Casei com você para ser feliz é o quinto romance da escritora norte-americana Lily Tuck, autora de The News from Paraguay, obra vencedora do National Book Award de 2004. Lily mora, atualmente, na cidade de Nova Iorque. A narrativa apresenta um retrato sofisticado de uma mulher que tem seu marido levado por morte súbita e inesperada. Em sua vigília solitária, a mulher relembra o primeiro encontro, há mais de quarenta anos, em Paris. Nina é artista e o marido, Philip, era um exímio matemático. No miolo do relacionamento dos dois há um conflito entre o emocional e o cerebral. Os dois são muito inteligentes, compartilham suas experiências sobre arte e ciência e, entre disfarces e surpresas, vivenciam um amor profundamente apaixonado. As reminiscências de Nina mostram uma mente que transita entre vários tempos e locais, distantes e variados, como França, Wisconsin, Roma, Hong Kong, México e Califórnia. Os pensamentos trazem eventos reais e imaginários e vão revelando intimidades, segredos, dores e alegrias da vida do casal. Entre outros casos, estão o estupro do qual Nina foi vítima, o aborto de uma gravidez indesejada, as discussões matemáticas de Philip e até a compra de uma bolsa de couro italiano, da qual Philip jamais suspeitou. A narrativa é intensa, sofisticada, elegante e vai envolvendo o leitor, revelando os meandros do amor, o místico e o milagroso do cotidiano. A anatomia de um longo casamento vai sendo apresentada com todos os seus dias marcantes, seus personagens, com situações envolvendo terceiros e com suas dores, amores e passagens de tempos e ciclos. Nina lembra que leu em algum lugar que cada um de nós somos um conjunto de fragmentos de almas de outras pessoas, as almas de todas as pessoas que conhecemos. Mas ela não acredita nisso e pensa que não é um fragmento do amigo Didier. A narrativa também traz algumas referências históricas e fala do filme de Bernardo Bertolucci
O conformista e A liberdade é azul, do diretor polonês Krzysztof Kieslowski. Em certo momento, Nina lembra das palavras de seu professor de pintura, que a orientou a deixar de pintar a partir da mão e do punho e começar a trabalhar a partir do ombro, apenas com carvão, material simples e barato que conecta o artista com a terra. O professor a ensinou a esquecer o que aprendeu e a seguir seu instinto. Numa única noite, muito foi lembrado e voltou a acontecer, que a memória é onde as coisas acontecem muitas vezes. Rocco, 216 páginas, tradução de Maria Clara de Biase,
www.rocco.com.br.
De uns anos para cá, e já são muitos, pelo que me lembro, as listas de livros mais vendidos da revista Veja e de outras publicações praticamente não trazem obras de ficção e poesia de autores brasileiros. Mesmo Paulo Coelho não tem aparecido muito nas listas. Em algumas semanas deste ano, com certa surpresa, Toda poesia, de Paulo Leminski, figurou como best-seller na lista da Veja. Nesta semana já não está lá. Livros de crônicas, História e biografias envolvendo autores e temas nacionais aparecem com mais frequência nas listas. O poeta, professor e crítico Décio Pignatari certa vez disse que, no Brasil, a crônica tinha matado o romance. A frase faz pensar. Muitos de nossos grandes romancistas faleceram, e os vivos não estão nas listas. Novelas e coletâneas de contos de brasileiros, tanto quanto se sabe, não têm causado o impacto desejado no público e nas vendas. Literatura infantil e infantojuvenil e romances históricos ou espíritas seguem com grandes tiragens. A questão da ficção e da poesia fica no ar. Poesia nunca vendeu muito. Livros de contos também não. Mas onde estão os romancistas e os romances brasileiros? É certo que as editoras muitas vezes preferem apostar em títulos que já vêm do exterior com sucesso, adaptações para cinema, teatro e tal, já que vivemos num mundo globalizado. É certo que os leitores têm liberdade para escolher o que pretendem levar para casa, mas penso que é preciso examinar melhor a questão, que envolve aspectos culturais, econômicos, sociais e políticos. Por que será que a maioria de nossos leitores está preferindo ficções sobre personagens, cenários e histórias de outros países, alguns mesmo do Oriente? Por que a história da menina da Índia chama mais a atenção do que a história da jovem do Rio de Janeiro? Nada contra as histórias e o talento dos estrangeiros, mas torço para que a gente volte a ter romances, personagens e cenários nossos. Fico desejando que os leitores brasileiros leiam mais sobre nossos habitantes e nosso país. Fico desejando que nossos ficcionistas, editores e livreiros encontrem os caminhos para que nossos romances voltem às listas de mais vendidos. A globalização está aí, é inevitável, mas não podemos deixar nosso samba morrer. Não podemos deixar nossas identidades culturais de lado. Não devemos deixar de pintar e contar a história de nossa aldeia. Só assim seremos universais, como disse Tolstoi. (Jaime Cimenti)
e propinas.
de costas para seus problemas.
mas não se emendam.
esparge verde e amarelo.
O presente no prego.
O futuro no prelo.
os votos nos tribunais.
Há sonhos de tempos límpidos.
A esperança quer mais.