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Cybershot

- Publicada em 25 de Janeiro de 2023 às 14:55

Jovens desenterram a Cybershot e sentem um gostinho da era do Orkut

É pelo nome da câmera digital que a Sony comercializou nos anos 2000 que os jovens atualmente se referem a qualquer dispositivo do tipo

É pelo nome da câmera digital que a Sony comercializou nos anos 2000 que os jovens atualmente se referem a qualquer dispositivo do tipo


Rubens Cavallari/Folhapress/JC
Agência Estado
A volta do emo, das calças de cintura baixa e de Paris Hilton atestam que a cultura e a estética dos anos 2000 passam por um momento de redescoberta pela Geração Z (os nascidos no "novo milênio") - a cantora Olívia Rodrigo, por exemplo, inspira muitos jovens a embarcar na onda. Agora, mais um item do período em que o Orkut era rei começa a fazer sucesso entre essas pessoas: a Cybershot.
A volta do emo, das calças de cintura baixa e de Paris Hilton atestam que a cultura e a estética dos anos 2000 passam por um momento de redescoberta pela Geração Z (os nascidos no "novo milênio") - a cantora Olívia Rodrigo, por exemplo, inspira muitos jovens a embarcar na onda. Agora, mais um item do período em que o Orkut era rei começa a fazer sucesso entre essas pessoas: a Cybershot.
É pelo nome da câmera digital que a Sony comercializou nos anos 2000 que os jovens atualmente se referem a qualquer dispositivo do tipo - mesmo que sejam de outras marcas, como Canon, Kodak, e Panasonic.
Segundo dados do Google Trends, ferramenta que mede o interesse por assuntos pesquisados no buscador, a procura pelo assunto começou a ganhar força em outubro do ano passado, quando o termo "powershot", correspondente a um modelo da marca Canon, teve um pico. Em novembro, houve um novo pico, desta vez para a busca por "câmera digital". Neste mês de janeiro, foi a vez do termo "cybershot" disparar em interesse. Do mundo digital para o mundo real, foi um pulo para que as câmeras digitais voltassem a circular.
"Fui em festas em que as pessoas estavam utilizando essas máquinas e achei muito legal. Achei interessante a forma como as fotos ficam, com um ar vintage. Mas a aparência é de anos 2010 e não anos 1990. Foi quando eu quis muito ter uma câmera para mim", conta Lucas Manoel, 24.
Apaixonado por fotografia, o psicólogo percebe a volta das câmeras digitais como uma oportunidade de produzir "novos" conteúdos. Com a sua primeira Cybershot em mãos, ele sente que tem uma máquina do tempo para um passado que quase não viveu - algo que Neymar já filosofou na célebre frase "saudade daquilo que não vivemos".
Para quem está experimentando as câmeras digitais pela primeira vez, a novidade ganha ares de descoberta arqueológica. "A câmera digital traz uma sensação de usar algo antigo que ainda funciona e não é parte de um celular. Tem um charme próprio e é mais interessante do que fazer algo que já estamos acostumados. E ela tem a sua própria bateria, então não vai gastar a bateria do celular", diz Luiza Dill Silveira, 21 anos.
Segredo
De fato, o regresso das câmeras digitais tem um objetivo completamente diferente de quando surgiram, por volta da metade dos anos 90. Na época, o aparelho revolucionou a fotografia amadora, dominada por câmeras com rolos de filme limitados - as famosas poses. Com a máquina digital, foi possível tirar fotos, visualizar, apagar os cliques indesejados e seguir fotografando.
Agora, parece existir a busca por um tipo de estética nas imagens. Apps para smartphones Huji Cam, Dazz Cam e VSCO tentam simular os efeitos e limitações desses equipamentos, mas não são suficientes - afinal, as câmeras dos smartphones atualmente miram sempre qualidade, nitidez e detalhamento. "A gente percebe (nas redes sociais) quem utilizou filtro e quem tirou com a câmera. Então, para mim, para entrar na essência do negócio, a câmera funcionou", diz Manoel.
No fim, a busca não é por aquilo que a Cybershot oferece, mas por aquilo que não oferece. Eduardo Pellanda, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) explica que um dos aspectos que mais contribui para a estética vintage das fotos não são as lentes, mas, sim,a falta de software.
"O software dos smartphones tem conseguido juntar processadores cada vez mais rápidos com a inteligência de entender a imagem - se é uma pessoa ou uma paisagem, por exemplo. É possível tirar muitas fotos quase simultâneas com exposições diferentes e juntar essas imagens em várias composições. Hoje, a mágica está muito mais software no hardware. É o que diferenciou as câmeras convencionais das câmeras de celulares", explica Pellanda ao jornal O Estado de S. Paulo.
Trend no TikTok
Na nova leva de fotos digitais, é impossível também desvincular o uso das câmeras das redes sociais. A tendência não apenas surgiu em plataformas como Twitter e TikTok, mas também se alimenta delas para ganhar curtidas e engajamento: a hashtag "digitalcamera", na plataforma de vídeos curtos, já atraiu mais de 211 milhões de visualizações. Por aqui, a versão "cameradigital" ultrapassou os 3,9 milhões de views.
Artur Bier, 17, conta que os cliques feitos por ele fazem sucesso nas redes - a "Cybershot" foi comprada no final do ano passado. "Os amigos com quem saio gostaram bastante quando apareci com ela, inclusive conheço mais três que possuem modelos semelhantes", diz.
Da mesma forma, Manoel também compartilhou algumas imagens feitas com a câmera no TikTok e ficou surpreso quando percebeu a interação na rede. Um dos vídeos, que mostra o modelo de máquina que ganhou da tia no ano passado, já ultrapassou 20,5 mil curtidas e 131 mil visualizações.
"Meu vídeo no Tiktok virou um comércio de máquina digital, porque a galera nos comentários ficou perguntando: 'Alguém vende?', 'Como que eu uso?'", diz o psicólogo.
Vendas crescem
Enquanto as redes começam a ser inundadas com fotografias "vintage", canais de vendas desses aparelhos usados comemoram o aumento na procura por esses dispositivos. Uma dessas lojas, a Annalogica, tem um perfil no Instagram especializado em máquinas fotográficas antigas - desde polaroides às famosas Cybershot - e diz que as vendas cresceram cerca de 80% desde o ano passado.
"Antes a procura era zero, as pessoas tinham até um certo preconceito com a câmera digital. Achavam cafona", explica Giovanna. "Depois do meio do ano passado, a venda aumentou muito. Quem gosta do efeito e da granulação da analógica não troca, mas as pessoas procuram as digitais por serem mais "fáceis", não precisarem nem de filme e nem de revelação, com a vantagem de um efeito retrô similar".
A lojinha fundada em 2020, gerida por Anna Avino e Giovanna Avino, fica em Praia Grande, São Paulo, mas é na rede social que faz a maior parte dos negócios - o nome, inclusive, surgiu dos apelidos das duas esposas (Anna e Gica). Agora, as câmeras digitais amadoras já representam metade das vendas mensais da dupla.
A OLX e o Mercado Livre, plataformas de marketplace, são dois dos canais preferidos por quem procura um aparelhos do tipo. Nos sites, anúncios de câmeras abrangem modelos que vão de R$ 50 a R$ 400, em diversos estados de conservação - mas sempre modelos comercializados por volta dos anos 2010.
Ao jornal O Estado de S. Paulo, a Shopee afirma que registrou aumento de 165% nas buscas por câmeras digitais no período de outubro de 2022 a janeiro de 2023.
Para quem é um pouco mais velho, a preciosidade pode estar apenas esquecida em uma gaveta. Clarisse Reis, 34, resgatou a câmera comprada em 2009 depois que viu no Twitter e no TikTok que a máquina estava na moda outra vez. "É legal manusear a câmera e repetir o processo das antigas. Quero passar como tirávamos fotos antes. Atualmente é mais sobre o uso em si do que propriamente a qualidade", diz.
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