Os números apresentados pela Defesa Civil e pelas prefeituras já são considerados graves – 1.960 pessoas de 34 municípios do Rio Grande do Sul estão desalojadas de suas casas, em função das fortes chuvas que começaram no sábado. Entretanto, a perspectiva é de que a quantidade seja bem maior, já que em municípios fortemente afetados, como Bento Gonçalves, na Serra, e Fontoura Xavier, no Noroeste, ainda não foram contabilizados os desalojados (que foram para a casa de parentes ou amigos) e os desabrigados (que foram encaminhados a abrigos das cidades).
Por enquanto, a prefeitura de Bento Gonçalves anuncia que cerca de 400 residências foram danificadas, a maioria por destelhamento, e duas casas desabaram, nos bairros Tancredo Neves e Eucaliptos. A preocupação maior, agora, é com o fato de que a terra está molhada e cedendo, e, por isso, mais moradias podem cair. As lojas da região já não possuem mais estoque de lonas e telhas. No interior da cidade e em toda a Serra, vitivinicultores perderam cerca de 90% das plantações. O município está em estado de calamidade pública e solicitando doações para os desabrigados, que estão sendo encaminhadas para o ginásio municipal.
A situação mais grave é em Quaraí, onde mil pessoas estão desalojadas e 100 estão desabrigadas. Localizada na Fronteira-Oeste, a cidade foi bastante afetada devido ao vendaval seguido do alto volume de precipitação e a alta do rio Uruguai. O local está em situação de emergência, assim como Fontoura Xavier, que está com duas mil casas danificadas – a maioria também destelhada, em virtude de um temporal de granizo. A cidade tem 10,5 mil habitantes. De acordo com a prefeitura de Quaraí, estradas foram interrompidas, o transporte escolar ficou suspenso e as lavouras foram atingidas. Conforme a prefeitura, 99% das plantações foram perdidas, e o prejuízo pode chegar a R$ 6 milhões.
Em Rosário do Sul, também na Fronteira-Oeste, a prefeitura já verificou 200 desalojados. Esteio contabilizou 120 desabrigados e 480 desalojados. Os desabrigados estão sendo encaminhados para o Centro Municipal de Educação Básica Eva Karnal, no bairro Christi, e para a Igreja São Sebastião, no bairro São Sebastião. Também há 150 pessoas que precisaram sair de suas casas em Paraíso do Sul, na região Central, e 50 em Dom Pedrito, na zona Sul. Na localidade de Segredo, a chuva de granizo destelhou 100 casas e prejudicou a lavoura de fumo na região. A cidade de Santa Maria teve pelo menos três bairros alagados. Em Veranópolis, Monte Belo do Sul e Vacaria também houve chuva forte, com granizo. A Coordenadoria da Defesa Civil de Alegrete informou que o rio Ibirapuitã elevou-se 5,2m acima do nível normal ontem, existindo a possibilidade de alcançar as moradias das áreas ribeirinhas.
A Defesa Civil alerta que a situação ainda é de risco e que os gaúchos devem evitar transitar nas ruas, não andar em locais alagados, em função das tampas de bueiro, e ficar em lugares abrigados, por causa da possibilidade de raios. As medidas cabíveis, até o momento do fechamento desta edição, estão sendo tomadas somente pelas cidades afetadas. A AES Sul contabilizava 16,6 mil consumidores sem luz no Estado. O município com maior acúmulo de água era Rio Pardo, com 132mm, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Uma mãe e dois filhos estão desaparecidos em Candelária, no Vale do Rio Pardo, na localidade de Linha Feltz. O pai das crianças, Paulo Jaeger, havia saído para tirar da chuva alguns bois da propriedade, quando ouviu um estrondo. Uma árvore caiu em cima de um forno de fumo, onde o trio se protegia do temporal. O Corpo de Bombeiros teve dificuldades para chegar ao local e ainda não sabe se a árvore caiu por causa de um raio ou por um desmoronamento. A altura da água encontra-se em mais de 1,5m, impossibilitando o trabalho da equipe. A busca deve começar hoje, às 8h, com a ajuda dos bombeiros de Santa Cruz do Sul.
A chuva que caiu na região do Vale do Sinos nas últimas 24 horas é superior à média de todo o mês de novembro, e fez com que os principais arroios da cidade transbordassem. De acordo com a Comusa – Serviços de Água e Esgoto, o Rio dos Sinos subiu dois metros entre as 7h (3,70 metros) e as 15h (5,70m).
Temporais devem continuar hoje, avisa o Inmet
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) prevê para hoje mais chuva em todo o Rio Grande do Sul. No Estado, o tempo deve ficar nublado com pancadas de chuva e trovoadas isoladas, podendo passar a parcialmente nublado nas regiões da Campanha e das Missões. Há possibilidade de chuva forte no extremo Sul. A temperatura, em declínio, deve ter mínima de 16 e máxima de 26 graus. Amanhã, o frio pode chegar a sete graus na madrugada, mas a máxima deve atingir 30 graus, com indício de redução das chuvas.
Na Capital, a chuva continua hoje, mas mais fraca. No decorrer do dia, o sol voltará a aparecer e se manterá até quinta-feira, conforme previsão do sistema Metroclima. As mínimas ficam entre 17 e 19 graus, e as máximas, entre 25 e 27. Amanhã, o sol deve predominar, sendo que os termômetros podem marcar entre 14 e 31 graus.