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reportagem cultural

- Publicada em 07 de Maio de 2020 às 19:36

Ícone do samba-rock, gaúcho Bedeu é pouco conhecido pelo grande público

Músico porto-alegrense Jorge Moacir da Silva, o Bedeu, foi um dos grandes nomes do samba-rock do País

Músico porto-alegrense Jorge Moacir da Silva, o Bedeu, foi um dos grandes nomes do samba-rock do País


ACERVO PESSOAL ALEX MARX/DIVULGAÇÃO/JC
Se o rock gaúcho ganhou projeção nacional com nomes como Engenheiros do Hawaii e o samba foi eternizado por Lupicínio Rodrigues, o porto-alegrense Bedeu deu sua contribuição nacional ao estilo que uniu os dois gêneros. O músico é um dos expoentes do samba-rock nas décadas de 1970 e 1980 no País.
Se o rock gaúcho ganhou projeção nacional com nomes como Engenheiros do Hawaii e o samba foi eternizado por Lupicínio Rodrigues, o porto-alegrense Bedeu deu sua contribuição nacional ao estilo que uniu os dois gêneros. O músico é um dos expoentes do samba-rock nas décadas de 1970 e 1980 no País.
Ainda que o samba-rock tenha perdido força no mainstream nos últimos anos, o legado de Bedeu, que morreu em 1999, segue influenciando músicos da nova geração, e seus discos estão entre os mais procurados nas lojas especializadas por quem curte o gênero. Coautor de hits da música popular brasileira, como Grama verde, Menina Carolina e Kid Brilhantina, Bedeu compôs para músicos como Bebeto, Jair Rodrigues e Wilson Simonal, além de ter formado um dos grupos marcantes da música black dos anos 1970 no País: o Pau Brasil.
"É muito importante essa mistura que o Bedeu e os gaúchos fizeram, uma mistura de samba com o que tinha de mais moderno no pop mundial no momento. Eles acabaram influenciando o samba-rock em termos de composição e de sonoridade", destaca o paulista Marco Mattoli, fundador do Clube do Balanço, um dos principais grupos brasileiros de samba-rock da atualidade.
A vivência de Bedeu com o Carnaval, do qual sempre foi brincante, e com o rock que descobriu quando jovem, moldou sua musicalidade. Autodidata, aprendeu a tocar pandeiro, bateria e violão muito cedo, e aplicou seu talento para a contribuição do novo estilo de música que se intensificou simultaneamente em três cidades do País: São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre.
Segundo Mateus Mapa, doutor em Música pela Unicamp e autor do livro Suingue, samba-rock e sambalanço: músicos, desafios e cenários, muitos grupos do Rio Grande do Sul seguiram as inovações do Pau Brasil, que deram organicidade à mistura entre samba e rock'n'roll. "Eu vejo o Bedeu como um Chico Science dessa região aqui, um cara que tinha um pensamento à frente e agregador acima de tudo. Um músico sensível, extremamente criativo e que propôs uma transformação estética", diz.
No entanto, foi em São Paulo que Bedeu fez carreira, principalmente com o grupo Pau Brasil, formado exclusivamente por músicos negros do Rio Grande do Sul. "O Bedeu era um líder nato, ele direcionava a banda, fazia os caminhos. Aprendi muito com ele, principalmente no quesito compor. Acho ele um cara genial", defende Alexandre Rodrigues, remanescente do Pau Brasil.
O produtor musical e DJ Piá explica que o grupo gaúcho formou, com Os Originais do Samba e o Trio Mocotó, um tripé da música black da época. "Nos anos 1970, eles já estavam misturando muitas coisas, fazendo o que viria a ser a música negra brasileira e a música pop em geral." Para o produtor, a obra de Bedeu precisa ser redescoberta pelo grande público. "De maneira geral, aqui, no Rio Grande do Sul, as pessoas ainda não reconheceram o valor da banda Pau Brasil. Tem muita coisa ainda para se conhecer deles", opina.

A turma do balanço

Bedeu formou o Pau Brasil, um dos grupos marcantes da música black dos anos 1970

Bedeu formou o Pau Brasil, um dos grupos marcantes da música black dos anos 1970


ACERVO PESSOAL ALEX MARX/DIVULGAÇÃO/JC
Jorge Moacir da Silva sempre foi do Carnaval. Nascido em 4 de dezembro de 1946 e criado pela mãe e pela tia na Azenha (antiga Ilhota, reduto do samba na Capital), aos seis anos, ele já tocava pandeiro, época em que ganhou o apelido "Bedeu do Carnaval". Na adolescência, aos 12, se interessou pela bateria, impulsionado pela jovem guarda, que começava a virar moda no Brasil.
O samba e o rock formaram as bases musicais de Bedeu, ainda que ele não soubesse, quando jovem, que iria unir os dois gêneros de uma maneira tão autoral. Ainda assim, a carreira de músico profissional já estava no seu destino e começou a ser concretizada em meados dos anos 1960, quando montou a banda Os Rockings, conta a amiga e poetisa Delma Gonçalves. Na época, ele trabalhava como datilógrafo na Secretaria Municipal de Educação.
Os bailes com a banda de rock não o impediram de continuar amando o Carnaval, e Bedeu passou a frequentar a Escola de Samba Garotos da Orgia (mais tarde renomeada para Acadêmicos da Orgia), no bairro Santana. Foi lá que conheceu músicos que seriam seus parceiros profissionais por boa parte de sua vida, como Alexandre Rodrigues, Leleco Telles, Cy Gonçalves e Delma, sua irmã.
Essa mistura de referências começou a gerar uma nova sonoridade, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, com nomes como Jackson do Pandeiro, Jorge Ben Jor, Djalma de Andrade e Os Originais do Samba, dando início a um novo subgênero da MPB que só mais tarde seria nomeado como sambalanço em terras cariocas e samba-rock nas pistas de dança paulistas.
No Rio Grande do Sul, a rapaziada que se reunia no bairro Santana também desenvolvia um som similar. "Não foi um surgimento pensado, proposital, mas a partir de uma experiência prática desses músicos", avalia o pesquisador Mateus Mapa.
O suingue, denominação pela qual o estilo ficou conhecido no Estado, ganhou características locais, como influências da música latina, no grupo Pau Brasil, e a acentuação rítmica diferenciada de Luis Vagner, pautada também por instrumentos de sopro, como explica Mapa. "Se eu fosse citar características do suingue gaúcho seria na maneira de tocar desses músicos, que acabou virando um modelo para outros artistas que vieram depois", diz o pesquisador. Os arranjos, a escolha de instrumentos e as construções melódicas são outros fatores que ajudaram a formar o suingue.
Cada um com sua banda, os rapazes da Garotos da Orgia, juntamente com Luis Vagner - que viria, mais tarde, a se tornar conhecido nacionalmente em carreira solo -, fundaram as bases do suingue. Foi só a partir dos anos 1970, contudo, que o gênero viveu sua era de ouro no Brasil, década na qual os suingueiros rumaram para o Centro do País, não sem antes influenciar a criação de outras bandas no Estado.
Os bailes black foram fundamentais para a popularização do gênero, tanto no eixo Rio-São Paulo como também em Porto Alegre, os três principais berços do samba-rock no País. "São Paulo trouxe esse nome porque aconteciam os grandes bailes black. Aí começou a pintar o rock'n'roll, que é de origem negra, então os caras começaram a botar no baile deles. No Rio Grande do Sul, acredito que a levada era um pouco mais funk, mais devagar, mais suingada mesmo. E a dança aqui era mais semelhante à dança de salão", aponta DJ Piá.

Desbravando Sampa

DJ Piá explica que era em São Paulo que aconteciam os grandes bailes black

DJ Piá explica que era em São Paulo que aconteciam os grandes bailes black


CCMQ/DIVULGAÇÃO/JC
Com seus sonhos na mala e o futuro no olhar, Bedeu decidiu que era hora de traçar novos caminhos em São Paulo, onde as pistas de dança ferviam. Embora seu parceiro Luis Vagner já estivesse começando a ganhar reconhecimento na metrópole, Bedeu abriu sua própria trilha. Fez amizade com o grupo paulista Neno Exporta Som, com o qual gravou seu primeiro compacto, em 1971.
A música escolhida para a estreia foi Deixa a tristeza, um poema da amiga Delma Gonçalves musicado por ele. "Quando Bedeu chegou lá em casa com esse compacto foi um momento feliz, nos abraçamos e choramos", relembra. O otimismo e a cultura negra, duas das marcas da obra de Bedeu, já se encontravam presentes na letra de Delma: "Já raiou a liberdade/ Preconceito chega ao fim/ Eu sou negro de verdade/ Ninguém zomba mais de mim".
Ainda em Sampa, ele inscreveu a composição em um festival de rádio, moda na época. Mas ninguém esperava que fosse um momento traumatizante: levou nota zero dos jurados. Foi com esse episódio que nasceu Só que deram zero pro Bedeu, uma das músicas mais tocadas do samba-rock até hoje, composta pelo amigo Luis Vagner.
Para Delma, a exaltação da negritude presente na letra acabou desagradando. O compacto é considerado uma relíquia do gênero e virou item de colecionador. O festival foi o desfecho do primeiro capítulo da história de amor entre Bedeu e a cidade. "Isso fez com que ele voltasse para Porto Alegre, desencantado com o esforço que fazia e o pouco retorno", conta Mateus Mapa. A história de Bedeu com o samba-rock, no entanto, estava apenas começando.
Após um período de recuperação na Capital, motivado pela força da amiga Delma e pela homenagem de Luis Vagner, a paixão convocou Bedeu de volta ao sambalanço em 1974. Com a experiência de São Paulo, ele deu início a um novo projeto em terras gaúchas, com forte veia autoral e a vontade de viver profissionalmente de música: o Pau Brasil. Bedeu convidou os amigos dos tempos de Acadêmicos da Orgia e propôs criar um grupo, com construção musical coletiva. "Ele escolheu os caras, foi pegando um por um. Não tínhamos ideia do que seria, só que seria dentro do segmento samba. Mas o grupo acabou tendo uma característica própria dentro de como se executava o tal samba", relata Alexandre Rodrigues.
Essa maneira diferente de tocar era resultado muito do talento de cada músico, mas também da instrumentação da banda, que unia pandeiro e surdo a instrumentos como violão e baixo, típicos do rock'n'roll. A formação foi um reflexo direto das trajetórias musicais dos integrantes da banda, Bedeu, Leleco Telles, Alexandre Rodrigues, Nego Luis, Cy e Leco. Com atuação na bateria da escola de samba, boa parte do grupo também chegou a integrar bandas de rock nos anos 1960, quando o gênero passou a ser febre no Brasil com a jovem guarda.
Dessa mistura nasceu o suingue do Pau Brasil, marcado por um sotaque "alatinado", conforme Rodrigues. O músico destaca a liderança de Bedeu na formação e na direção musical, além da proposta de irem ao Centro do País: "O Pau Brasil foi onde ele mais colocou a sua digital. O grupo é a imagem e a semelhança de Bedeu". Com bom repertório, o músico voltava a São Paulo, ao lado de um time afinado.
 

Suingue tipo exportação

Parceria com Luis Vagner originou canções como Saudades de Jackson do Pandeiro

Parceria com Luis Vagner originou canções como Saudades de Jackson do Pandeiro


ACERVO PESSOAL ALEX MARX/DIVULGAÇÃO/JC
"Quando começamos a tocar, a pista ficava vazia, porque ninguém entendia. Fazíamos um som nosso, inclusive até covers já entravam dentro da nossa característica", conta Alexandre Rodrigues, sobre as primeiras semanas em São Paulo. Nessa época, os músicos moravam todos juntos em um apartamento e dependiam dos cachês dos bailes para viver.
Apesar do começo difícil, não demorou para os rumos mudarem a favor deles. "Aos poucos, a gente começou a ver que músicos de outras casas ali ao lado vinham nos ver tocar. A gente sabia que tinha alguma coisa acontecendo de diferente", lembra Rodrigues.
Quanto à musicalidade do samba-rock, a banda viveu uma relação recíproca de influência e amizade com alguns dos principais grupos da época, como Os Originais do Samba, que regravaram algumas composições do Pau Brasil. Enquanto Bedeu e seus companheiros incluíram no grupo a timba, instrumento que já era tocado pelo Trio Mocotó, por exemplo, os gaúchos inovaram ao dar destaque para a percussão nas composições, além do cuidado com os arranjos vocais, estética que virou referência para outros músicos.
Com o sucesso, logo vieram dois LPs que fizeram parte da trilha sonora dos bailes de São Paulo e que, hoje, chegam a custar mais de R$ 200,00 em lojas físicas e virtuais. O samba e suas origens, lançado em 1978, é considerado por especialistas o principal álbum do suingue de Porto Alegre. O disco chamou a atenção pelo molho que o grupo acrescentou ao gênero, com ingredientes de uma percussão diferenciada, vocais mais complexos e um toque à la rock britânico. Com composições sempre em parceria entre Bedeu e Leleco ou Alexandre, o álbum trazia algumas experimentações, adicionando toques de baião, forró e bolero.
O romantismo, as coisas boas da vida (uma marca do grupo presente em músicas como Grama verde) e a exaltação ao Brasil compõem as principais temáticas desta fase, que continuou com o disco seguinte, Pau Brasil (1979). O LP, que teve nova formação, com Marco Farias e Paulo Romeu, foi marcado pelo início da separação do grupo, mas rendeu hits como Kid Brilhantina, sucesso na voz de Branca di Neve.
Hits não faltaram entre as composições do músico e seus parceiros, inclusive com Luis Vagner, amizade que originou canções como Saudades de Jackson do Pandeiro. O pesquisador Mateus Mapa identificou mais de 40 composições de Bedeu regravadas por diversos grupos e músicos brasileiros - entre eles Wilson Simonal, Os Originais do Samba, Branca di neve, Jair Rodrigues, Fernanda Abreu e Bebeto, seu principal intérprete. Cantor de Menina Carolina, Minha preta e Nega Olívia, Bebeto defende que ele, Luis Vagner e o Pau Brasil constituem o início do gênero. "O samba-rock era um elo perdido na música popular brasileira", avalia o artista, que também chegou a compor com Bedeu.

Um guerreiro africano

Disco de 1983 trazia composições em homenagem à África e à negritude

Disco de 1983 trazia composições em homenagem à África e à negritude


ACERVO PESSOAL ALEX MARX/DIVULGAÇÃO/JC
Como vida de músico não é fácil, os integrantes da Pau Brasil enfrentavam dificuldades, e parte da banda decidiu voltar para Porto Alegre no final da década. Após a gravação do segundo LP, já com nova formação, a ruptura do grupo foi natural.
Os compositores Leleco Telles, Alexandre e Bedeu continuaram criando juntos e trilhando paralelamente seus próprios caminhos no eixo Rio-São Paulo. Era década de 1980, Bedeu era considerado, na cena paulista, como um dos principais músicos do samba-rock, ainda que seu reconhecimento ficasse mais restrito à atuação como compositor. Mesmo assim, a carreira solo mostrou possibilidades e o lançamento de três álbuns. O primeiro deles, África no fundo do quintal (1983), trazia parcerias com outros músicos, inclusive Delma Gonçalves, diversas composições em homenagem à África e à negritude, além de novas versões de alguns de seus sucessos.
"Bedeu ficava indignado com essas questões de negritude, porque não tínhamos espaço aqui, davam espaço para tudo, mas para o samba-rock era muito limitado. No nosso reduto, quem entrava sabia o valor", afirma Delma. Para Marco Mattoli, "Bedeu e toda essa turma criativa de cultura negra no Rio Grande do Sul foram fundamentais, não só para o samba-rock, mas para a música brasileira".
Apesar da consolidação do compositor na cena nacional, amigos lamentam a pouca valorização de sua obra em terras gaúchas. "O Sul tem um problema sério, que é a questão de não consumir a própria cultura popular, a não ser a tradicionalista. Então Bedeu é a resistência, é a revolução, é a matriz", defende Paulo Dionísio, da Produto Nacional, cujo primeiro álbum foi produzido por Bedeu.
Vocalista da Ultramen, que regravou Grama verde, Tonho Crocco concorda: "Eles são uma das referências no capítulo que for escrito de black music, samba-rock, suingue e world music".
O pesquisador Mateus Mapa destaca que a primeira geração de suingueiros influenciou uma cena efervescente no Estado, com o surgimento de bandas como Senzala, Evolução, Sem Comentários e Pagode do Dorinho, um movimento de samba-rock que perdurou até os anos 2000 em espaços como Floresta Aurora e Satélite Prontidão, além de bares da Cidade Baixa. Bedeu acompanhou toda essa movimentação, pois voltou a Porto Alegre nos anos 1990, inclusive gravando seu último álbum, Swing popular brasileiro (1998), na cidade.
"Bedeu só foi valorizado no ano que faleceu. Mas, aos pouquinhos, o pessoal está nos enxergando. É um estilo nosso, tem que ser mais visto, reconhecido", diz Delma. Em 1998, ele recebeu o Destaque do Prêmio Açorianos.
A amiga conta que eles tinham planos de trabalharem juntos, mas não houve tempo. O músico morreu no ano seguinte, por complicações da diabetes, pouco depois de um grande show organizado no Auditório Araújo Vianna, com o objetivo de arrecadar recursos para seu tratamento.

O samba-rock vive

Clube do Balanço tem o músico gaúcho como uma de suas referências

Clube do Balanço tem o músico gaúcho como uma de suas referências


JOÃO FURLAN/DIVULGAÇÃO/JC
A partir dos anos 2000, a obra de Bedeu foi resgatada pelo Clube do Balanço, que tem o músico gaúcho como uma de suas referências, e pelo grande sucesso que Grama verde alcançou com a Ultramen. Ainda assim, DJ Piá lamenta que pouco se conheça dele entre o grande público: "Toco a gravação de Bedeu para Grama verde e muita gente não sabe quem está cantando".
Quem cuida do acervo de Bedeu hoje é o sobrinho Alex Marx, que aprendeu a tocar violão com o tio. Ele conta que guarda cerca de 50 composições inéditas de autoria solo: "Foi ele quem me colocou na música, mas tive que seguir sozinho, ele me fez prometer que não ia parar".
Nas últimas duas décadas, o gênero passou por muitas transformações, com novas bandas, como Casa da Sogra, mas voltou-se para um público especializado, mais como uma música de nicho. DJ Piá lembra das décadas de ouro em casas como Satélite Prontidão e Ypiranguinha, e ressalta a perda de espaço: "Cada estilo musical tem uma raiz, essa raiz tem que ser preservada, e, em certos momentos, o grande público assimila. Só que o gueto do samba-rock não existe mais". Porém o legado de Bedeu está presente em bandas gaúchas como Zamba Bem, Calote e Suinga Brasil.
Já em São Paulo, o gênero foi registrado como patrimônio imaterial e segue fortalecido, principalmente na cultura dos bailes, observam Bebeto e Marco Mattoli. "O samba-rock se mantém onde sempre esteve, na quebrada, na periferia. Talvez com menos visibilidade na mídia, mas não significa que não existam criadores", explica Mattoli, que vê a ancestralidade do gênero primordial na atuação do Clube do Balanço, há 20 anos.
Já Tonho Crocco acredita que o estilo acabou se diluindo, assimilado na diversidade da MPB, com nomes como Seu Jorge: "Mas a cena continua forte, é um gênero que tem que ser respeitado sempre".
 

* Thaís Segranfredo é jornalista formada pela Ufrgs, editora do site Nonada – Jornalismo Travessia e sócia-diretora da agência Riobaldo.