Quem nasceu ou vive em Rio Grande conhece a importância que a fábrica Rheingantz teve para a cidade. O desenvolvimento do município foi impulsionado pela instalação de uma das maiores fábricas têxteis do País, em 1873. Famílias inteiras tiveram o seu sustento vindo do trabalho na empresa durante os quase 120 anos de funcionamento. Houve o apogeu e períodos de dificuldade até as portas se fecharem definitivamente em meados de 1991/1992, quando já operava com o nome de Inca Têxtil.
Imponente, o prédio que foi projetado parcialmente pelo arquiteto alemão Theodor Wiederspahn sofreu as ações do tempo e do abandono, mas resistiu, permanece em pé e agora vai ganhar uma segunda chance. A Innovar Incorporações, empresa de Marau, arrematou a edificação em leilão em 2012 e inicia a obra de revitalização ainda no primeiro trimestre do ano. Várias etapas legais e burocráticas foram vencidas, e a empresa recebeu o alvará para que possa começar as obras de revitalização.
O projeto é minucioso e ocupou mais de três anos de trabalho de uma equipe interdisciplinar, que contou com escritórios de São Paulo, Rio Grande e Marau. "Nossa principal preocupação foi preservar as características estéticas para devolver toda a beleza e importância cultural da construção. Reconhecemos e admiramos o vínculo afetivo que a população mantém com a antiga fábrica e tudo o que ela representou para o desenvolvimento de Rio Grande", comenta o diretor administrativo-financeiro da incorporadora, Rangel Moraes.
Com vasta pesquisa, o projeto de revitalização levou em conta diferentes fatores, como o estudo das plantas originais, trabalhos acadêmicos de referência desenvolvidos sobre a Rheingantz, publicações e livros de escritores da região e todo o tipo de material encontrado nas antigas dependências. Parte do prédio é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae), o que inclui o antigo Escritório Central da empresa, área com maior importância arquitetônica. "Trabalhamos para manter a identidade original, mas isso é difícil, pois o projeto recebeu muitos acréscimos posteriores que, de uma certa forma, eram necessários para atender as necessidades fabris da época. Além disso, a construção deverá ser adaptada a novos usos e tecnologias mais atuais para garantir a segurança e bem estar dos usuários", salienta o coordenador jurídico do projeto Rheingantz, Ricardo Henriques.
Em situação de abandono por quase 30 anos, as áreas degradadas e, em grande parte, descobertas favoreceram o surgimento de vegetação extemporânea e inoportuna que nasceu no pátio, entre os escombros. "Fizemos um ajustamento de conduta e obtivemos autorização para remover a cobertura vegetal inadequada. Como medida de compensação, acordamos um plantio de 3 mil mudas de árvores nativas nas vias do município", conta o diretor comercial da Innovar Incorporações, Josicler D. Rodrigues.
As obras se iniciam pelo telhado, que está com a estrutura comprometida e apresenta risco iminente de desabamento. Com o alvará para início das obras concedido e a empresa que vai operacionalizar a primeira fase já contratada, a previsão de início é ainda neste mês.
Além da restauração das edificações tombadas, há também um projeto para o local que soma 14,6 hectares de área total, que ainda aguarda algumas definições. "O que podemos dizer é que não será um condomínio fechado. Queremos que toda a população possa usufruir e frequentar a área da fábrica Rheingantz, que será totalmente recuperada e revitalizada", assegura Rangel Moraes.