Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

INFRAESTRUTURA

- Publicada em 06 de Agosto de 2013 às 00:00

Abag debate os gargalos que afetam agronegócio


NESTOR TIPA JÚNIOR/DIVULGAÇÃO/JC
Jornal do Comércio
Logística e infraestrutura foi o tema central do Congresso Brasileiro do Agronegócio, organizado pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), realizado ontem, no centro de eventos do Sheraton WTC, em São Paulo. Considerado um dos principais gargalos que afeta a competitividade do setor primário brasileiro, especialistas discutiram problemas e soluções para buscar formas de escoar a crescente safra brasileira de grãos.
Logística e infraestrutura foi o tema central do Congresso Brasileiro do Agronegócio, organizado pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), realizado ontem, no centro de eventos do Sheraton WTC, em São Paulo. Considerado um dos principais gargalos que afeta a competitividade do setor primário brasileiro, especialistas discutiram problemas e soluções para buscar formas de escoar a crescente safra brasileira de grãos.
No principal painel do dia, o presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), Bernardo Figueiredo, falou sobre o andamento do Programa de Investimentos em Logística, lançado pelo governo federal no ano passado. Segundo ele, os editais para licitações de construção e modernização de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos por meio de concessões privadas devem sair entre agosto e setembro. “Duas concessões já foram avaliadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU), com editais aprovados. Agora faltam os leilões acontecerem”, diz.
O investimento previsto é de R$ 52 bilhões para rodovias e R$ 90 bilhões para ferrovias. Uma das preocupações do setor é a falta de interessados nos projetos. “Já chegamos a um consenso com o mercado. Eu não percebo que haja falta de interesse, não tem nenhuma briga com o mercado. Talvez tenhamos ajustes pontuais no orçamento de ferrovias, mas hoje não há nenhum debate nem sobre valores de investimentos e nem sobre modelos de concessão”, afirma Figueiredo. Ele garante que o investidor tem uma rentabilidade de 16% em termos reais, pois pela primeira vez o governo está garantindo um financiamento na linha de projetos para 70% do investimento sem garantias corporativas. “Estamos fazendo um plano que é muito atraente ao investidor”, completa o presidente da EPL.
Sobre a dependência do modal rodoviário, Figueiredo explica que a produção brasileira caminhou para o interior do País ainda nos anos 1970 e, naquele momento, o transporte por rodovias era o que existia de mais eficaz para explorar regiões agrícolas. “Abrimos a fronteira agrícola com o transporte rodoviário e não soubemos fazer a conversão para outros modais quando o setor cresceu”, salienta. Por isso, o dirigente avalia que, em curto prazo, a alternativa é recuperar rodovias para escoar a produção.
O modelo apresentado pelo dirigente gerou divergências entre os demais participantes do painel. Para o diretor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV), Yoshiaki Nakano, a proposta da criação da EPL vai desburocratizar os investimentos em logística. “Estamos avançando de um programa desintegrado para um programa mais integrado. Cada setor pensa por si, faz suas concessões e não conversa com outro. Agora existe uma estrutura paralela, é um grande avanço.”
Já o sócio-diretor da Schwartsman & Associados Consultoria Econômica, Alexandre Schwartsman, fez duras críticas ao plano apresentado pela EPL. “Este modelo não vai funcionar. O programa compara o estado das rodovias que foram concedidas pelo governo federal com as que foram concedidas pelo estado de São Paulo.
Em São Paulo, o pedágio é muito mais caro, mas temos uma rodovia. Se pegarmos a BR-116 até a Serra do Cafezal, não foi duplicada até hoje. Você tem motricidade tarifária, mas volume de investimento baixo. O que não se paga em pedágio, se paga em custo de transporte”, afirma o consultor.

Abag defende a revolução da logística para garantir crescimento

“A logística e a infraestrutura farão a diferença competitiva que não temos hoje no mercado.” Assim, o presidente da Abag, Luiz Carlos Corrêa Carvalho, definiu a urgência dos investimentos e da correção das atuais deficiências do setor para garantir o bom desempenho do agronegócio brasileiro. Carvalho lembrou as revoluções feitas nos últimos séculos e o crescimento da agricultura brasileira desde o início do século XXI, quando o País ganhou em produtividade. “Ainda falta fazer no Brasil uma revolução que não é nenhuma novidade para nós, que é a revolução da logística.”
Representando a Frente Parlamentar da Agropecuária, o deputado Duarte Nogueira (PSDB-SP) citou números da própria Abag que indicam que o investimento brasileiro em infraestrutura de transporte de carga e logística anualmente é de 0,36% do Produto Interno Bruto (PIB) quando, no mínimo, para atender às demandas brasileiras nessa área, deveria ser de pelo menos 2%. A comparação é feita com outros países em desenvolvimento. Enquanto a Rússia investe 7%, a Índia tem investimento de 8% e a China, de 10%. “O Congresso aprova todos os anos recursos para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e outras obras, mas falta gerenciamento. Além disso, demorou-se muito tempo para fazer privatizações e concessões de rodovias”, critica o parlamentar.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), falou sobre os investimentos feitos pelo seu estado para minimizar os impactos logísticos para o escoamento da safra. Citou o alcoolduto entre Ribeirão Preto e Paulínia, com investimentos da iniciativa privada. Além disso, lembrou também de duplicações de rodovias, como a dos Bandeirantes, que desemboca no porto de Santos. “Praticamente todas as rodovias de São Paulo estão duplicadas. Estamos também refazendo quatro mil quilômetros de estradas vicinais que vão ajudar no escoamento da produção paulista”, informa.

Oferta depende de vontade política, dizem especialistas

As oportunidades e problemas para o aumento da oferta de produtos agrícolas também foram tema de painéis durante o Congresso Brasileiro do Agronegócio. Expansão da área plantada, elevação da produtividade e políticas públicas de apoio aos produtores foram debatidos durante a tarde no evento.
Segundo o presidente da Associação dos Produtores de Soja do Mato Grosso (Aprosoja-MT), Carlos Fávaro, o estado é o que mais sofre com os problemas de logística e infraestrutura, e exemplifica, ao afirmar que parte do milho colhido na região tem ficado ao relento por falta de armazéns. O dirigente aponta que as falhas estão nas políticas do governo federal e que isso trava o desenvolvimento do agronegócio brasileiro. “Estamos convencidos que não é por falta de recursos que isso acontece. Não existe pedágio maior do que a falta de infraestrutura, que tira a nossa competitividade no mercado”, salienta. Uma das soluções para o escoamento da safra do Centro-Oeste, conforme Fávaro, é a saída dos grãos pelo Norte e Nordeste do País. “Temos rios navegáveis no centro da produção brasileira. O mundo inteiro usa hidrovias e nós perdemos de utilizar esse modal”, completa.
O setor da pecuária também reclama da perda de espaços nos últimos anos. O diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Fernando Sampaio, salienta que a produção agrícola tem crescido por cima de áreas destinadas para a criação de gado e que estas estão sendo empurradas para terrenos marginais de produção. Estima-se que até 2022 serão ocupados pela agricultura mais 15 milhões de hectares, sendo que 10 milhões em áreas originalmente destinadas para a pecuária. Sampaio acredita que existe tecnologia e crédito para reverter essa situação. “O nosso problema é democratizar esse acesso ao crédito e à tecnologia para aumentar nossa produtividade. Os Estados Unidos, por exemplo, têm um rebanho que é metade do nosso, mas conseguem produzir mais carne do que nós”, comenta.
Já o presidente para a América Latina da John Deere, Paulo Herrmann, ressalta que o produtor precisa fazer sua parte e olhar a agricultura como forma de sistemas e não como produtos, fazendo diversificação das lavouras e implantando a integração lavoura-pecuária-floresta para aumentar produtividade e gerar mais oferta. “As tecnologias fizeram a gente aumentar a nossa produtividade sem aumentar a área, mas temos questões nos cerceando, como as licenças ambientais e as ocupações indígenas. O Brasil tem potencial de aproveitar os recursos da natureza. Temos solo fértil, 20% de toda a água doce do mundo e o sol que irradia por 12 meses”, afirma Herrmann.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO