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Teatro

- Publicada em 01 de Dezembro de 2022 às 19:02

Encantador e mágico

Antonio Hohlfeldt
Realizar um espetáculo com a clássica ópera A flauta mágica, de Mozart, é sempre um enorme desafio. Mas a Companhia de Ópera do Rio Grande do Sul resolveu enfrentar esta empreitada. Tivemos uma primeira versão, em outubro, apresentada ao piano, apenas. Esta tipo de alternativa não é nenhuma novidade e lembro que, ainda nos anos 1970, tive oportunidade de assistir, em Toronto, no Canadá, a uma versão semelhante de Madame Butterfly, com excelente resultado. Mais recentemente, o maestro Evandro Matté resolveu juntar os esforços da Companhia de Ópera com os da Orquestra Theatro São Pedro, e o resultado podemos conferir em duas récitas que ocorreram recentemente, agora com uma orquestra de câmara, o que aliás, é muito compatível com a época do próprio Mozart. O resultado foi entusiasmante: certamente, a responsabilidade do maestro foi a seleção de árias e passagens de recitativos das mais conhecidas e queridas pelo público, eliminando-se os grandes corais. O diretor de cena Carlos Rodriguez ficou responsável pela vitalidade cênica do espetáculo. A solução encontrada foi inteligente e chega a excelentes resultados: projeções num telão do fundo do palco criam os climas e ambientes em que ocorrem as árias. Mais que isso, agregou-se um narrador fisicamente presente, que antecipa e explica as cenas que serão desenvolvidas em cena. Neste caso, escolheu-se o próprio autor do libreto que orientou a obra, Emanuel Schikaneder, como Mozart, também integrante da loja maçônica alemã. Como se sabe, A flauta mágica é marcada por um fantasioso enredo que, ao mesmo tempo, atualiza e utiliza símbolos maçônicos ainda hoje presentes naquela instituição.
Realizar um espetáculo com a clássica ópera A flauta mágica, de Mozart, é sempre um enorme desafio. Mas a Companhia de Ópera do Rio Grande do Sul resolveu enfrentar esta empreitada. Tivemos uma primeira versão, em outubro, apresentada ao piano, apenas. Esta tipo de alternativa não é nenhuma novidade e lembro que, ainda nos anos 1970, tive oportunidade de assistir, em Toronto, no Canadá, a uma versão semelhante de Madame Butterfly, com excelente resultado. Mais recentemente, o maestro Evandro Matté resolveu juntar os esforços da Companhia de Ópera com os da Orquestra Theatro São Pedro, e o resultado podemos conferir em duas récitas que ocorreram recentemente, agora com uma orquestra de câmara, o que aliás, é muito compatível com a época do próprio Mozart. O resultado foi entusiasmante: certamente, a responsabilidade do maestro foi a seleção de árias e passagens de recitativos das mais conhecidas e queridas pelo público, eliminando-se os grandes corais. O diretor de cena Carlos Rodriguez ficou responsável pela vitalidade cênica do espetáculo. A solução encontrada foi inteligente e chega a excelentes resultados: projeções num telão do fundo do palco criam os climas e ambientes em que ocorrem as árias. Mais que isso, agregou-se um narrador fisicamente presente, que antecipa e explica as cenas que serão desenvolvidas em cena. Neste caso, escolheu-se o próprio autor do libreto que orientou a obra, Emanuel Schikaneder, como Mozart, também integrante da loja maçônica alemã. Como se sabe, A flauta mágica é marcada por um fantasioso enredo que, ao mesmo tempo, atualiza e utiliza símbolos maçônicos ainda hoje presentes naquela instituição.
A figura de Shakaneder encarrega-se de atualizar a linguagem, tendência que Matté vem desenvolvendo ao longo de seus espetáculos, com excelentes resultados, na medida em que dessacraliza a ópera sem diminuir-lhe os méritos musicais. A encenação é minimalista, uma vez mais: pequenos adereços, uma iluminação eficiente de Veridiana Matos, que bem se acomoda com a projeção das imagens no telão, coreografia de Raul Vages e um figurino sugestivo, que deve utilizar peças preexistentes de outras montagens, e cuja autoria, infelizmente, inexiste no programa da peça.
O espetáculo foi dividido em dois "atos". No primeiro, com nove árias e recitativos, praticamente seguiu-se passo a passo a versão original, cobrindo cerca dos dois primeiros atos da obra original. Interpretações corretas, apresentação de personagens e de relações dramáticas que serão desdobradas e resolvidas nos atos seguintes (o enredo da obra é extremamente complexo, e quem surge como "mocinho" da história, como a Rainha da Noite, acaba se revelando "bandido" no decorrer da obra). O que temos é uma proposta iluminista a respeito da humanidade e das relações de poder, através da disputa entre Sarastro e a Rainha da Noite. Neste sentido, o figurino valorizou corretamente a cor preta, já que boa parte da ação envolve personagens vinculadas ao mundo das trevas.
É o segundo ato, ou segunda parte, no entanto, que reserva os melhores momentos: são as melhores árias, dentre as quais a desafiadora Der Hölle Rache kocht in menem Herzen, com sua extensão radical entre agudos e graves e o ritmo stacatto, de que a soprano Dêizi Nascimento se saiu muito bem. Aliás, Evandro Matté mais uma vez surpreende trazendo cantores muito jovens, distantes da velha e ultrapassada estampa das primas donas, e que possuem vozes, tonalidades e qualidades sonoras admiráveis, como a soprano Débora Faustino, que interpreta a jovem Pamina, e o escravo Monostatos, um excelente barítono cujo nome, infelizmente, não vem registrado no programa do espetáculo. O príncipe Tamino, que deveria ser o herói da obra, interpretado por Roger Scarton, não chega a ter maior projeção, mas em compensação, Papageno, o caçador de pássaros, figura desde logo simpática e vinculada às tradições populares da Floresta Negra, interpretado pelo baixo-barítono Guilherme Roman, rouba a cena sempre que nela presente.
O teatro esteve lotado nas duas récitas e creio que, se mais apresentações houvessem, mais público acorreria a elas. Embora difícil na sua interpretação, complexa em seu enredo, quase secreta em suas relações ideológicas, A flauta mágica, justamente graças à magicidade da melodia de Mozart, é das óperas mais populares e mais conhecidas no mundo inteiro. Terminam assim, Companhia de Ópera do Rio Grande do Sul, e Orquestra Theatro São Pedro, sua temporada em alta. Devemos aguardar, agora, os anúncios para a próxima temporada.
 
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