Os números não mentem. Apesar da distância de mais de 15 mil quilômetros entre o Brasil e a Austrália, 51.394 australianos, segundo o Departamento de Imprensa da Fifa, devem vir ao País para assistir aos jogos da Copa do Mundo. Em Porto Alegre, serão 14.161. A imigração temporária só não é maior do que a dos hermanos da Argentina, que estarão em 55.751. O motivo de tanto interesse em viajar para cá é a alta popularidade do esporte no maior país da Oceania.
Conforme o australiano Luke Simmons, de 34 anos, o futebol está na moda desde que o país se classificou para participar da Copa de 2006 e, depois, em 2010. “Antes disso, fazia tempo que não conseguíamos vaga. Mas amamos futebol. Todo mundo sempre assiste aos jogos”, comenta.
Camila Santos, que é esposa de Simmons e morou com ele em Melbourne durante quatro anos, conta que há muita variedade de esportes na Austrália. “Lá, os maiores são o futebol australiano e o rugby. Mas o futebol tem tudo para crescer cada vez mais”, garante ela, que vive com Luke em Porto Alegre desde outubro passado.
O casal tem uma agência de marketing e trabalhará, durante a Copa, acompanhando uma agência de turismo australiana especializada em levar pessoas para viagens de eventos esportivos. Eles irão a todas as cidades com partidas que incluam a única seleção da Oceania na Copa. “Temos ingresso para a de Porto Alegre, só. Nos outros, tentaremos na hora, mas, no mínimo, participaremos das Fan Fests”, afirma Simmons.
O australiano se mostra impressionado pelo fato de as pessoas não saberem inglês e nem terem interesse nisso “Há um pensamento de muita gente de que não se tem que traduzir nada do português, porque o estrangeiro que vier para o Brasil tem que aprender o idioma”, lamenta. Muitos expressam, de acordo com o casal, até certo orgulho por não entenderem outra língua, e nem mesmo fazem a tradução do cardápio em seus estabelecimentos.
Na noite do dia 17 de junho, véspera do jogo entre a Austrália e a Holanda no estádio Beira-Rio, a torcida australiana marcou de se encontrar na rótula da esquina da Rua da República com a rua João Alfredo, no bairro Cidade Baixa. A ideia é fazer um “pub crawl”, ou maratona de bares. Durante cerca de três horas, o grupo de estrangeiros andará de bar em bar, experimentando bebidas e comidas da região. No dia da partida, devem ir para a Fan Fest.
‘Poucos falam inglês’, lamenta holandesa
Estudante de Medicina acha que Porto Alegre não está preparada para receber os turistas
Sarah está há três meses no Brasil e espera encontrar
conterrâneos durante o evento | MARCELO G. RIBEIRO/JC
Sarah Wartena, de 26 anos, veio de Zutphen, na Holanda, há três meses. Estudante de Medicina, deve morar em Porto Alegre até agosto, podendo aproveitar a Copa do Mundo na Capital. “Queria muito assistir ao jogo, adoraria ter essa oportunidade. Uma pena que não consegui ingresso”, lamenta. A jovem se refere à partida entre Holanda e Austrália, que ocorrerá no dia 18 de junho, no estádio Beira-Rio.
Para Sarah, porém, Porto Alegre não está pronta para o evento. “Estive por uma semana no Rio de Janeiro e acho que eles estão mais preparados. Lá, as pessoas falam inglês, as estradas são melhores”, opina. A estudante faz um contraponto com a capital gaúcha, que, sob a sua ótica, tem muito pouca gente que se comunique em inglês e ainda não teve suas obras finalizadas. “Acho que vai ser difícil por aqui. Mas, de qualquer forma, com certeza o evento será maravilhoso”, avalia.
Desde que veio morar no Rio Grande do Sul, a holandesa nunca contou com auxílio de informações turísticas. A jovem veio para a Capital em função de uma pesquisa que está fazendo no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), sobre uma dieta específica que é produzida no local para tratar pessoas com doenças muito raras. Durante a Copa, Sarah espera encontrar conterrâneos na cidade.
“Eu soube que haverá um local de concentração da nossa torcida em algum bar para assistir ao jogo, mas ainda não descobri qual”, comenta. Por estar morando em uma residência de família, a holandesa não poderá receber pessoas de seu país em casa. A previsão é de que, no total, de acordo com o Departamento de Imprensa da Fifa, 15.440 pessoas da Holanda venham para o Brasil. Em Porto Alegre, serão 3.087, segundo a prefeitura.
A estudante salienta a paixão que os holandeses têm pelo futebol. “A nossa seleção é muito popular, todos assistem às partidas quando ela joga”, afirma. Já os times regulares do país não parecem, para Sarah, gerar tanta empolgação nos torcedores quanto geram no Brasil. “Até porque o Brasil joga muito melhor”, pondera.
Considerados um dos grandes do futebol mundial, a Holanda possui tradição no esporte. Foi finalista em 1974, 1978 e 2010 e encantou o mundo com o “futebol total” apresentado pelo Carrossel Holandês, equipe liderada por Johan Cruyff no Mundial de 1974. Entretanto, a sala de troféus da Federação Holandesa de Futebol ainda aguarda pela tão esperada taça de campeão do mundo.