O incêndio que atingiu na semana passada o Centro Histórico de Porto Alegre reacende um debate que acompanha a cidade: os limites da infraestrutura de emergência, especialmente no que diz respeito à prevenção e ao combate a incêndios em áreas de grande movimentação. A dificuldade de acesso das equipes do Corpo de Bombeiros ao local, agravada por obstáculos físicos e pela configuração das vias, expôs novamente a vulnerabilidade estrutural de uma região que concentra imóveis mais antigos e grande circulação diária, tanto de pedestres quanto de veículos. Nas últimas duas décadas, a capital gaúcha foi palco de episódios semelhantes, alguns de proporções ainda maiores.
O incêndio no Mercado Público, em 2013, destruiu parte de um dos principais símbolos da cidade e revelou falhas na manutenção e no plano de prevenção, que estava vencido à época. O fogo que consumiu a antiga sede da Secretaria de Segurança Pública, em 2021, resultou na morte de dois bombeiros e na demolição do prédio. Ambos os casos deixaram lições que, aparentemente, ainda não se transformaram em ações permanentes.
A ocorrência do sinistro da semana passada levanta diferentes questões, entre elas o aparelhamento do Corpo de Bombeiros. A corporação conta com apenas dois caminhões equipados com escadas para alcançar locais mais altos, e o da Capital estava em manutenção na ocasião. Além disso, a fiscalização dos Planos de Prevenção e Proteção Contra Incêndios (PPCI) enfrenta limitações e flexibilizações que podem colocar em risco a segurança das edificações e da população.
Também é necessário repensar o planejamento urbano da cidade em áreas de difícil acesso, de tráfego intenso e ocupação desordenada que podem comprometer a atuação dos Bombeiros. Calçadas estreitas, postes e estruturas fixas nas vias podem reduzir o espaço para o posicionamento das viaturas e o avanço das equipes. Garantir acesso livre a equipamentos como hidrantes e manter as rotas de emergência desobstruídas são medidas simples, mas decisivas para a eficiência da resposta.
O mais recente incêndio no coração de Porto Alegre reforça que a prevenção é sempre o caminho mais eficiente. A cidade que valoriza seu passado precisa, ao mesmo tempo, assegurar condições para preservá-lo. Evitar que tragédias se repitam exige compromisso contínuo com planejamento, fiscalização, infraestrutura e investimentos.