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Entrevista Especial

- Publicada em 17 de Setembro de 2012 às 00:00

Adão Villaverde promete investir pesado em mobilidade


ANTONIO PAZ/JC
Jornal do Comércio
Apresentando-se como “um prefeito de verdade” na campanha à prefeitura de Porto Alegre, Adão Villaverde (PT) diz que vai resolver as “questões emergenciais da cidade”: a atenção básica em saúde, a segurança pública, a universalização da educação infantil e a mobilidade urbana.
Apresentando-se como “um prefeito de verdade” na campanha à prefeitura de Porto Alegre, Adão Villaverde (PT) diz que vai resolver as “questões emergenciais da cidade”: a atenção básica em saúde, a segurança pública, a universalização da educação infantil e a mobilidade urbana.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, que dá seguimento à série com os candidatos ao Paço Municipal, o candidato petista afirma que usará sua “experiência como professor, engenheiro e gestor público” para implementar o programa de governo.
Villaverde promete realizar uma grande intervenção na Capital, com o objetivo de melhorar a mobilidade. Um anel rodoferroviário deve ser feito a partir do Centro da cidade para melhorar o trânsito. O projeto aproveitará a linha 2 do metrô, anunciada pela presidente Dilma Rousseff (PT), devendo ser complementado pelo aeromóvel. Para enfrentar a criminalidade, criará um gabinete de gestão integrada, com participação da Brigada Militar e da Polícia Civil, coordenado pela prefeitura.
Na área da sustentabilidade, ressalta o projeto O Lixo é Luz, que visa a aproveitar o lixo orgânico coletado pelo Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) para a geração de energia. Também pretende concluir o Programa Integrado Socioambiental (PISA) e realizar a segunda fase - o PISA 2 -, elevando o tratamento de esgoto para 100% das moradias.
Jornal do Comércio - Por que o lema da sua campanha é “prefeito de verdade”?
Adão Villaverde - Porque nós entendemos que Porto Alegre precisa de duas coisas: um governo que resolva questões emergenciais da cidade, e, ao mesmo tempo, enfrente os desafios para uma Porto Alegre que seja pensada para as próximas gerações.
JC - O que seriam essas questões emergenciais?
Villaverde - Primeiro, a saúde. Fundamentalmente o investimento em atenção básica, ou seja, nas unidades de saúde, na ampliação do Programa Saúde da Família, no cadastramento e na concretização destes em forma de um prontuário para cada um dos 700 mil usuários do SUS (Sistema Único de Saúde) da Capital. Isto como uma antessala para a organização do tele-agendamento, a abertura dos postos até as 22h e a criação de no mínimo quatro novas UPAs (Unidades de Pronto-Atendimento) abertas 24 horas em áreas estratégicas da cidade. Tudo isso para poder desafogar as emergências dos hospitais, que é quem acaba sofrendo pela falta de investimento na atenção básica. Em segundo lugar, segurança pública. Temos que assumi-la como tarefa da prefeitura a ser coordenada nos níveis de enfrentamento à violência e políticas preventivas. Na área da educação, a universalização das creches, porque Porto Alegre tem hoje um número inaceitável de crianças em idade de estar nas creches que não estão. Por fim, o transporte coletivo. Realizar imediatamente a licitação do transporte coletivo como forma de requalificar o sistema na Capital.
JC - E a questão da mobilidade?
Villaverde - Porto Alegre tem que ser repensada do ponto de vista do desenvolvimento urbano, e, portanto, reorganizada do ponto de vista da mobilidade. Porto Alegre é uma cidade com o Centro em um canto. Nossa ideia é fazer um grande anel rodoferroviário em torno da cidade para reestruturar o trânsito. Isso é uma obra para revirar Porto Alegre, no sentido de reestruturar a organização da cidade.
JC - E o financiamento?
Villaverde – Se fôssemos fazer com o metrô, somaríamos mais R$ 5 bilhões aos R$ 2,5 bilhões do trecho já anunciado pela presidente Dilma (Rousseff, PT). Ia levar muito tempo. Temos que pensar isso, para ser mais ágil, com o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) ou o aeromóvel. Isso é uma obra estruturante para reorganizar o trânsito da Capital. É claro que depois terão de ser feitas algumas intervenções em avenidas e terá de ser repensado também o sistema de ônibus.
JC - Qual seria a solução mais viável?
Villaverde - Para fechar o anel rodoferroviário, o metrô custa 20 (em um escala de proporção em relação aos outros), o VLT custa 7, o BRT (ônibus rápido) custa 1 e o aeromóvel custa 2 ou 3. Teremos que analisar, mas o VLT e o aeromóvel carregam mais passageiros. Estamos pensando estrategicamente a cidade e, claro, é preciso um conjunto de intervenções. Vamos licitar o transporte coletivo, porque queremos qualidade e a reorganização do sistema. O transporte coletivo, do jeito que está, realiza 33 mil viagens diárias no Centro. Vamos criar linhas entre bairros, por exemplo, da Lomba do Pinheiro até o Partenon e a Pucrs. É possível você cobrar a metade do preço. A tarifa vai ser diferenciada na cidade. Esse conjunto de medidas que estamos tomando também pressupõe usar o Guaíba para se deslocar para a zona Sul, pressupõe fazer obras e colocar um aeromóvel para a zona Sul da cidade ou duplicar a Oscar Pereira e a Costa Gama, por exemplo. Lá é para onde a cidade pode crescer hoje.
JC - Como vai ser abordado o tema das ciclovias?
Villaverde - Para nós, é estratégico. Eu não farei ciclovias, eu vou fazer ciclofaixas. Calçada é para pedestres. Desafogaríamos barbaramente a avenida Ipiranga se criássemos ali uma ciclofaixa. E faremos isso em várias ruas estruturantes da cidade. Faremos também em caminhos alternativos. Hoje, o que temos, e o que a atual gestão está propondo, não é uma política de mobilidade, é uma política por impulso e sem planejamento.
JC - Quais os desafios para a cidade?
Villaverde - Os desafios são as propostas estruturantes. Temos uma visão de gestão que parte muito da minha experiência como professor, engenheiro, gestor público, que diz que para as coisas darem certo você precisa de diálogo, consistência e planejamento. Você tem que conversar para fazer um bom diagnóstico e ver quais são as demandas com quem conhece e quem tem competência. Tem que colocar a consistência, a maturidade e a experiência para poder produzir as soluções, e tem que eliminar da visão pública essa ideia do improviso, ou seja, as coisas têm que ser planejadas e pensadas. Temos um programa guiado por cinco grandes eixos. Queremos uma cidade sustentável, inovadora, segura, saudável e que leve em conta a diversidade de Porto Alegre. Para isso, temos um conjunto de projetos consistentes.
JC - Quais são?
Villaverde - Os quatro grandes projetos da cidade sustentável são o Lixo é Luz, que é a transformação do lixo orgânico em energia; o Recicla Porto Alegre, que é pensar o processo da reciclagem da produção ao descarte; o Bela Cidade, que é um projeto de revitalização do mobiliário; o Cidade Verde, que é potencializar as áreas verdes da cidade. Porto Alegre regrediu barbaramente na política ambiental. Estamos colocando essa questão como um dos eixos da nossa campanha. Queremos concluir o PISA  (Programa Integrado Sócioambiental) e abrir o PISA 2 para universalizar o tratamento de esgoto. Do ponto de vista da inovação, temos um projeto chamado Porto Alegre Digital, que é a revitalização do Centro em direção ao 4º Distrito. Porto Alegre é uma cidade com vocação em alta tecnologia, em turismo de negócios, em economia criativa na área da cultura, em excelência em algumas áreas da saúde. Trabalharemos a revitalização do 4º Distrito como uma área que possa incorporar empreendimentos de base tecnológica.
JC - Qual o papel do município no enfrentamento da crise econômica?
Villaverde - Entendemos que o município não pode substituir os empreendedores, mas tem de ser indutor do desenvolvimento econômico. A melhor forma de fazer isso é pensar e organizar instrumentos para potencializar as vocações de Porto Alegre que hoje estão esquecidas. No ano passado, vieram 200 mil pessoas para eventos na cidade, para turismo de negócios, mas iam parar no Vale dos Vinhedos ou em Gramado e vinham aqui só para participar do evento. Porto Alegre tem um enorme potencial turístico e de mobilidade no Cais do Porto, na orla, no Guaíba, no Delta do Jacuí, e isso não é estimulado. Não existe o uso do Guaíba para interferir na mobilidade urbana ainda, e ele não é aproveitado do ponto de vista do potencial turístico.
JC - E os outros eixos?
Villaverde - Tem a segurança pública, que é sim tarefa do prefeito. Vamos coordenar ações na área da segurança pública, tanto no enfrentamento à violência quanto na questão da prevenção. Só quatro bairros de Porto Alegre representam 20% dos homicídios do Estado. Como a violência ocorre no território, o prefeito tem que coordenar o conjunto das forças de segurança com todos os equipamentos tecnológicos que temos. A ideia é fazer um gabinete de gestão integrada, coordenado pelo prefeito, onde participam todas as forças de segurança, em todos os níveis, e todas as secretarias que fazem política de prevenção. Vai ser tudo centralizado. Vamos ter um programa específico para a Guarda Municipal, que é o Ronda Escolar. Equipes de guardas municipais vão acompanhar as escolas, mapear, fazer a ronda sistematicamente. E nós vamos aumentar o efetivo da Brigada Militar em Porto Alegre.
JC - Como o município incide na ampliação do efetivo?
Villaverde - Não vamos assumir as responsabilidades da Polícia Civil e da Brigada Militar. Vamos coordenar ações junto com os governos estadual e federal. Se necessário, vamos firmar um convênio para que o governo do Estado disponha dessas duas instituições para que as ações delas sejam coordenadas a partir da prefeitura.
JC - E o eixo relativo à diversidade?
Villaverde - Queremos uma cidade viva de dia e de noite, e para isso vamos investir em segurança pública e cultura. Descentralizar a cultura, apoiar eventos nos espaços públicos, implementar vídeo-monitoramento, apoiar a existência de vida cultural e gastronômica na cidade, e isso precisa ser feito em vários bairros.
JC - E a polêmica sobre a Cidade Baixa?
Villaverde - O que acontece lá é a clássica ausência de compreensão e de visão do que o Poder Público não deve fazer. Eu morei muitos anos ali e não entendo que tenha um conflito dos moradores com a vida daquele bairro. Conflito só é problema quando você não sabe enfrentar a diferença. É preciso conversar com os dois lados e pactuar uma solução para regrar horários, ter segurança. Esse corte nos horários está restringindo a vida cultural na Cidade Baixa.
JC - Como pretende universalizar a Educação Infantil?
Villaverde - Hoje tem duas formas de ampliar o sistema de creches: criando novas escolas infantis do município e aumentando o conveniamento com as creches comunitárias. Nós vamos ampliar as escolas públicas municipais. E neste conveniamento, que hoje existe uma modalidade em que parte da escola é paga pela prefeitura e a outra parte são os pais que pagam, vamos substituir a parte paga pelos pais por recursos do Fundeb.  Já tratamos disso com o ministro (Aloísio) Mercadante (PT) e com o secretário-executivo do MEC. Há outro modelo em que é possível usar escolas públicas (estaduais) que hoje estão ociosas em determinados horários, por exemplo, perto de comunidades e que tenham espaço para colocar o ensino infantil, isso é um regime de colaboração, tem que fazer um convênio com o governo do Estado, porque ele oferece a infraestrutura.

Perfil

Adão Villaverde tem 54 anos. Nascido em Alegrete, mudou-se para Porto Alegre no início dos anos 1970, quando veio estudar no Colégio Júlio de Castilhos, onde se engajou no movimento estudantil e no combate à ditadura. É engenheiro civil e professor universitário. Está no terceiro mandato de deputado estadual. Foi presidente da Assembleia Legislativa em 2011. É autor da lei que controla o enriquecimento ilícito de agentes públicos e da lei de incentivo à inovação tecnológica. Foi secretário de Ciência e Tecnologia no governo Olívio Dutra, sendo um dos responsáveis pela criação da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs). Villaverde também afirma ser um dos responsáveis pela instalação do Ceitec em Porto Alegre. A estatal federal focada na microeletrônica é a primeira fábrica de chips da América do Sul. É um dos fundadores do PT. Revela ter uma relação forte com os bairros Bom Fim e Cidade Baixa, onde viveu, e considera o pôr do sol do Guaíba visto do morro da Glória e do morro da Embratel a paisagem mais bonita da cidade. É casado com Maria Teresa e pai de Pedro, 15 anos.
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