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Publicada em 27 de Novembro de 2024 às 18:56

O imediatismo do brasileiro

Elisângela Hesse, diretora-presidente da RS-Prev

Elisângela Hesse, diretora-presidente da RS-Prev

RS-Prev/Divulgação/JC
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Elisângela Hesse
Elisângela Hesse
A educação financeira entrou na Base Nacional Comum Curricular só no ano de 2020. Em um país com índices tão altos de endividamento, ter melhores noções da gestão do próprio dinheiro e do seu futuro seria essencial para uma vida com mais qualidade e o próprio desenvolvimento nacional. Mas não é essa nossa realidade — e o presente é ainda mais preocupante, pois não vemos avanços na efetiva implementação nos currículos da Educação Básica.
Veja-se o caso das bets e do "jogo do tigrinho": esse mercado ganhou uma popularidade imensa e drena bilhões em recursos dos brasileiros. Estudo do Banco Itaú aponta que R$ 68,2 bilhões foram gastos em um ano nas casas de apostas. Somente no mês de agosto, segundo nota técnica do Banco Central, foram R$ 3 bilhões despendidos apenas por beneficiários do Bolsa Família — e o uso do programa social nas bets foi proibido pelo Supremo Tribunal Federal.
Há relatos de pessoas deixando de consumir produtos, de ter lazer e contraindo dívidas de milhares de reais para financiar esse vício. Um estudo do Senado Federal indica que 42% estão com débitos por conta das apostas — em casos extremos, há indivíduos desviando recursos das empresas onde trabalham somente para continuar jogando.
Atraídos pelo risco e pela possibilidade de ganhos rápidos e substanciais, o que seria uma suposta solução imediata para a falta de dinheiro se tornou um problema de saúde pública — e que pode se agravar caso seja aprovado o Projeto de Lei nº 2234/2022, que legaliza bingos, cassinos e até o jogo do bicho.
Por outro lado, soluções seguras para o planejamento financeiro crescem, mas em ritmo menor. Se as "bets" avançaram 734% desde 2021, segundo estimativas, a previdência privada teve incremento de 22% em ativos nos últimos 3 anos. No ano passado, o segmento da previdência complementar avançou em R$ 280 bilhões — ou seja, em um ano, o brasileiro gastou cerca de 25% desse valor somente em jogos de azar.
Não podemos esquecer que apostas e jogos são parte da indústria do entretenimento, e não uma forma de investimento, mesmo que possa trazer benefícios econômicos a curto prazo, por outro lado oferece desafios significativos em termos de saúde pública e social.
É um paradoxo no qual a busca pela gratificação imediata ameaça a saúde financeira e mental da população. É imprescindível que iniciativas multidisciplinares de educação financeira e previdenciária conscientizem sobre os riscos do jogo compulsivo. Não existe ganho fácil. Existe planejamento e disciplina. Sem isso, não só o presente, mas o futuro de milhares de brasileiros estará em risco.
Diretora-presidente da RS-Prev
 

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