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Consciência Negra

- Publicada em 20 de Novembro de 2022 às 19:14

Oliveira Silveira ganha documentário e memorial na Casa de Cultura Mario Quintana

Memorial que reúne, em mostra permanente, objetos, livros e fotos e do escritor

Memorial que reúne, em mostra permanente, objetos, livros e fotos e do escritor


Gisa Oliveira/Divulgação/JC
Diego Nuñez
Este 20 de novembro, Dia da Consciência Negra em todo território brasileiro, foi dia também de homenagear a história e a obra de Oliveira Silveira, poeta gaúcho ligado ao movimento negro que foi o responsável por tornar a data um símbolo nacional de luta e resistência.
Este 20 de novembro, Dia da Consciência Negra em todo território brasileiro, foi dia também de homenagear a história e a obra de Oliveira Silveira, poeta gaúcho ligado ao movimento negro que foi o responsável por tornar a data um símbolo nacional de luta e resistência.
Há um ano, no aniversário de 50 anos do Dia da Consciência Negra, Silveira já havia ganhado um espaço dedicado a ele na Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ). Agora, o espaço ganha também um memorial que reúne, em mostra permanente, objetos, livros, fotos e outros itens que pertenceram ao escritor e foram doados pela filha, Naiara Silveira. O local também recebe um texto de apresentação produzido pelo arte-educador Gabriel Faryas.
“O Oliveira vivia na Casa de Cultura. Amava esse lugar. Aqui, ele tinha encontros com o Mario Quintana. Esse era o espaço de sonho do Oliveira, e por isso é muito significativo que esteja sendo realizado aqui este momento”, afirma a pesquisadora, professora da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) e biógrafa de Silveira, Sátira Machado.
A Casa de Cultura também foi o local da pré-estreia do documentário Oliveira Silveira, o poeta da consciência negra, dirigido pela cineasta Camila de Moraes. Com imagens inéditas, o curta-metragem de cerca de 25 minutos busca mostrar o lado artístico do poeta ativista e mostra como, através da arte, Silveira manteve viva a cultura afrobrasileira em Porto Alegre e do País.
“A proposta é um documentário que fala mais da obra poética do Oliveira, porque ele atuava em diversos locais. Acho que nem um longa daria conta de contar toda a história dele. A gente traz um trecho muito pequeno da vida dele através das obras poéticas. Em cada escrita dele, ele vem nos trazendo como lutar e preservar toda nossa dignidade enquanto pessoas negras. Por meio dessa escrita, a gente vai entendendo quem era esse homem, o que ele fez por nós, e acho muito importante ter esse registro”, declara a cineasta Camila de Moraes.
O documentário reúne imagens inéditas de Silveira, tanto em fotografia como vídeos. O enfoque é a participação do poeta na literatura negra, como alguém que perpetua essa vertente na literatura brasileira.
Além de poeta e escritor, Oliveira era ativista. Foi a partir da mobilização, do trabalho e da pesquisa do artista que surgiu a data de 20 de novembro, aniversário de morte de Zumbi dos Palmares, como o dia da consciência negra no Brasil.
“A gente está falando de uma personalidade muito importante para a sociedade brasileira. Além de toda a sua atuação para que nós, pessoas negras, pudéssemos viver na sociedade com condições mais dignas, ele também é o cara que pesquisou a data do 20 de novembro e, junto com o Grupo Palmares, conseguiu instituir no País o dia da consciência negra. É muito importante que mais pessoas para além do Rio Grande do Sul saibam dessa atuação do Oliveira Silveira”, afirma Moraes.
A fala é corroborada pela pesquisadora Sátira Machado: “É importante que as pessoas saibam que é daqui do Rio Grande do Sul o 20 novembro, porque as pessoas ainda não sabem. É importante mostrar que é do Rio Grande do Sul porque dizem que não tem negro aqui”, protesta a biógrafa.
E tem preto no sul. Oliveira Silveira lutava insistentemente pela cultura negra do Brasil. Na poesia Obrigado, minha terra, de 1997, fala sobre a relação da sua cor e da sua terra:
Obrigado rios de São Pedro
pelo peso da água em meu remo.
Feitorias do linho-cânhamo
obrigado pelos lanhos.
Obrigado loiro trigo
pelo contraste comigo.
Obrigado lavoura
pelas vergas no meu couro.
Obrigado charqueadas
por minhas feridas salgadas.
Te agradeço Rio Grande
o doce e o amargo
pelos quais te fiz meu pago
e as fronteiras fraternas
por onde busquei outras terras.
Agradeço teu peso em meus ombros
músculos braços e lombo.
Por ser linha de frente no perigo
lanceando teus inimigos.
Muito obrigado pelo ditado
“negro em posição é encrenca no galpão”.
Obrigado pelo preconceito
com que até hoje me aceitas.
Muito obrigado pela cor do emprego
que não me dás porque sou negro.
E pelo torto direito
de te nomear pelos defeitos.
Tens o lado bom também
- terra natal sempre tem.
Agradeço de todo o coração
e sem nenhum perdão.
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