O Taleban anunciou nesta terça-feira (7) um gabinete interino dominado pela velha guarda da milícia, dando cargos importantes a personalidades que protagonizaram a batalha de 20 anos contra a coalizão liderada pelos EUA e seus aliados do governo afegão.
O porta-voz do Taleban, Zabihullah Mujahid, ao fazer o anúncio disse que as nomeações eram para um governo interino. Ele não entrou em detalhes sobre por quanto tempo os nomes anunciados serviriam e qual seria o catalisador para uma mudança.
Até agora, o Taleban não deu indicações de que realizará eleições. O anúncio das nomeações para o gabinete veio horas depois de o Taleban disparar para o ar para dispersar manifestantes e prender vários jornalistas. Pela segunda vez em menos de uma semana, o grupo usou táticas violentas para interromper uma manifestação na capital Cabul.
Os manifestantes se reuniram em frente à embaixada do Paquistão para acusar Islamabad de ajudar no
ataque do Taleban à província de Panjshir. O grupo fundamentalista disse na segunda-feira (6) que tomou a província - a última que não está sob seu controle, mas os combatentes que resistem na região negaram.
O governo anterior do Afeganistão costumava acusar o Paquistão de ajudar o Taleban, uma acusação que Islamabad negou. O ex-vice-presidente Amrullah Saleh, um dos líderes das forças anti-Taleban, há muito é um crítico ferrenho do vizinho Paquistão.
Dezenas de mulheres estavam entre os manifestantes nesta terça-feira (7). Algumas delas carregavam cartazes lamentando a morte de seus filhos por combatentes do Taleban que, segundo elas, foram ajudados pelo Paquistão. Um cartaz dizia: "Eu sou uma mãe. Quando você mata meu filho, você mata uma parte de mim".
No sábado, as tropas das forças especiais do Taleban dispararam para o alto em Cabul para encerrar uma marcha de protesto de mulheres afegãs exigindo direitos iguais dos novos governantes. Nesta terça-feira, ocorreu o mesmo: eles dispararam suas armas para o ar e prenderam vários jornalistas que cobriam a manifestação.
Em um caso, um membro da milícia que portava um fuzil Kalashnikov pegou o microfone de um jornalista e começou a espancá-lo com ele, quebrando o equipamento. O jornalista foi posteriormente algemado e detido por várias horas.
"Esta é a terceira vez que sou espancado pelo Taleban cobrindo protestos", disse ele à Associated Press, sob a condição de não ser identificado porque temia retaliação. "Não irei novamente para cobrir uma manifestação, muito difícil para mim."
Um jornalista da popular TV TOLO News do Afeganistão foi detido por três horas pelo Taleban antes de ser libertado com seu equipamento e o vídeo da manifestação ainda intactos. Não houve nenhum comentário imediato do Taleban.