As novas regras de imigração, aprovadas recentemente em Portugal, inserem o país em um movimento de revisão das políticas migratórias ao redor do mundo. A redução de vistos, o endurecimento dos critérios para naturalização e a restrição ao reagrupamento familiar sinalizam uma mudança. Após décadas de políticas de acolhimento e atração de mão de obra e da expansão migratória, diversos países estão adotando um modelo mais seletivo, centrado na qualificação profissional.
Embora cada nação tenha suas particularidades, o contexto é global. Canadá, Reino Unido e Suécia, por exemplo, também reavaliam seus programas de imigração. O tema voltou ao centro do debate político em vários desses países, impulsionado por tensões sociais e pelo aumento do custo de vida. Os governos alegam que as mudanças são motivadas por pressões sobre habitação, serviços públicos e mercado de trabalho. As estratégias de rejuvenescimento das populações e estímulo econômico perderam espaço.
A decisão portuguesa ocorre em meio a uma alta expressiva da presença estrangeira no país, que chegou a 1,544 milhão no final de 2024, segundo os dados da Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA). O número abrange pessoas com títulos de residência válidos, processo de regularização em curso ou autorizações emitidas por regimes específicos. Os brasileiros formavam o maior contingente entre os estrangeiros vivendo em Portugal, com 484,5 mil pessoas com autorização de residência (31,4% do total). Os indianos eram o segundo grupo, com 96.616 pessoas.
Embora a chegada de cidadãos de diferentes nacionalidades tenha contribuído para a atividade econômica portuguesa, sobretudo nos setores de serviços, construção e turismo, ela também trouxe desafios. O aumento da demanda por moradia e por serviços públicos, sobretudo em Lisboa e no Porto, impôs limites ao país. As mudanças nas regras de imigração procuram responder a esse quadro, reforçando os mecanismos de controle e priorizando a entrada de profissionais qualificados.
O desafio comum a Portugal e a outras nações é compatibilizar a necessidade de trabalhadores estrangeiros com a capacidade de absorção dos países de destino. As alterações recentes não significam o fechamento de fronteiras, mas a tentativa de torná-las mais seletivas. O equilíbrio entre oportunidade e controle será decisivo para definir o futuro dos fluxos migratórios e sua influência sobre o desenvolvimento global.