Os professores da Universidade do Vale do Taquari (Univates), Sérgio Nunes Lopes e Neli Teresinha Galarce Machado publicaram, recentemente, um estudo que analisa as fazendas do século XVII e XIX ao longo do rio Taquari sob o prisma arqueológico. A pesquisa em questão deriva de uma tese de doutoramento defendida no Programa de Pós-graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD) da Univates.
O estudo investigou os impactos sociais e ambientais das primeiras fazendas concebidas no percurso do rio Taquari. A principal conclusão é que a construção de fazendas para extração de recursos vegetais e minerais alterou de forma importante a paisagem e a topografia da região do Vale do Taquari.
Os locais escavados foram a Fazenda Espanhola, Fazenda Pedreira e Fazenda Pinhal, em Bom Retiro do Sul e a Fazenda Conceição, em Fazenda Vilanova, às margens da BR 386, na localidade de Conceição. "A cultura material encontrada nos sítios arqueológicos pesquisados são documentos que complementam as informações sobre as relações socioambientais no percurso do rio Taquari", explica Lopes.
A pesquisa surgiu com o intuito de delinear qual era a configuração das fazendas do percurso do rio Taquari. Na historiografia brasileira há muitos estudos sobre essas unidades de produção vinculadas aos ciclos do açúcar, do café ou da criação de gado. "O que o estudo revelou foi que as fazendas pesquisadas tinham como atividade destacada a extração. Matos de pinheiros densos tombaram e foram parcialmente falquejados nessas estruturas", detalha Lopes. "Não há registros na literatura de edificações criadas com esse fim. Isso confere diferencial ao estudo e aponta para alterações significativas na paisagem regional ao longo dos últimos dois séculos e meio", revela o pesquisador.
A principal conclusão é que a construção de fazendas para extração de recursos vegetais e minerais alterou de forma importante a paisagem e a topografia da região do Vale do Taquari. Os impactos ambientais se fazem sentir ainda na contemporaneidade, que deu continuidade à alteração dos espaços.
Outra implicação no que tange aos resultados é a perspectiva de que, muito antes da vinda dos imigrantes ítalo-germânicos no século XIX, a coroa portuguesa já tinha um projeto de exploração para este espaço, conforme é possível visualizar na análise de um documento de autoridades portuguesas que vistoriam a vegetação da região estudada na intenção de incorporá-la como provedora de matéria prima para a indústria náutica. "Tudo isso feito com mão de obra escravizada", completa Lopes.