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Educação

- Publicada em 02 de Outubro de 2022 às 10:12

Educação Básica no Brasil pode enfrentar um déficit de 235 mil professores até 2040

Em média, Brasil tem um professor para cada 20,3 alunos de 3 a 17 anos

Em média, Brasil tem um professor para cada 20,3 alunos de 3 a 17 anos


FREDERICK FLORIN/AFP/JC
O Brasil não tem conseguido atrair os jovens para a profissão docente e, se mantido o ritmo atual de formados em cursos de licenciatura, a Educação Básica do País pode enfrentar um déficit de 235 mil professores até 2040.
O Brasil não tem conseguido atrair os jovens para a profissão docente e, se mantido o ritmo atual de formados em cursos de licenciatura, a Educação Básica do País pode enfrentar um déficit de 235 mil professores até 2040.
Ao observar as taxas de concluintes em licenciatura e as aposentadorias nos próximos anos, até 2040 serão necessários 1,97 milhão de professores para continuar atendendo a demanda de alunos na mesma proporção de hoje - já considerando a queda de natalidade.
"Consideramos que esse ainda é um cálculo conservador sobre a falta de professores que o Brasil deve enfrentar nos próximos anos se nada for feito para valorizar a carreira. Hoje, o País tem políticas para a educação básica que vão aumentar ainda mais a demanda por esses profissionais", disse o diretor executivo do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp), Rodrigo Capelato.
A estimativa é de um estudo feito pelo Semesp, com dados dos Censos do Ensino Superior e da Educação Básica coletados pelo Ministério da Educação (MEC). O resultado foi apresentado nesta semana no Fórum Nacional de Ensino Superior, com a presença do ministro da Educação, Victor Godoy.
"A educação brasileira é um grande sistema complexo. A responsabilidade não é exclusivamente do MEC ou das instituições de ensino ou das escolas públicas. É responsabilidade de toda a sociedade brasileira", disse.
O estudo, intitulado "Risco de apagão de professores no Brasil", identificou que, apesar do aumento de ingressantes nos cursos de licenciatura nos últimos dez anos, o número de concluintes não segue o mesmo ritmo. O perfil das graduações mais procuradas na área e também dos alunos indica que o aumento de calouros é puxado por pessoas que já atuam em sala de aula.
De 2010 a 2020, o País registrou um aumento de 61,15% de ingressantes em cursos de licenciatura - o crescimento só ocorreu pela maior procura por graduações a distância, já que os da modalidade presencial perderam alunos. Em 2010, o Brasil tinha 298.390 ingressantes em cursos presenciais de formação de professores. Em 2020, o número caiu para 186.156. No mesmo período, o número de ingressantes em cursos a distância triplicou no País, passando de 154.137 para 509.631.
A cada dez estudantes que entram em graduações para a formação de professores, sete vão para a modalidade a distância. O aumento nessa modalidade, em geral, não significa a futura ida de novos professores para a educação básica. "Quem está indo para os cursos de formação de professores, não são os novos professores. São aqueles mesmos que já estão na escola. O país não consegue atrair gente nova para a docência", disse a presidente do Semesp, Lúcia Teixeira. Esse percentual de concluintes chega a 58,3% nos cursos de licenciatura.
Essa constatação fica mais evidente ao observar os cursos que tiveram maior crescimento de concluintes, que em geral são os que servem como uma complementação da formação inicial. Entre 2016 e 2020, a graduação em educação especial, por exemplo, registrou aumento de 1.583%, e o de formação pedagógica para professor da educação básica, de 63,6%.
As graduações que formam professores para dar aula de disciplinas específicas tiveram queda de formados nesse período. Por exemplo, licenciatura em Biologia perdeu 21,3% de concluintes, Química, 12,8%, e Letras, 10,1%.
Já o número de formandos no mesmo período de dez anos, entre 2010 e 2020, cresceu apenas 4%. Os dados se refletem na estabilidade do total de professores que atuam nas escolas de educação básica do País. Em 2021, o Brasil tinha cerca de 2,1 milhões de docentes, patamar que se mantém estável desde 2014. Em média, o País tem um professor para cada 20,3 alunos de 3 a 17 anos.
Outro aspecto destacado pelo estudo é a queda de professores com menos de 29 anos atuando nas salas de aula do País. De 2016 a 2021, o número de docentes dessa faixa etária caiu 27,2% - passando de 341.660 profissionais para 248.745. Já o de professores com mais de 55 anos cresceu 44% no período, subindo de 182.502 para 263.425.
Ainda que os dados analisados evidenciam uma estabilidade no total de professores, diversas redes públicas de ensino do País têm enfrentado dificuldade para completar o quadro docente. A rede estadual de São Paulo, por exemplo, não conseguiu contratar professor em número suficiente para implementar o novo ensino médio.
O Brasil tem em andamento políticas como a ampliação de escolas em tempo integral e o novo ensino médio, que aumenta a carga horária de aulas dos alunos. Para que sejam implementadas, ambas políticas demandam mais professores. A baixa atratividade da profissão é reflexo da desvalorização da carreira e da área de educação, percepção que é compartilhada inclusive pelos próprios estudantes. Um relatório da OCDE, entidade que reúne países ricos, de 2018 indicou que o Brasil era a nação com a menor proporção de jovens de 15 anos que pensavam em seguir a profissão: apenas 2,4%.
O estudo do Semesp, que representa instituições privadas de ensino superior, indica que os motivos da desvalorização vão desde os baixos salários até às más condições de trabalho. Segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), em 2020, um professor de ensino médio no Brasil ganhava, em média, um salário de R$ 5,4 mil - quase 20% a menos do que a remuneração de outros profissionais com ensino superior completa. Já em em 2021, 3,8% das escolas públicas brasileiras funcionavam sem ter banheiro e 2,6% sem nem sequer ter abastecimento de água.
Folhapress
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