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CONGRESSO NACIONAL

- Publicada em 12 de Novembro de 2013 às 00:00

Sociólogo avalia influência das bancadas religiosas


ACERVO FUNDAJ/DIVULGAÇÃO/JC
Jornal do Comércio
Estudioso na área de democracia e religião, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco e professor convidado da Universidade Federal de Pernambuco, Joanildo Burity analisa a influência de grupos religiosos no cenário político brasileiro. Na avaliação do autor do livro “Os votos de Deus: evangélicos, política e eleições no Brasil”, a influência da religião na democracia no País hoje está em duas esferas: na política institucional, com a formação de bancadas como a evangélica no Congresso, e na mobilização de ONGs e entidades que atuam junto ao setor público.
Estudioso na área de democracia e religião, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco e professor convidado da Universidade Federal de Pernambuco, Joanildo Burity analisa a influência de grupos religiosos no cenário político brasileiro. Na avaliação do autor do livro “Os votos de Deus: evangélicos, política e eleições no Brasil”, a influência da religião na democracia no País hoje está em duas esferas: na política institucional, com a formação de bancadas como a evangélica no Congresso, e na mobilização de ONGs e entidades que atuam junto ao setor público.
Burity aponta as dificuldades dos representantes de se mobilizar em torno de temas que não estejam apenas ligados às causas religiosas. Para ele, a população tem que adotar uma postura mais crítica em relação a esses agentes, forçando-os a ampliar suas pautas. O sociólogo faz conferência em Porto Alegre amanhã, compondo a mesa da 17ª edição das Jornadas sobre Alternativas Religiosas da América Latina, organizada pela Ufrgs. O evento se iniciou ontem e terá atividades até quinta-feira.
Jornal do Comércio - Qual é a influência da religião na democracia brasileira hoje?
Joanildo Burity – A religião tem estado presente como ator público nos últimos 20 anos na política. Essa presença não tem um único conteúdo e uma única direção. Em larga medida, ela foi controlada pela visibilidade dos pentecostais. Mas, em torno dos pentecostais, se vê, por exemplo, a Igreja Católica, como majoritária, revendo a sua maneira de estar presente. Outros grupos religiosos também vão começar a se organizar. O outro nível é o da mobilização de base de grupos religiosos, por exemplo, em ONGs ou como parceiros de programas sociais, assim como em grandes conselhos nacionais de políticas públicas. Também o Fórum Social Mundial, que desde a sua primeira edição teve uma participação discreta mas efetiva de grupos religiosos, a partir da sua terceira edição, começou a ter participação intensa de grupos com perfil de mobilização social.
JC - Que análise é possível fazer do poder que a bancada evangélica tem no Congresso?
Burity – Há várias consequências do impacto dessa bancada. Do lado da formação desses grupos evangélicos pentecostais, como em muitas situações em que novos atores e representantes de minorias – não necessariamente religiosas – emergem na política, há um foco muito forte nas demandas corporativas. Os grupos, logo que emergem, têm dificuldades de se apresentar, não só com propostas, mas com uma visão da atuação pública voltada para o conjunto da sociedade ou com visões mais abrangentes de sociedade. A outra questão é que nenhum grupo atua isoladamente, e a atuação de um produz impacto sobre outros. Evangélicos, pentecostais e outros grupos religiosos que estão entrando na cena política já são pressionados e têm uma obrigação pública de responder às expectativas da sociedade.
JC - Não há uma contradição na atuação política desses grupos, uma vez que representam o todo, mas a religião possui dogmas que impõem restrições a grupos da sociedade, como homossexuais e outras correntes religiosas?
Burity – Não podemos esquecer que não existe uma política monolítica dentro dos grupos religiosos. Eles têm divisões internas e diferentes visões disputando internamente a melhor maneira de estar presente na vida pública. Há mais de uma posição em debates sobre os direitos das minorias sexuais, questões de políticas reprodutivas ou áreas da ciência e da tecnologia. A vigilância que os diferentes atores sociais precisam exercer é que vai levar esses grupos a desenvolverem um perfil mais pluralista ou a começarem a se explicar de uma maneira mais convincente sobre suas posições. Em um contexto democrático, sempre haverá desavenças e conflitos nessas questões. Um equívoco é achar que só quem bloqueia e cria problemas para o avanço das bandeiras da diversidade sexual ou dos direitos reprodutivos são os evangélicos ou, mais precisamente, os pentecostais.
JC – Muitas entidades reclamam que o Estado brasileiro não é verdadeiramente laico e temem que a atuação de religiosos seja uma ameaça. Concorda?
Burity – O caráter laico do Estado só estaria ameaçado, primeiro, em uma situação em que, constitucionalmente, o Estado brasileiro viesse a assumir a identidade ou a defesa de uma das religiões. E essa não é a realidade do Brasil. Outra situação seria um Estado que, enquanto laico, criasse situações de sistemático privilégio a determinados grupos religiosos em detrimento de outros. Dentro de todos os limites e dificuldades do modelo brasileiro, não estamos diante de uma violação do Estado laico. Como ocorre em outros países onde há uma forte presença mobilizada da religião – como os EUA e o Canadá -, a despeito de o Estado não promover nem aderir a nenhuma das religiões, ele não cerceia a atuação pública delas. Esse é o modelo de Estado laico condizente com a democracia e o pluralismo.
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