sol de lente azul, correntes no pescoço e trajando uma camisa da seleção brasileira, Afonso emulava o visual típico de muitos boleiros que entram em campo para representar suas seleções no Mundial. Agitado, andava por todos os lados oferecendo os itens. “A movimentação está muito boa. Não vai sobrar nada até o final do jogo”, dizia antes da partida entre França e Honduras começar.
Os estrangeiros eram os principais interessados nos adereços relativos ao Brasil. “Só vendi para gringo”, comemora, lembrando que aceita dólares, euros e reais. “Se o cara não tem em real, não tem problema. Sei mais ou menos quanto está cotado o câmbio e faço a conta na hora. Se para ele fica bom, para mim está bom também”, menciona. Afonso admite que não domina outros idiomas. Mesmo assim, as palavras que sabe em inglês aliadas aos gestos são suficientes para fechar negócios.

Vender para desfrutar do Mundial

Romina Marin vive em Buenos Aires e é fanática por duas coisas: futebol e viagens. A argentina não conseguiu ingressos para as partidas da “Albiceleste”, mas isso não a impediu de juntar as suas paixões. Com o torneio sendo realizado no país vizinho, a portenha não pensou duas vezes. Fez as malas e veio para Porto Alegre no intuito de ficar até o final da competição. “Queria muito ir ao jogo da Argentina aqui em Porto Alegre, mas as entradas são caras e estão esgotadas, então, vim para desfrutar a Copa, falar outros idiomas com as pessoas e me divertir”, diz. Para financiar a vinda ao Brasil, a estudante vende apitos nos dias de jogos na capital gaúcha.
Antes das partidas, ela se posiciona na avenida Praia de Belas, quase ao final do Parque Marinha do Brasil, pega um caixote e estende um pano largo e colorido sobre ele. Em cima, coloca a pequena caixa onde os apitos são estrategicamente organizados. Não é qualquer apito que Romina vende. O aparato tem um formato de meia-lua, permitindo que o comprador drible facilmente a proibição da Fifa de entrar no estádio com cornetas ou qualquer tipo de utensílio que emita sons. “É só colocar o apito dentro na boca e começar a soprar. Aí sai um som muito louco”, ensina.
Na tampa do recipiente está escrito, em inglês, o preço. Um apito por R$ 5,00 ou, então, cinco itens por R$ 20,00. Para conseguir vender seus produtos, a argentina é tão desinibida quanto um Messi ao driblar adversários em sequência antes de marcar um gol. Isso porque ela não possui nenhum tipo de autorização legal para estar ali. “Averiguei os trâmites, mas já não havia mais tempo (para ganhar a permissão para vender). Resolvi tentar vender assim mesmo”, reconhece.

Turistas aprovam comerciantes da Capital

Por alguns instantes, o francês Nicolas Andrade tinha a impressão de estar se dirigindo ao Parc des Princes, em Paris, para ver uma partida do seu Paris Saint-Germain. No entanto, entre um gole e outro de cerveja durante a caminhada na avenida Praia de Belas, lembrava que estava em Porto Alegre para um jogo de Copa do Mundo entre França e Honduras. “A atmosfera perto do estádio é muito parecida. Em Paris, também tem bastante gente vendendo coisas nas ruas. Só que lá não podemos beber dentro do estádio”, lamenta. Apesar das bebidas alcoólicas serem vetadas nos estádios nos jogos dos clubes brasileiros, durante o Mundial, a venda está liberada.
Filho de espanhóis, Andrade veio para o Brasil acompanhado de outros dois amigos para assistir a dois jogos da seleção francesa. As impressões sobre a capital gaúcha são as melhores possíveis. “Aqui é mais frio do que no Rio de Janeiro, onde estávamos antes. Mas as pessoas são muito legais conosco nas ruas e no comércio, talvez por parecermos sempre perdidos”, brinca.
O hondurenho Carlos Pinez também elogia a hospitalidade gaúcha, mas admite que encontrou dificuldades para realizar alguns pagamentos. “Nos táxis e no aeroporto, tentamos fazer os pagamentos em dólares, mas não aceitaram”, resigna-se. O problema foi resolvido com uma ida à casa de câmbio, onde Pinez se municiou de reais.
Já o moçambicano Hugo Morgado recorre ao cartão de crédito para cobrir as despesas. “Quando preciso, passo no caixa automático e saco o dinheiro”, diz. Morador de Durban, na África do Sul, Morgado veio ao Mundial com outros três amigos sul-africanos. Após a Copa do Mundo de 2010, realizada no país africano, o quarteto prometeu ir a todas as edições do torneio. “Nossa seleção não se classificou, mas está tudo bem. Porto Alegre é linda. Todo mundo aqui é tão alegre”, define. O grupo vai assistir a cinco partidas da competição e, depois, passará alguns dias em Florianópolis para conhecer as praias.
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