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Entrevista Especial

- Publicada em 03 de Setembro de 2012 às 00:00

José Fortunati enfatiza gestão do presente e ações para o futuro


JONATHAN HECKLER/JC
Jornal do Comércio
Para José Fortunati (PDT), a campanha eleitoral tem ares de prestação de contas do que fez desde 2010, quando assumiu o cargo de prefeito após José Fogaça (PMDB) se afastar para concorrer a governador. A coligação Por Amor a Porto Alegre (PDT, PMDB, PRB, PP, PTB, PTN, PPS, DEM, PMN) baseou sua estratégia na valorização do trabalho feito pelos dois. Na quarta entrevista da série com os candidatos ao Paço Municipal, o prefeito citou ao Jornal do Comércio diversos exemplos de projetos em execução a que pretende dar continuidade se conseguir a vitória em outubro, como as obras para a Copa de 2014.
Para José Fortunati (PDT), a campanha eleitoral tem ares de prestação de contas do que fez desde 2010, quando assumiu o cargo de prefeito após José Fogaça (PMDB) se afastar para concorrer a governador. A coligação Por Amor a Porto Alegre (PDT, PMDB, PRB, PP, PTB, PTN, PPS, DEM, PMN) baseou sua estratégia na valorização do trabalho feito pelos dois. Na quarta entrevista da série com os candidatos ao Paço Municipal, o prefeito citou ao Jornal do Comércio diversos exemplos de projetos em execução a que pretende dar continuidade se conseguir a vitória em outubro, como as obras para a Copa de 2014.

Os investimentos foram possíveis, segundo Fortunati, porque a prefeitura “saiu do SPC” e equilibrou as contas, com apoio do Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade (PGQP) para aprimorar a gestão. Ele aposta em parcerias com a iniciativa privada para agilizar os projetos para a cidade, do sistema de aluguel de bicicletas à revitalização do Cais Mauá. Tecnologia e inovação são palavras muito presentes no plano de governo, com aplicações em áreas como segurança pública e gerenciamento de consultas. O documento também reconhece falhas que ainda não foram sanadas, em especial na saúde e na Educação Infantil.

Fortunati evita falar em segundo turno por considerar que qualquer um dos sete concorrentes tem condições de chegar lá. Ele lembra o que ocorreu na eleição de 2002. Germano Rigotto (PMDB) começou a disputa com menos de 3% de intenções de voto nas pesquisas e surpreendeu os que eram considerados favoritos.

Jornal do Comércio - No seu plano de governo, o primeiro item é inovação. Atrair empresas é uma prioridade?

José Fortunati - Somos um polo de atratividade das novas tecnologias. Foi aqui que nasceu o software livre, temos uma empresa que hoje é considerada a melhor empresa pública na área de informática, que é a Procempa, estamos investindo fortemente nas novas tecnologias para monitoramento do trânsito. Hoje temos 88 câmeras e queremos passar para 100 até o fim do ano, potencializando também a Guarda Municipal, e estamos construindo o Centro Integrado de Comando. 

JC - Como funcionará?

Fortunati - Permitirá que 18 secretarias estejam permanentemente envolvidas, desde a Defesa Civil até a Saúde, para que enchentes e questões de mobilidade urbana e lixo sejam devidamente acompanhadas. O prefeito terá lá uma sala de gerenciamento das crises, como incêndios, enchentes, acidentes e outros, para tomar decisões. Também teremos todas as imagens para a segurança pública do Estado, cercamento eletrônico dos parques, ou seja, a questão da informática está presente. Junto com isso, temos o desenvolvimento da parceria com o Tecnopuc, que hoje é um modelo de geração de empresas não só para a Capital. A Ufrgs também tem a sua incubadora, a Ceitec, na Lomba do Pinheiro. Porto Alegre perdeu a sua vocação industrial a partir da década de 1960, de lá pra cá o segmento de serviços, comércio e turismo, tem adquirido uma importância muito grande para a cidade, e nos últimos dez anos o setor das novas tecnologias vem se destacando. Este é o eixo fundamental para que nós possamos desenvolver, quem sabe, um novo Vale do Silício.

JC - A segurança é ponto importante de sua plataforma?

Fortunati - Tenho cobrado do governador (Tarso Genro, PT) a necessidade de ampliar o número de brigadianos em Porto Alegre. Há um estudo que demonstra que para o tamanho da cidade deveríamos ter algo em torno de 5 mil policiais, hoje temos 2,6 mil. Comparativamente, temos muito menos brigadianos do que há 20 anos. Há um compromisso de gradativamente aumentar esse número, mas naturalmente nós devemos fazer a nossa parte, e estamos fazendo. Um item fundamental é a iluminação pública, uma cidade mais iluminada dá mais segurança para a sua população, já que normalmente os assaltos ocorrem em lugares mais ermos e escuros. Já mudamos os 80,5 mil pontos de luz que temos na cidade, através do projeto Reluz, que começou com o governo Fogaça, e concluímos há pouco a substituição de todas as luminárias, com nova tecnologia que possibilita uma redução dos custos mensais no pagamento da luz, mas aumenta a luminosidade em torno de 30%. Além disso, temos o aumento do efetivo da Guarda Municipal. A guarda tem limitações na sua estrutura, na sua competência institucional de dar segurança à população. Ela pode estar em prédios municipais, praças e escolas, então estamos aumentando o efetivo para proteger exatamente essas áreas, sempre de forma integrada com a Brigada Militar. É muito simplista a proposta de que o prefeito assuma toda a área de segurança, primeiro porque, constitucionalmente, isso não é possível e, segundo, é demagógico.

JC - Como pretende concretizar a proposta de universalização da Educação Infantil?

Fortunati - Estamos trabalhando de tal forma que possamos ter um número de escolas infantis adequado até o final do próximo mandato, que universalize o acesso das crianças dos 4 aos 6 anos. Porto Alegre e o Estado não vinham apostando na educação. Desde 2005, conseguimos fazer com que a Educação Infantil realmente entrasse na agenda da cidade. Até o final deste ano, teremos construído 50 escolas infantis na cidade, isso em oito anos. Antes o foco era no Ensino Fundamental, era preciso universalizar o acesso a ele. Isso Porto Alegre conseguiu, além de ter o melhor pagamento de salários de professores. O nosso professor ganha 3 vezes mais do que um professor de rede pública estadual. Agora estamos trabalhando para o acesso à Educação Infantil, e queremos continuar apostando muito nas creches, de zero a 3 anos, para que pelo menos até o final do próximo mandato a gente possa atender a 50% da demanda.

JC - E para a saúde, quais são os investimentos propostos? 

Fortunati - A área da saúde tem sido minha prioridade absoluta. Compramos a briga com as corporações, criando o Instituto Municipal de Estratégia de Saúde da Família, estamos colocando ponto eletrônico em todas as unidades de atendimento. Terminamos com essa história de que as pessoas chegam ao posto e não encontram o profissional da saúde. Estamos ampliando o número de Programas de Saúde da Família e agora queremos dar um salto de qualidade. Estamos informatizando a regulação de leitos. Apesar de sermos os gestores do SUS em Porto Alegre, tínhamos o controle de apenas 2% dos leitos existentes e simplesmente recebíamos as informações. Acabamos detectando fraudes na utilização de leitos hospitalares. A informatização vai possibilitar que em todas as unidades de saúde tenhamos o prontuário eletrônico em tempo real com o histórico do paciente, terminando com a dupla consulta e com os gastos para o Poder Público. Somente neste ano, vamos abrir 254 novos leitos, reabrindo hospitais, como o Independência e o Luterano, e vamos chegar a 2014 com mais 1.077 na rede pública municipal. Claro que esse esforço não pode ser só da prefeitura. De cada dez pacientes que são atendidos pelo SUS, cinco não são da Capital. A Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) da zona Norte funcionará 24 horas atendendo à Região Metropolitana. Em seguida, devemos começar a construção da UPA Azenha. Outra será no bairro Humaitá, que atenderá a quem vem do Vale do Sinos também.

JC - A cidade vai cumprir o cronograma da Copa? 

Fortunati - Pelo fato de estarmos com a saúde financeira do município em dia, conseguimos recursos bastante adequados, financiamento com prazo de carência maior, juros menores e prazo de pagamento mais alongado. Somos a única cidade do País que assinou duas matrizes de responsabilidade, porque, como  havíamos colocado o metrô para a Copa e o governo não aceitou, acabamos substituindo por mais obras para a cidade. Tenho acompanhado diuturnamente a questão dos estádios, o cronograma é absolutamente factível. As demais obras ficarão como legado. Estamos viabilizando a duplicação da avenida Beira-Rio e iniciando a da avenida Tronco, que é mais complexa, porque vamos ter que remanejar 1.400 famílias. Tudo isso está sendo feito, a avenida Severo Dullius, o “X” da rodoviária, estamos com cinco grandes obras na 3ª Perimetral, estamos investindo R$ 11 milhões para a revitalização do HPS, ou seja, todas as obras estão de acordo com o cronograma.

JC - Qual será a participação no governo dos nove partidos que compõem a aliança, em caso de vitória? 

Fortunati - Não muda muito em relação ao que temos hoje, porque, em 2008, no segundo turno, nós já fizemos uma composição com sete partidos. O que é importante que as pessoas compreendam é que a cidade tem um prefeito e que, a partir do momento em que alguém é indicado pelo partido para fazer parte da gestão, ele não responde mais ao partido, mas sim ao prefeito da cidade. Eu faço esse monitoramento, tanto é que toda vez que um CC (cargo em comissão) não está correspondendo, peço imediatamente a substituição, de tal forma que a máquina administrativa opere independentemente de sigla partidária para que nós possamos apresentar o melhor resultado possível para o município.

JC - É possível diminuir o número de CCs? 

Fortunati - É uma falsa polêmica, e se usa isso muito pela incompreensão que uma parte da população tem sobre a importância do CC. Fico abismado porque quem ataca dessa forma normalmente tem cargo e um grande número de CCs no seu mandato. Atacam uma empresa como a Carris, que tem 40 CCs, quando observamos alguns parlamentares que têm quase o mesmo número no seu mandato. Os CCs, na verdade, ajudam na administração da cidade, essa é a sua função. Buscamos escolher pessoas que tecnicamente correspondam - e politicamente também. Preciso de pessoas identificadas com o programa de governo para que, junto com os servidores, possam fazer com que as coisas aconteçam. Obviamente, se o CC está sendo apadrinhado, não cumpre com as funções e não tem competência, isso é um peso, como um servidor que é relapso e não cumpre com seu horário. Então a discussão aqui não é ser CC ou concursado, mas qual o papel de quem está na gestão pública, pago pelo dinheiro público.

JC - Sua gestão criou a Secretaria dos Direitos dos Animais (Seda). Este tipo de iniciativa é bem compreendida pela população? 

Fortunati - Em um ano, a Seda fez mais de 5,7 mil esterilizações e castrações, mais de 3 mil outros procedimentos. A população mais carente é que compreendeu a importância disto, porque a proliferação de animais é um problema de saúde pública. Um cão ou um gato acabam reproduzindo no mínimo seis filhotes, e isto vai se multiplicando de forma geométrica e, obviamente, com o abandono desses animais, existe a transmissão de doenças. O segundo aspecto é o bem-estar animal. Tem gente que briga até a morte para proteger uma árvore e maltrata um animal, é uma contradição. Nem todo mundo entende a ação da Seda, mas hoje tenho convicção de que a maioria da população compreende e aplaude.

JC - Se tivesse que escolher um único projeto de seu plano dgoverno para implantar, qual seria? 

Fortunati - Seria a chamada transformação de Porto Alegre em uma cidade inteligente. Hoje estamos avançando para isso. Há poucos dias, uma instituição que avalia os municípios em termos de presença de informática nos considerou a sétima cidade do País mais sustentável eletronicamente. Então, o meu desejo é que isso cresça porque traz benefícios de forma direta à população, como geração de emprego e renda, e as novas tecnologias facilitam a vida das pessoas. 

Perfil

Nascido em Flores da Cunha, José Fortunati estudou em escola pública e formou-se em Matemática, Administração de Empresas e Direito na Ufrgs. Atuou no movimento estudantil e foi dirigente do Sindicato dos Bancários. A carreira política começou no PT, partido pelo qual foi eleito deputado estadual constituinte em 1987 e deputado federal em 1990. Em 1997, assumiu o cargo de vice-prefeito na chapa liderada por Raul Pont. Até então, a legenda vinha indicando os vices como os próximos candidatos a prefeito, mas a sequência foi quebrada na eleição de 2000. Fortunati trocou o partido pelo PDT em 2002. Na primeira eleição municipal pela nova legenda, em 2004, foi o vereador mais votado. Apesar dos compromissos como prefeito nos dias úteis - Fortunati preferiu não se licenciar do cargo - e das ações de campanha nas horas livres, o candidato não abre mão dos exercícios, que realiza três vezes por semana. A religiosidade é outro aspecto importante para o candidato, que frequenta a Igreja Batista Filadélfia. Para os momentos de lazer, gosta de livros, cinema, teatro e futebol. Seu lugar preferido em Porto Alegre é o Parque da Redenção.

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