Darcy Francisco Carvalho dos Santos
Não me entendam diferente do que sou. Não sou marxista, porque defendo a liberdade, a livre empresa e o incentivo à criatividade humana. Mas não há como negar que Marx tinha razão, quando previu o aumento da produção e o subconsumo, causados pelo excesso de automação.
Nouriel Roubini, que aqui esteve, em palestra na Fronteiras da Ciência, e em seu livro "Mega Ameaças", destaca a Inteligência Artificial (IA) com uma delas. Diz que as revoluções industriais do passado acabaram muitos empregos, mas criaram outros em maior número. O mesmo não acontecerá com a IA, porque vai acabar com os empregos nas tarefas simples, para, em seguida, fazer as operações mais complexas, que antes eram reservadas ao homem.
Muitas lojas e supermercados estão criando a possibilidade de o cliente comprar e se encarregar das tarefas necessárias ao pagamento, num terminal de computador. Não estou pensando em voltar aos tempos dos crediários em que se esperava, muitas vezes, horas para realizar uma compra. Estou preocupado é com excesso atual.
Isso, enquanto for uma maneira de acelerar parcialmente o atendimento aos clientes, poderá ser positivo. O problema é sua generalização.
Com a adoção de robôs tanto na produção como na distribuição dos produtos, a produção aumenta, mas o que adianta produzir se não tem para quem vender? Estou falando do grande perigo que pode representar a Inteligência Artificial.
A IA, antes de eliminar os empregos, pode propiciar a redução dos salários e aumentar a já desigual distribuição de rendas.
Como é sabido, um país como o Brasil, com acentuado envelhecimento da população e a consequente redução daqueles contingentes em idade ativa, precisará incrementar a tecnologia como meio para aumentar a produção. Mas, se à medida que formos produzindo mais, formos reduzindo o poder de compra das pessoas, continuaremos igualmente pobres.
Ninguém vai gostar de pagar um enorme tributo para repartir com os desempregados e nem estes vão se sentir bem como seres ociosos e, ainda, recebendo muito menos do que receberiam, se tivessem seus empregos.
Os males devem ser cortados pela raiz. Depois que se alastram, fogem ao nosso controle. Os donos dos empreendimentos devem, desde logo, fazer acordos, tentando colocar um limite na expansão da IA. Caso contrário, estarão gerando sua própria destruição e dando razão a Marx.
Economista