Há quem aproveite a Expointer, tradicional evento que está em sua 45ª edição, para apresentar e discutir alternativas para os negócios que surgem no campo. Do legado familiar ao uso da tecnologia, conhecemos iniciativas que enxergam na inovação o futuro do agronegócio

Jovens produtores apostam no uso da tecnologia no agronegócio


Há quem aproveite a Expointer, tradicional evento que está em sua 45ª edição, para apresentar e discutir alternativas para os negócios que surgem no campo. Do legado familiar ao uso da tecnologia, conhecemos iniciativas que enxergam na inovação o futuro do agronegócio

Escrito por: Adrielly Araújo, Duda Guerra, Giovanna Sommariva e Isadora Jacoby
Escrito por: Adrielly Araújo, Duda Guerra, Giovanna Sommariva e Isadora Jacoby
Assim como diversos empreendedores, o sonho de Suzana Garcia de Garcia, 34 anos, é deixar a sua marca no mundo. Quarta geração à frente do negócio da família, ela comanda, ao lado do irmão Teófilo Garcia de Garcia, 35 anos, uma fazenda de cerca de 1 mil hectares na Barra do Ribeiro, onde trabalha com lavoura e pecuária. Há quatro anos gerenciando o espaço, Suzana acredita que o papel da juventude no agronegócio é quebrar a barreira entre campo e cidade.
Apesar de ter nascido no meio rural, a produtora morou durante bastante tempo na Capital, chegou a cursar Direito e trabalhou na área, mas foi há quatro anos, quando começou a sucessão do negócio da família, que decidiu voltar para o campo e dar continuidade ao legado. "Segui minha vida na cidade, fiquei bem urbana, por assim dizer. Até que meu irmão, que sempre trabalhou no meio, perguntou se eu queria voltar para escrevermos a nossa história. Topei e hoje estamos aqui, trabalhando com produção de soja e arroz e também na pecuária com bovinos e ovinos", explica.
Por ter passado um período distante, Suzana afirma ter sentido um 'choque' ao voltar para o campo. "Era outro mundo, diferente do que eu estava vivendo. Tive a sorte de ter sido convidada para participar da Farsul, da comissão jovem. Foi muito bom para mim, além de ter o meu irmão que me auxiliava quando necessário, ter o apoio de outros jovens, que estão vivendo o mesmo que eu. Essa troca de experiências é essencial", acredita. Hoje, a produtora faz parte da diretoria da Comissão Jovem da Federação da Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Sul (Farsul), e convida todos os jovens produtores a fazerem o mesmo. "É a minha maior sugestão para quem está iniciando. Esses encontros ajudam muito a te fortalecer e desenvolver o lado profissional", garante.
Ter a oportunidade de trabalhar em outro ramo, segundo Suzana, é uma das grandes diferenças da sua geração para as anteriores. "Meus pais, por exemplo, não tinham muita opção. Se tu nascias no agro, ia trabalhar no agro, era assim. Já a minha geração foi completamente diferente. Nossos pais falaram 'façam o que vocês quiserem', então, quase todo mundo que conheço, a maioria dos jovens que atuam no agro, tiveram a oportunidade de trabalhar com o que queriam, mas todo mundo sempre acaba voltando", relata. "Está no sangue e não adianta, desde pequeno tu crias um amor muito grande por esse mundo, e tu sabes que, se não continuar, não perpetuar aquele negócio, em algum momento ele não vai mais estar lá", reflete.
Como consequência, a produtora acredita que a sua geração possui um olhar muito mais 'além da porteira', diferente das anteriores.
"Eles focavam em ficar dentro da fazenda, no trabalho dentro da porteira, e nós, apesar de amarmos estar lá dentro, já enxergamos essa necessidade de ir além, se conectar com outras pessoas e quebrar essa barreira entre campo e cidade", pontua, reforçando que, apesar de parecerem mundos completamente diferentes, o campo e a cidade trabalham juntos. "Espero que, no futuro, a gente consiga quebrar essa barreira entre os dois mundos, que na verdade é um só, e mostrar o quanto estamos empenhados e lutando por todas as esferas da sustentabilidade, seja econômica, ambiental, tecnológica, social", expõe.
Para Suzana, outro grande aprendizado da sua geração é o uso da tecnologia no campo. "Moro em Porto Alegre e vou para a fazenda uns três dias por semana, porque hoje existe essa possibilidade de realizar uma grande parte do trabalho à distância, mas estar lá segue sendo fundamental, não dá para perder esse contato presencial", destaca.
Estar à frente de um negócio, para a produtora, já é um desafio, mas ela não deixa que seu gênero ou idade interfiram no trabalho. "Não gosto de separar entre ser mulher ou homem, nós estamos todos ali juntos. Na época da minha avó, por exemplo, ela tinha suas terras, mas quem cuidava era o meu avô. Hoje em dia, isso não existe mais, não importa se tu és homem ou mulher, tu vais fazer o teu trabalho. E ser jovem, em qualquer profissão, sempre vai ser uma questão. O que eu faço é me empenhar no trabalho para mostrar que sou uma pessoa séria e profissional, e poder ir conquistando o meu espaço", afirma.
 

Startup desenvolve matéria-prima para substituir ovo de galinha

Os condimentos são veganos e podem ser encontrados em mercados voltados para produtos saudáveis e na internet

Para criar uma alternativa ao ovo de galinha, a Faba, foodtech incubada no Tecnosinos, surgiu, em 2020, com uma fibra à base de grão de bico, a H2faba. A partir da matéria-prima, a startup desenvolveu produtos para entrar no varejo e financiar as pesquisas sobre o insumo. Entre os itens, estão a maionese, disponível em três sabores, um creme de grão de bico e cacau, que se aproxima do sabor do tradicional creme de avelã, e o catchup crocante, que usa o grão de bico como base para a textura.
Rodrigo Kayser Schwetner, um dos sócios da startup, enxerga no insumo a possibilidade de aumentar a produtividade da indústria usando o grão de bico, que já é comumente utilizado em receitas veganas artesanais. "Nós lançamos, no final de 2020, a H2faba, que é um ingrediente que, no veganismo, é chamada de aquafaba (espuma feita a partir do cozimento de leguminosas como feijão e grão de bico). Nós criamos a versão industrial, permitindo que a indústria de alimentos replique as suas produções", pontua o empreendedor.
O negócio, que surgiu pouco antes da pandemia, buscou no varejo uma maneira de atingir mais consumidores. Por isso, lançou o seu primeiro produto, a MayOh, creme vegetal que se assemelha à maionese. O item, que é vendido em mercados de produtos naturais e pela Amazon, possui três sabores: a tradicional, a com ervas e a com pimenta. "Decidimos fazer produtos para o varejo que mostrem que o nosso ingrediente funciona. São produtos que têm aroma, têm textura, sabor e a tecnologia deu conta de fazer eles serem inclusivos. São produtos feitos 100% de plantas e sem um aditivo artificial, é a única do Brasil por enquanto", garante Rodrigo.
Para aumentar a cartela de produtos da marca, surgiu o Hommie, um catchup crocante também feito à base de grão de bico, além de outros ingredientes, como pimentão e canela. "Os produtos financiam a nossa pesquisa. A Hommie é o primeiro catchup crocante do Brasil. Se é para complementar a linha no padrão Faba, precisava ter uma pegada diferente e esse produto é único no País", pontua Rodrigo, destacando a inovação como aliada para criar alternativas na hora de usar insumos da agroindústria. "Nós acreditamos que a tecnologia tem que dar conta de fazer os produtos serem saborosos, bonitos, inclusivos e limpos. Um catchup de mercado tem, em média, 23% de açúcar. Aqui é 6%. Todos são clean label", ressalta sobre os itens, que partem de R$ 19,90. "Tudo isso é para mostrar para indústria que nossos ingredientes funcionam", afirma.
 

Software auxilia trabalhadores do campo na gestão financeira e tributária

Com ferramentas e simuladores de opções tributárias, o software atua na prática para desmistificar temas como imposto de renda, ficha de Atividade Rural do IRPF e emissão de Notas Fiscais Eletrônicas

Muitas vezes, o produtor que obtém um bom resultado no campo, não consegue realizar com expertise a gestão financeira e tributária. É para ajudar nesse aspecto que a Agro nasceu, startup que desenvolveu um software que visa ajudar na gestão do agro.
Presente na Expointer, Helmuth Grossman, CEO da empresa, explica que um produtor, especialista em sua área, não deve ser obrigado a ser, também, um especialista fiscal. "Queremos ajudar o empreendedor para que o bom resultado na lavoura ou na pecuária não se perca no manejo financeiro inadequado", afirma. Com ferramentas e simuladores de opções tributárias, o software atua na prática para desmistificar temas como imposto de renda, ficha de Atividade Rural do IRPF, emissão de Notas Fiscais Eletrônicas. O objetivo é proporcionar independência para os trabalhadores rurais, além de entender, por meio dos simuladores, a melhor opção para cada negócio.
O software opera, efetivamente, há dois anos e virou uma startup no começo de 2022. "Tem um período para treinar o trabalhador rural, além de um suporte contínuo para quem contrata o serviço. Essa área tributária é complexa, sempre vai aparecer uma situação que o produtor não viveu ainda", explica Helmuth.
Com clientes no Mato Grosso e no Rio Grande do Sul, o empresário explica que as diferentes realidades dos estados ajudam a abranger no programa diferentes necessidades, aperfeiçoando o sistema. "Um software é algo que nunca vai estar finalizado, é um processo de construção", diz.
O serviço pode ser contratado pelo site da empresa (www.agromais.com.br). O valor da mensalidade varia de acordo com a demanda e necessidade de cada negócio. "Para um produtor médio, fica em torno de R$ 550,00 e R$ 600,00 a mensalidade", afirma o empreendedor.
 

John Deere desenvolve óculos tecnológico para ajudar na manutenção de máquinas agrícolas

O objeto é capaz de identificar erros e problemas nos equipamentos de forma instantânea

A tecnologia sempre foi aliada do agronegócio, e a Jonh Deere, empresa estadunidense que atua no Brasil desde 1979, compreendeu a importância de usar a Inteligência Artificial (IA), para atender demandas do médio e grande produtor agrícola no cuidado com as máquinas responsáveis pela colheita.
Jesus Duquia, especialista de produto e aplicação da Verdes Vales, concessionária da John Deere, é quem conta sobre como a empresa aplica as novidades tecnológicas nos seus produtos. Segundo ele, o mercado do agronegócio já passou por algumas evoluções em termos de inovação, e, atualmente, está se encaminhando para o próximo passo. "A John Deere está pensando em evoluir cada vez mais, não pensar só na questão de produto. O que estamos tentando fazer hoje, é agregar valor para os clientes que já tem os nossos produtos", comenta. O instrutor explica que a empresa fornece para o produtor agrícola, dados específicos dos seus equipamentos, coletados pelas próprias máquinas, com a ajuda da IA.
Os instrumentos da empresa possuem sensores de temperatura, movimento, velocidade e pressão, o que, segundo Jesus, ajuda o agricultor e a equipe técnica da John Deere a entender como os aparelhos estão funcionando, deixando o monitoramento ainda mais fácil. "Através de uma tecnologia, o JDlink, conseguimos coletar essas informações e trazer para o nosso centro de soluções conectadas, um departamento que temos com pessoas dedicadas a dar esse tipo de suporte", explica.
Pensando em facilitar ainda mais o trabalho do produtor agrícola e dos técnicos da empresa, a organização desenvolveu um óculos com Inteligência Artificial, que identifica automaticamente quais os problemas que as máquinas podem ter. A ideia, é que o cliente entre em contato com os serviços de suporte dá John Deere, coloque o equipamento e se posicione na frente do aparelho que deseja verificar. Ainda em ligação com os técnicos, os óculos vão coletar todos os dados necessários para entender se aquela máquina possui algum erro. Se tiver, os profissionais podem explicar para o produtor como resolver, tudo isso de maneira instantânea e com as mãos livres para fazer os ajustes.
Caso o problema da máquina seja algo que o cliente não consiga resolver sozinho, ele pode solicitar um técnico especializado, que vai se deslocar até a propriedade do agricultor já sabendo o que fazer com o instrumento de trabalho, facilitando a inspeção e agilizando o processo.
A tecnologia ainda está em fase de testes e sendo utilizada apenas pelos funcionários da empresa, que verificam se está tudo certo com as grandes máquinas por meio do óculos, mas a intenção é que, futuramente, esse produto seja oferecido para os clientes da John Deere. Como o equipamento é novo e está em uso apenas dos técnicos, ainda não existe um consenso sobre preços, mas, segundo Jesus, é possível que seja vendido com um plano atrelado aos custos da manutenção.