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Internacional

- Publicada em 31 de Janeiro de 2021 às 18:43

Milhares de manifestantes contra Putin enfrentam polícia pela 2ª semana na Rússia

Repressão policial foi bem mais organizada neste domingo (31), igualmente sob as temperaturas congelantes do inverno russo

Repressão policial foi bem mais organizada neste domingo (31), igualmente sob as temperaturas congelantes do inverno russo


Olga MALTSEVA/AFP/JC
Pelo segundo fim de semana seguido, milhares de manifestantes e policiais se enfrentaram em ruas de dezenas de cidades russas. Os protestos contra o governo do presidente Vladimir Putin foram convocados por apoiadores do líder opositor Alexei Navalny, que está preso.
Pelo segundo fim de semana seguido, milhares de manifestantes e policiais se enfrentaram em ruas de dezenas de cidades russas. Os protestos contra o governo do presidente Vladimir Putin foram convocados por apoiadores do líder opositor Alexei Navalny, que está preso.
Segundo a ONG de direitos humanos OVD-Info, ao menos 4.567 pessoas haviam sido presas até as 20h (14h em Brasília) em 80 cidades. No sábado passado (23), a contagem passou dos 4.000 detidos ao fim da jornada de protestos.
A repressão policial foi bem mais organizada neste domingo (31), igualmente sob as temperaturas congelantes do inverno russo. Em Moscou, toda a área central da capital foi fechada para o trânsito pela manhã, incluindo sete das principais estações de metrô. Desde a tarde de sábado (30), segundo moscovitas relataram à Folha, havia policiais espalhados em pontos estratégicos para o fluxo de manifestantes na cidade.
Os manifestantes alteraram sua tática devido à pressão. O ato deveria começar na praça Lubianka, onde fica a famosa sede do FSB, o serviço secreto interno sucessor da temida KGB soviética. Com o local isolado, os ativistas mudaram a marcha pró-Navalny para dois outros pontos da capital russa, obrigando o deslocamento das forças de segurança.
Houve conflito e mais de 500 pessoas foram presas na cidade, entre elas cerca de 15 jornalistas que cobriam os atos - segundo o OVD-Info, foram 82 no país todo. Deputados locais e ativistas pró-direitos humanos também foram detidos.
Os manifestantes protestaram tanto contra a prisão de Navalny como contra o presidente Putin, chamado de ladrão em gritos de guerra de Vladivostok (extremo oriente) a Kaliningrado (encrave ocidental russo na Europa). O caráter nacional do protesto o coloca no mesmo patamar do da semana passada, que havia sido o maior em amplitude desde que Navalny mobilizou milhares de russos contra a corrupção estatal em 2017. Não há uma contagem nacional do número de participantes, que ficou na casa das dezenas de milhares.
Navalny foi detido ao desembarcar em Moscou no dia 17. Ele voltava da Alemanha, onde havia se tratado por envenenamento com o agente neurotóxico Novitchok, desenvolvido na União Soviética.
O ativista, que surgiu no começo da década passada na cena pública, acusa diretamente o Kremlin pela tentativa de assassinato - em um trote, ele conseguiu a confissão de um espião do FSB, que disse ter colocado o veneno em uma cueca azul de Navalni no hotel em que ele estava em Tomsk (Sibéria).
Espirituosos, muitos manifestantes usavam calças azuis no frio de 2 graus Celsius negativos de Moscou, além de empunhar escovas para limpar vasos sanitários - uma referência ao artefato supostamente de R$ 4.600,00 encontrado em um palácio que Navalny diz ser de Putin na costa do mar Negro.
Navalny foi detido por, em coma, ter violado sua liberdade condicional ao sair do país. Em 2014, ele teve uma sentença por fraude comutada, num julgamento que ele diz ser farsesco. Na próxima terça-feira (2), uma audiência decidirá se ele pode voltar para casa ou terá de cumprir três anos e meio de prisão.
Neste domingo, o novo governo norte-americano de Joe Biden voltou a pedir a libertação do ativista. O secretário de Estado, Antony Blinken, criticou as "táticas brutais" de repressão aos atos.
Nas vésperas do protesto, autoridades forçaram a mão sobre membros do Fundo Anticorrupção de Navalny, detendo vários deles. A mulher do ativista, Iulia, voltou a ser presa na manhã deste domingo, sendo solta à noite e indiciada por incitação ilegal de atos.
A base da repressão é o fato de que atos feitos sem permissão das autoridades municipais são um crime na Rússia. Durante a semana, o próprio Putin havia condenado os manifestantes usando essa premissa.
O presidente está numa situação delicada. Se autorizar uso excessivo da força, chamará para si mais condenação na classe média russa e no exterior. Se deixar os atos correrem livremente, arrisca a repetição das jornadas de 2017 e 2012, as maiores em seus 21 anos no poder.
O exemplo da vizinha Bielorrússia, que enfrenta seis meses de crise devido a protestos contra o ditador e aliado de Putin, Aleksandr Lukachenko, é um fantasma que ronda o Kremlin. Analistas russos creem, contudo, que Putin adotará um meio-termo, contando com o esvaziamento progressivo dos atos.
Pode funcionar, mas a eleição parlamentar de setembro dá um horizonte para os ativistas, que prometem apoiar quaisquer candidatos que não sejam do Rússia Unida, o partido de sustentação do presidente.
Com isso, talvez as chances de Navalny ficar na cadeia sejam maiores, o que demonstra um temor das autoridades contra o ativista. O opositor nunca foi popular: pesquisa do independente Centro Levada deu a ele 4% de apoio entre os russos, e apenas 2% de intenção de voto se pudesse concorrer à presidência.
Mas Navalny parece ter acertado no momento: associou sua causa ao fastio generalizado da população com o governo de Putin, que no ano passado mexeu na Constituição de forma a permitir tentar ficar no poder até 2036. Como sempre, a mudança foi envernizada pelo voto (76% dos russos a aprovaram), mas a visão geral é de que isso reflete a sensação de ausência de alternativas para o cidadão comum - além da popularidade de Putin, que está no menor nível de sua carreira, mas ainda no respeitável patamar de 60% de aprovação.
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