Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Saúde

- Publicada em 26 de Novembro de 2022 às 09:06

Ausência de coordenação na vacinação contra a Covid-19 aumenta desigualdade no Brasil

A meta de 90% da população vacinada foi atingida apenas por São Paulo

A meta de 90% da população vacinada foi atingida apenas por São Paulo


LUIZA PRADO/JC
Folhapress
A falta de uma coordenação nacional no Plano Nacional de Operacionalização (PNO) da vacina contra a Covid-19 ressaltou a desigualdade entre as regiões mais ricas e pobres do Brasil. De acordo com os dados de cobertura vacinal no Brasil, a taxa de 90% estabelecida como meta pelo Ministério da Saúde só foi atingida pelo estado de São Paulo (91%). Já na região Sul, apenas 30% dos municípios apresentavam mais de 80% da população com esquema de vacinação completo.
A falta de uma coordenação nacional no Plano Nacional de Operacionalização (PNO) da vacina contra a Covid-19 ressaltou a desigualdade entre as regiões mais ricas e pobres do Brasil. De acordo com os dados de cobertura vacinal no Brasil, a taxa de 90% estabelecida como meta pelo Ministério da Saúde só foi atingida pelo estado de São Paulo (91%). Já na região Sul, apenas 30% dos municípios apresentavam mais de 80% da população com esquema de vacinação completo.
Outros estados, como Roraima (57,5%), Amapá (59,5%), Pará (64,2%) e Maranhão (64,9%) ficaram abaixo do que é preconizado também pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de pelo menos 70% de cobertura.
Segundo o novo relatório da Oxfam Brasil, esses estados também apresentam o índice de desenvolvimento humano (IDH) abaixo ou próximo de 0,7. Um IDH acima de 0,8 significa melhores taxas de expectativa de vida ao nascer e escolaridade, enquanto um valor menor que 0,5 é considerado inferior. A faixa de 0,5 a 0,7 é considerada IDH médio, segundo o IBGE.
Os dados de cobertura vacinal consideram apenas o esquema primário de imunização com duas doses ou dose única, sem contar as doses de reforço. O relatório intitulado "Desigualdade no acesso a vacinas contra a Covid-19 no Brasil" foi divulgado nesta semana em cerimônia no Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva da Abrasco, que ocorreu entre os dias 21 e 24 de novembro em Salvador.
Entre os municípios, apenas 16% atingiram mais de 80% de cobertura, com os piores desempenhos registrados em cidades com baixo IDH.a região Sudeste, 27,2% dos municípios apresentavam mais de 80% da população com esquema de vacinação completo, no Centro-Oeste 11,8%, no Nordeste 2,7% e na região Norte apenas 1,1%.
O Brasil é o segundo País das Américas em número de casos e óbito de Covid, mas ocupa o 15º lugar em cobertura vacinal, segundo o relatório. O País registra quase 700 mil mortes pela doença, e a maioria delas (424 mil) ocorreu quando os imunizantes já estavam disponíveis, em 2021. No ano anterior, morreram cerca de 195 mil pessoas.
De acordo com a Oxfam Brasil, a atuação negligente e desordenada do governo federal, a ausência de campanhas públicas informativas, a gestão inadequada e a falta de estratégia nacional entre a União e os estados são os principais fatores que impediram o País de atingir a meta vacinal de 90%.
"A ausência de uma coordenação do governo federal, deixou cada um por si, fazendo com que os resultados da cobertura vacinal ficassem bastante desiguais", diz o coordenador da área de justiça social e econômica da Oxfam Brasil, Jefferson Nascimento.Para ele, o atual debate sobre a distribuição das vacinas bivalentes, cujo uso foi aprovado pela Anvisa nesta semana como dose de reforço na população acima de 12 anos, enfrenta o mesmo dilema.
"A gente já teve esse contexto de demora na negociação e aquisição da vacina lá atrás, depois viveu a demora para a distribuição das vacinas para as crianças e agora mais demora para aprovação e aquisição das vacinas bivalentes para responder a esse contexto da ômicron e suas variantes."
O relatório, além das desigualdades regionais na distribuição das vacinas, indica possíveis disparidades por raça e cor da pele no acesso a elas, mas devido às lacunas dessas informações no banco de dados da Saúde não foi possível mensurá-las, diz Nascimento."Em alguns estados, chegamos a quase 40% dos registros sem a informação de raça e cor".
As mesmas desigualdades afetaram as populações indígenas e tradicionais. Na região Norte do Brasil, onde há maior concentração de povos indígenas, apenas 1 em cada 100 municípios (1,1%) atingiu a meta de vacinação acima de 80%.
Há disparidades também em relação ao gênero. Em todos os estados brasileiros, as mulheres foram mais vacinadas do que os homens. No Maranhão, por exemplo, a cobertura entre as mulheres ficou em 68%, enquanto entre os homens, em 61%.
"O negacionismo tem uma penetração maior entre os homens. Tradicionalmente, é a mulher que tem essa preocupação com a saúde da família, que leva as crianças para a vacinação."
Um outro fator que pode explicar a desigualdade de gênero é a maior representatividade de mulheres como profissionais de saúde, especialmente na linha de frente, incluídos nos grupos prioritários de imunização.
O relatório conclui, porém, que novas medidas ainda podem ser consideradas para reduzir as desigualdades no próximo ano de campanha, incluindo a adoção de uma estratégia nacional com a participação de especialistas e representantes da sociedade para elaboração do Plano Nacional de Imunização (PNI), a retomada da liderança da pasta de Saúde em campanhas de vacinação e a implementação de iniciativas de fomento à pesquisa voltada à saúde coletiva, incluindo a política nacional de saúde integral da população negra.
A Oxfam é uma organização não governamental que atua em mais de 90 países, incluindo o Brasil, com o intuito de reduzir as desigualdades, a pobreza e a injustiça.
Folhapress
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO