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Coluna

- Publicada em 09 de Novembro de 2012 às 00:00

Sobre Nelson Rodrigues


Jornal do Comércio
Sendo apresentado apenas em três noites, durante o último Porto Alegre em Cena, Os plagiários, felizmente, volta a cartaz na cidade e marca a possível despedida do Centro Cenotécnico na av. Voluntários da Pátria. O espetáculo resulta de uma iniciativa do projeto Braskem, que garante o principal patrocínio do Porto Alegre em Cena que, em princípio, deverá ser mantido e repetido a cada ano, permitindo que novos textos e novos espetáculos sejam desenvolvidos.

Sendo apresentado apenas em três noites, durante o último Porto Alegre em Cena, Os plagiários, felizmente, volta a cartaz na cidade e marca a possível despedida do Centro Cenotécnico na av. Voluntários da Pátria. O espetáculo resulta de uma iniciativa do projeto Braskem, que garante o principal patrocínio do Porto Alegre em Cena que, em princípio, deverá ser mantido e repetido a cada ano, permitindo que novos textos e novos espetáculos sejam desenvolvidos.

A experiência é triplamente significativa: temos um texto idealizado a partir de outro texto - no caso, o conjunto da obra dramatúrgica de Nelson Rodrigues, cujo centenário se comemora neste ano - e uma iniciativa absolutamente inusitada em que quatro diretores, de quatro diferentes agrupamentos, reúnem-se para a produção do espetáculo, mesclando, ao mesmo tempo, seus elencos.

O resultado é um trabalho de quase duas horas de duração, extremamente curioso, inteligente e provocativo, fazendo com que o espectador acompanhe, sem qualquer descanso, os acontecimentos do espaço cênico. Os plagiários se desdobra, ironicamente, em quatro espaços - Nelson Rodrigues idealizou três espaços em Vestido de noiva - que se misturam continuamente. Do ponto de vista do enredo, há um jornalista que vai em busca de uma entrevista com o dramaturgo, a quem encontra em determinado momento. O jornalista é atormentado, a todo momento, por algumas imagens de memória que ele não consegue, a princípio, identificar, mas que chega a descobrir com a ajuda do dramaturgo, transformado em um psicanalista. 

Ao mesmo tempo, acompanhamos o desafio do grupo de atores chamado Os comediantes, cujo diretor, Ziembinski, está a ponto de desistir do trabalho, por não achar nenhum texto interessante para encenar, até que lhe chega às mãos o trabalho de Nelson Rodrigues. O dramaturgo, contudo, obriga o diretor a um “contrabando” no elenco, Cleide Jaconis, com quem ele estaria tendo um caso, levando a esposa a expulsá-lo de casa. Cleide veio de São Paulo expressamente interessada em fazer parte deste elenco, tornando-se, então, Alaíde, a protagonista. Enfim, há aquela ameaça de morte entre as irmãs, devido à disputa entre as duas atrizes pelo papel. Então, tudo se mistura e os enredos vão avançando (ou recuando), de modo a chegar ao final, com a morte de Nelson Rodrigues, a estreia e o sucesso da peça Vestido de noiva e, enfim, a morte do jornalista que, neste meio tempo, produziu uma peça que é uma biografia do dramaturgo, mas que inventa um sem-número de acontecimentos.

Como se vê, a trama refaz a prática do folhetim, matéria-prima de que Nelson Rodrigues se valeu desde aquelas primeiras narrativas assinadas com o pseudônimo de Suzana Flag, passando pelas colunas de “A vida como ela é...” e, enfim, sua dramaturgia. Na verdade, a vida de Nelson Rodrigues é um folhetim, desde o abandono da família pelo pai, que deixa Recife e se desloca para o Rio de Janeiro; o assassinato do irmão, em plena redação do jornal, em lugar do pai; sua doença pulmonar que o vai perseguir ao longo da vida; sua relação com a irmã; a disputa entre os filhos pela herança literária etc.

O espetáculo que se tem em mãos é um caleidoscópio de imagens absolutamente fiéis ao universo rodrigueano. Talvez o texto, às vezes, pague tributo a um certo pedagogismo demasiado, quando se refere a passagens e características da vida e da obra do dramaturgo. Mas, na verdade, até nisto o trabalho é rodrigueano, porque ele, no fundo, não passa de um pedagogo, que quer ensinar a seus contemporâneos como melhor viver. 

A linha de direção alcançou unidade: é uma espécie de cabaré musical o que encontramos, com um ritmo bem marcado e controlado, com um elenco extremamente equilibrado e bem ensaiado. Enfim, um espetáculo que vale pelo desafio e pelo que concretiza.       

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