Gilberto Jasper
Seis meses depois, criei coragem para visitar minha cidade natal, Arroio do Meio, no Vale do Taquari. O município foi um dos mais castigados com as enchentes. Foram pelo menos três grandes cheias no em apenas sete meses, desde setembro do ano passado.
Vídeos, fotos, depoimentos. Nada disso tem o condão de dar a dimensão exata da calamidade que assolou a região. Cruzeiro do Sul, Lajeado, Encantado, Roca Sales e Muçum também foram algumas das inúmeras comunidades destruídas pelas águas.
O simples ato de chegar ao Vale do Taquari se transformou numa epopeia. A ponte sobre o rio Taquari, entre Estrela e Lajeado, na BR-386, passa por reformas diuturnamente. Logo nas primeiras horas da manhã o motorista precisa de muita paciência para transpor poucos metros de para-e-anda. Nos horários de pico os congestionamentos são intermináveis.
Para alcançar Arroio do Meio há duas opções: a ponte de ferro da estrada velha para Lajeado - reconstruída por empresários - e a ponte do Exército para o trânsito de ônibus e caminhões. Este trecho tem crateras e muita poeira. A lentidão é permanente. Somente um veículo passa pela ponte por vez.
Há muito tempo os 36 municípios do Vale do Taquari não elegem deputados estadual ou federal com berço na região. O custo político é alto. Falta interlocução junto à Assembleia Legislativa, Palácio Piratini e em Brasília.
A ponte de ferro, reconstruída pela comunidade, mostra a força da população, mas comprova, também, que se trata de gente ordeira. Ao invés de fechar rodovias, mobilizar caravanas à capital federal, encontra soluções locais.
O Vale do Taquari aguarda com atenção o cumprimento da promessa do governo do Estado de que a ponte sobre a BR-130 - ligação entre as partes baixa e alta da região - será entregue em 25 de dezembro. O Natal de meus conterrâneos depende desta entrega, garantida desde a eclosão da tragédia. Paciência, esforço coletivo e tolerância têm limite.
A ajuda dos governos estadual e federal está muito aquém do anunciado. Entidades empresariais fazem entregas muito mais importantes para a retomada da normalidade. Enquanto isso, a população sofre com a destruição do patrimônio de uma vida inteira e com a perda de familiares. Até quando?
Jornalista