Espetáculo musical literário que se propõe a acalmar a mente, Sereno canto será apresentado neste sábado (8), dentro da programação do 26º Porto Verão Alegre. Direcionada a crianças, jovens e adultos, a montagem contará com duas sessões (às 16h e às 19h) no Instituto Ling (rua João Caetano, 440). Os ingressos custam entre R$ 21,00 e R$ 60,00 e estão à venda pelo site do Festival.
Idealizado pelo músico e compositor Thiago Ramil, Sereno canto percorre narrativas, canções de acalanto e paisagens sonoras com sons de pássaros, de água corrente, de matas e florestas, entre outras. Acompanhado dos contadores de histórias Raul Jung e Pedro Bertoldi, o artista se utiliza de violão e voz para apresentar os registros que compõem a primeira série de podcasts lançada pelo projeto em 2023.
"Em 2024, também fizemos um livro digital e um álbum visual, reunindo sete histórias e as canções que as acompanham", detalha o compositor, emendando que uma das narrativas de Sereno canto foi criada por ele em parceria com Jung e as demais são de autoria de outros seis convidados: a mestra indígena do povo Kaingang Iracema Gah Teh, a musicista Clarissa Ferreira, o educador social Maurício Alves, a mestre indígena Mbyá-Guarani Ara Poty, o dramaturgo Pedro Bertoldi e a assistente social, mestra e coreógrafa do grupo de dança Afro-Sul Odomodê Iara Deodoro (falecida em setembro do ano passado).
Entre as canções – cinco delas compostas por Ramil –, o trabalho ainda conta com a participação da artista musical Gutcha Ramil e do cantor, compositor e percussionista Dona Conceição, que assinam com o autor do projeto a faixa Pequeno general, que embala a narrativa Lanceirinhos negros (de autoria de Iara). "A canção da história indígena Sórêg é assinada pela própria autora (Iracema), assim como acontece também com a narrativa A vaca (inspirada em uma das poesias do escritor Mário Quintana), que é de autoria de Clarissa: neste caso, ela assina também a letra da música, em parceria com Marília Kosby", destaca Ramil.
Valorizando a diversidade social, étnica e racial brasileiras, com foco na cultura popular, Sereno canto ainda transita pelo universo de outras histórias, como Amazônia, de Bertoldi; Aurora e Qamar, entre o sol e o luar - de Alves; Príncipe Tatulita, de Ara Poty; e As lágrimas coloridas de uma árvore falante, escrita por Ramil em parceria com Raul Jung. "Essa história fala sobre uma menina que acreditava não precisar dormir. Depois de uma noite em claro, ela adormece no caminho da escola e, no sonho, se depara com uma grande árvore que, ao cair do sereno, deixa pingar 'lágrimas coloridas' de suas folhas. Cada cor representa uma emoção", conta o artista, que também é formado em Psicologia.
O idealizador de Sereno canto observa que As lágrimas coloridas de uma árvore falante, que será narrada na íntegra durante o espetáculo, também é uma alusão ao próprio projeto, que surgiu após uma extensa pesquisa que ele realizou ao lado de Jung, que também é psicólogo. "Por muito tempo, nós dois realizamos, juntos, atividades semanais em casas de acolhimento de crianças afastadas de seus laços familiares", explica o artista. "Naquele período, contávamos histórias e tocávamos canções de ninar, para elas dormirem", emenda.
Ramil pontua que descobriu no acalanto um dispositivo no auxílio à saúde mental e na preparação para o sono das crianças, e sublinha que a ideia dos podcasts surgiu após a necessidade de reformular a proposta por conta do isolamento social durante a pandemia de Covid-19. "Encontramos, nesse modelo, uma forma de seguir com as atividades. Durante dois anos, realizamos este trabalho neste formato e compartilhávamos com a rede de acolhimento e, depois, com a ONg Calábria, que atende também escolas de educação infantil." Segundo o artista, atualmente a dupla segue visitando as instituições, mensalmente.
Criando um universo onde a sonoridade e a história se entrelaçam para embalar a plateia em uma jornada de sossego e reflexão, o espetáculo que será apresentado neste sábado também conquistou o público acima de 60 anos, recentemente. "Fizemos uma apresentação linda no Theatro São Pedro, onde contamos também com uma plateia formada por residentes de uma instituição/lar de idosos", comenta Ramil. Ele conta que, no início de cada apresentação, o elenco faz uma introdução da dinâmica do acalando aos expectadores.
"Mantemos uma voz mais sussurrada, a luminosidade mais baixa, e pedimos que não aplaudam durante o espetáculo, para manter essa dinâmica. A ideia é que se alguém vier a dormir durante a peça, fique bem à vontade – a gente fica até satisfeito, no caso de isso acontecer. O espetáculo é um convite a serenar os pensamentos", reforça o artista.