Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade do Vale do Taquari (Univates) se dedicou a olhar uma das faces decorrentes das migrações humanas: as práticas de interação entre os migrantes e o cenário estabelecido no local de recepção. A pesquisa identificou práticas sociais transnacionais na vida cotidiana dos imigrantes haitianos em Lajeado, possibilitando a sua permanência na cidade ou então as condições para a continuidade do caminho migratório.
Os achados estão vinculados aos resultados do projeto de pesquisa "Cidades médias e os fluxos imigratórios internacionais recentes: o exemplo da cidade de Lajeado na região do Vale do Taquari/RS", financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O trabalho teve por objetivo compreender os espaços de inserção dos imigrantes haitianos na cidade de Lajeado e algumas práticas sociais que dinamizam as mobilidades transnacionais no seu cotidiano.
"Para os haitianos, a imigração é um projeto familiar, que conecta o imigrante a diferentes espaços transnacionais, mantendo os vínculos com aqueles familiares que ficaram no Haiti. Em busca de melhores condições de vida e trabalho, eles acabam se inserindo nas regiões em diferentes dimensões - econômica, política, cultural, social - e o estudo desenvolvido contribui para procurar entender um pouco mais essa realidade dos haitianos, que hoje representam o maior grupo de migrantes em Lajeado e na região do Vale do Taquari", ressalta a docente Fernanda Cristina Wiebusch Sindelar.
Os pesquisadores estudaram a inserção no mercado de trabalho e a renda. Na última década Lajeado recebeu um fluxo significativo de haitianos, os quais, em sua maioria, estão vinculados, no mercado formal de trabalho, ao setor de abate e fabricação de produtos de carne (91,3% em 2020), e muitas vezes ocupam funções que os locais não querem, por serem menos qualificadas, com menor status ou menor possibilidade de ascensão profissional. A remessa de recursos para a diáspora haitiana é considerada um símbolo de prestígio, no entanto, na atual conjuntura, eles têm muitas dificuldades para continuar enviando os recursos para a família que permaneceu no Haiti, em decorrência da crise econômica, desvalorização do real e dificuldades com a pandemia.
Para os migrantes, a mobilidade e circularidade em busca de melhores condições de vida é uma constante. Por isso, muitos deles já migraram mais de uma vez até chegar a Lajeado e continuam pensando em migrar para novas regiões que forem mais atraentes. Alguns inclusive já estavam na região, migraram e retornaram para cá, por terem família, amigos e conhecerem a região. A migração também não necessariamente envolve todos os membros da família. Há casos em que o esposo reside em um local, a esposa em outro e, ainda, os filhos, se maiores, podem estar com outros parentes, mas, se isso for para melhorar a condição da família no futuro, o farão.